quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Paul Motian - "Conception Vessel"


Paul Motian
"Conception Vessel"
ECM 1028
ECM Records
1973

Paul Motian – percussion.
Keith Jarrett – piano, flute.
Charlie Haden – bass.
Sam Bromn – guitar.
Leroy Jenkins – violin.
Becky Friend – flute.

1 – Georgian Bay – 7:28
2 – Ch’I Energy – 2:34
3 – Rebica – 11:11
4 – Conception Vessell – 7:44
5 – American Indian: Song of Sitting Bull – 2:41
6 – Inspiration From a Vietnamese Lullaby – 9:41

Paul Motian

Paul Motian nasceu em Filadélfia a 25 de Março de 1931 e começou a tocar bateria aos 12 anos de idade, tendo surgido no circuito do jazz ao lado do pianista Thelonious Monk em 1954, participando mais tarde (1959/1964) nos trios de Bill Evans e de Paul Bley (1963/1964). Quando Keith Jarrett surgiu a gravar em nome próprio, acompanhou o pianista nessa aventura de 1967 a 1976, fazendo também parte do célebre quarteto americano.

Quando a ECM surgiu no mercado, na década de setenta, foi um dos primeiros músicos a participar nesse projecto de jazz europeu, gravando em 1973 o seu primeiro álbum como líder, intitulado “Conception Vessel”.

Keith Jarrett

Em “Conception Vessel”, Paul Motian oferece-nos seis temas, todos eles bastante distintos, mas que nos permitem ter um belo retrato do universo do baterista, que também assina a totalidade dos temas.

“Georgian Bay”, o tema de abertura, tem Paul Motian acompanhado por Charlie Haden no contrabaixo e Sam Brown na guitarra acústica, percorrendo paisagens próximas das raízes dos blues.

Charlie Haden

Já em “Ch’I Energy” encontramos Motian em solo absoluto, demonstrando todo o seu poder criativo.
Em “Rebica”, voltamos a ter o trio do primeiro tema, com Sam Brown na guitarra eléctrica, navegando de forma perfeita no seu swing bem característico.

Ao chegarmos aos temas “Conception Vessel”, que dá título ao álbum e “American Indian: Song of Sitting Bull”, descobrimos Paul Motian em dois duetos bem diferentes com Keith Jarrett, já que no primeiro Jarrett apenas toca flauta, invadindo as raízes da música popular, enquanto no segundo o encontramos no piano, onde o diálogo piano versus bateria é soberbo e repleto de melancolia, antecedendo de certa forma os duetos que ambos os músicos irão desenvolver nos espectáculos ao vivo do quarteto americano liderado por Keith Jarrett.

Sam Brown

A fechar o álbum, descobrimos “Inspiration From a Vietnamese Lullaby”, onde a então desconhecida World Music encontra o jazz, através da flauta de Becky Friend e o violino de Leroy Jenkins, acompanhados pela pontuação do contrabaixo de Charlie Haden e a bateria de Paul Motian, que usa como ninguém a percussão e as suas célebres vassouras, sendo de uma beleza absoluta o diálogo entre a flauta e o violino.

Leroy Jenkins

“Conception Vessel”, o primeiro trabalho de Paul Motian como líder, convida-nos a visitar as raízes da música popular e o seu estimável encontro com o jazz, em mais um excelente trabalho de produção do alemão Manfred Eicher. Gravado a 25 e 26 de Novembro de 1972 no Butterfly and Sound Ideas Studios, New York City, por George Klabin, misturado por Martin Wieland e Produzido por Manfred Eicher. Design de B & B Wojirsch e Fotografias de Paul Motian e A. Raggenbass.

Becky Friend

Todos os temas do álbum “Conception Vessell” são da autoria de Paul Motian. O álbum “Conception Vessell” irá também ser editado na colecção discográfica da editora alemã intitulada “ECM Touchstones Series” de baixo custo, , assim como irá surgir na box set da série “Old and New Masters”, ECM 2260/65, que foi editada após o falecimento do músico e que reúne seis dos seus trabalhos como líder.

Keith Jarrett toca nos temas 4 (piano) e 5 (flute); Charlie Haden surge nos temas 1,3 e 6; Sam Brown toca nos temas 1 e 3; Leroy Jenkins e Becky Friend colaboram no tema 6.

Rui Luís Lima

Lápis Viarco nº2


Lápis Viarco nº2
Preço: 1$00 (dez tostões)
Ano: 1968

Aqui aparecem afiados. mas geralmente tinha de ser a malta a afiar o lápis.

TV Séries - "Rebecca"


"Rebecca"
Charles Dance, Emilia Fox, Diana Rigg, Geraldine James, Jonathan Cake.
Realização: Jim O'Brien
Mini-Série: Episódios 2
Ano: 1997

Uma mini-série bem realizada e com excelentes interpretações,com um elenco de luxo, que não deixa os seus créditos por mãos alheias, mas que não nos faz esquecer a obra-prima de Alfred Hitchcock,

Rui Luís Lima

Peter Handke - “A Tarde de um Escritor” / “Nachmittag eines Schriftstellars”


Peter Handke
“A Tarde de um Escritor” / “Nachmittag eines Schriftstellars”
Páginas: 90
Editorial Presença

Quando escutamos alguém a falar no nome de Peter Handke, de imediato surgem na nossa memória as películas de Wim Wenders nascidas a partir dos argumentos desta voz singular da denominada nova literatura alemã, em que a solidão é tantas vezes personagem, basta recordar filmes como “As Asas dos Desejo”, “Movimento em Falso”, “A Mulher Canhota” ou “A Angustia do Guarda-Redes Perante o Penalty”, estes dois últimos nascidos primeiro no formato de novela e só depois transformados em argumento cinematográfico.

Peter Handke, ao longo dos anos, tem trabalhado a palavra através de uma actividade ímpar, que tem alternado entre a literatura, o teatro e o cinema, recorde-se que também ele já realizou quatro películas. Mas o que nos interessa aqui é precisamente o seu trabalho literário, mais concretamente o livro “A Tarde de um Escritor”, que surge dedicado a Francis Scott Fitzgerald e onde a solidão humana se encontra bem presente, ou não fosse essa mesma solidão a oficina ideal do escritor, como um dia referiu Paul Auster numa entrevista.

Em “A Tarde de um Escritor” iremos descobrir uma profunda reflexão sobre a existência humana nas sociedades contemporâneas, essa difícil arte de existir tantas vezes incógnito no interior da sua própria escrita, oferecendo sempre um pouco de si mesmo às personagens que vai criando, até chegar esse momento em que a ficção e a realidade se diluem de forma perfeita nas palavras que vai construindo, em busca dessa linguagem que aquece os dias matando o frio das pequenas solidões.

Rui Luís Lima

Peter Handke

«Desde que, durante quase um ano, o escritor viveu com a ideia de ter perdido a língua, cada frase que escrevia, sentindo ainda por cima o ímpeto da possível continuação, era para ele um acontecimento. Cada palavra que, não dita, mas escrita, dava origem à outra palavra, fazia-o respirar fundo e ligava-o de novo ao mundo; só com esse apontamento feliz começava para ele o dia, e então também bem podia ser que nada mais acontecesse até à manhã seguinte.» (...)

(...) «O escritor já ía a meio caminho do portão do jardim, quando de repente se voltou.
Correu para dentro de casa, precipitou-se lá para cima para o quarto de trabalho e substituiu uma palavra por outra. Só agora sentia no quarto o cheiro do suor e via a humidade nos vidros.
De repente deixou de ter tanta pressa. De repente devido a essa nova palavra, toda a casa vazia deu a impressão de calor e de bem-estar.»(...)

Peter Handke
in "A Tarde de Um Escritor"

Lester Cockney - “A Ruptura” / "Oregon Trail"


Lester Cockney
“A Ruptura” / “La Déchirure”
"Oregon Trail" / "Oregon Trail"
Arte: Franz
Argumento: Franz
Colecção: Clássicos da Revista Tintin nº.12
Páginas: 96
Álbum: Asa / Público

Esta edição do jornal “Público” e da editora Asa das aventuras de Lester Cockney é sempre de saudar e vem colmatar uma lacuna na edição de álbuns de banda desenhada deste herói criado por Franz.

Rui Luís Lima

Claude Monet - "L'église Saint-Germain l'Auxerrois"


Claude Monet
"L'église Saint-Germain l'Auxerrois"
Óleo sobre tela
79 x 98 cm.
Ano: 1867
Alte Nationalgalerie, Berlin.

Paul Schrader - "Mishima" / "Mishima: A Life in Four Chapters"


Paul Schrader
"Mishima" / "Mishima: A Life in Four Chapters"
(EUA - 1985) - (121 min. - P/B - Cor)
Ken Ogata, Masayuki Shionoya, Junya Fukuda, Hiroshi Mikami.

Paul Schrader é oriundo da família cinematográfica de Martin Scorsese, sendo o argumentista de "Taxi Driver", "Touro Enraivecido" / "Raging Bull" e "A Última Tentação de Cristo" / "The Last Tentation of Christ", mas também de "Yakuza" de Sidney Pollack ou "Obsession" de Brian de Palma, entre outros. Este homem, nascido em 1946 em Grand Rapids no Michigan, iniciou-se no cinema através da crítica. De formação universitária, escreveu um ensaio que ficou famoso sobre Ozu, Bresson e Dreyer. Mas a carreira de argumentista não iria poder viver sem o cineasta e a passagem a realizador não se fez esperar.


Possuindo um olhar muito crítico sobre a sociedade norte-americana e o cinema clássico, realizou em 1977 "Blue Collar", focando a vida de um sindicato, através da amizade de três homens, vítimas das suas próprias engrenagens. Inevitavelmente a memória recorda-nos "Há Lodo no Cais" / "On the Waterfront" de Elia Kazan, embora esta seja uma película viciada na sua carga dramática (1).


Se no seu primeiro filme Paul Schrader nos oferece a América, ela vai continuar nas suas duas obras seguintes, as quais acabaram por constituir uma determinada trilogia americana. "Hard-Core", que em Portugal teve o título de "A Rapariga na Zona Quente", é o relato de uma jovem oriunda de uma família da classe média que desaparece numa excursão, indo o pai (George C. Scott) encontrá-la nos "subterrâneos" do "hard-core", oferecendo-nos a imagem perfeita do funcionamento da indústria pornográfica nos anos setenta e dos ambientes castradores da liberdade.


Para muitos, estava-se perante um olhar puritano mas "American Gigolo", que criou uma certa imagem de Richard Gere (2), envia-nos para o outro lado social da América. É o negócio do corpo que está em jogo: a troca e a venda, a vida e a morte, numa roleta implacável. Richard Gere tornou-se num dos galãs dos anos oitenta e muitos lhe copiaram o estilo, hoje é um valor mais que seguro do cinema norte-americano.


Em 1982 Paul Schrader decide fazer o remake de "Cat People" de Jacques Tourneur, no qual brilhava a figura de Simone Simon a par da famosa arte da elipse do filho de Maurice. "A Felina" iria ser Nastassja Kinski, no seu papel mais sensual de sempre (3) e, mais uma vez, nos encontramos perante as capacidades de metamorfose do corpo, mas ainda longe do que iríamos descobrir com o cinema de David Cronenberg. Foi nesta obra que Giorgio Moroder deu decididamente nas vistas, apesar de já ter assinado a banda sonora de "American Gigolo" e depois lá veio aquela versão tintada e restaurada da "Metropolis" de Fritz Lang. Mas voltemos à estrada de Paul Schrader, o investimento do Estúdio no filme foi imenso e o fracasso atingiu o mesmo nível, terminando "Cat People" por se transformar no "Do Fundo do Coração" / "One From the Heart" de Paul Schrader.


Depois de "Cat People", o silêncio instalou-se em redor do realizador, só sendo quebrado quando se descobriu que Paul Schrader tinha conquistado o que Elia Kazan, Roman Polanski, Nicholas Roeg e Bob Rafelson tinham perdido: transportar a vida do escritor japonês Yukio Mishima para o grande écran. No entanto, não foi propriamente Paul Schrader que conseguiu abater os obstáculos à realização mas sim Francis Ford Coppola, que seria, com George Lucas, o produtor de "Mishima: A Life in Four Chapters” / “Mishima".


Projecto de vulto e de dificuldades imensas, acabaria por ser mal recebido tanto no Japão (onde a figura de Mishima continua a ser para muitos um tabu), como na América, enquanto a Europa via com algumas reservas a obra do americano sobre o japonês.


Yukio Mishima (pseudómino de Kimitake Hiraoka), como muitos sabem é um dos mais importantes escritores japoneses e o mais célebre no mundo ocidental tendo Margueritte Yourcenar escrito um belo ensaio sobre a sua vida e obra. A sua longa obra literária é bastante extensa, mas também diversificada, pois nela encontramos romances, novelas, contos, ensaios, teatro e escritos de viagem assim como mantinha uma bem interessante correspondência com outro vulto enorme da Literatura Japonesa: Yasunari Kawabata, ao mesmo tempo que escrevia os denominados romances populares tão do agrado do público japonês e que surgiam na imprensa popular sempre com enormes tiragens. Yukio Mishima obteve três dos principais prémios Literários do Japão e criou uma obra extremamente bela (4), mas a sua vida era o espelho da sua obra e a sua obra o reflexo da sua vida.


O nacionalismo e a honra que defendia eram a memória dos velhos samurais, essa mesma memória de que Akira Kurosawa falou nas suas memórias, perdida para sempre num Japão industrializado e em muitos aspectos ocidentalizado, fruto da ocupação americana. Foi o amor de Yukio Mishima pela escrita do sangue que o conduziu para a morte. A 25 de Novembro de 1970 decide, com quatro alunos das suas Forças, tentar um Golpe de Estado que sabia de antemão votado ao fracasso, com o objectivo de repor a Ordem Imperial. Na véspera enviara para o editor "O Mar da Fertilidade", a sua última obra, composta por quatro volumes, verdadeiro testamento literário de um dos maiores escritores do século xx. Vivendo numa sociedade virada para o consumo e querendo impor o amor pela tradição, Yukio Mishima faz o "hara-kiri" perante uma multidão de soldados e jornalistas que, incrédulos, assistem à partida do Último dos Samurais.


Paul Schrader, com "Mishima" / “Mishima: A Life in Four Chapters”, realiza o mais belo dos seus filmes, optando por dois registos distintos ao longo da película, o biográfico, ostentando as suas habituais marcas cinematográficas e rodado a preto e branco e o teatral, registado a cores, ao encenar diversas passagens de livros do célebre escritor japonês.


Nunca é de mais referir a portentosa interpretação do actor Ken Ogata, que nos oferece um Yukio Mishima bem credível, assim como a banda sonora criada para os diversos segmentos do filme, profundamente envolvente, da responsabilidade do genial compositor Philip Glass, que aqui assina um dos seus melhores trabalhos para cinema, sendo parte dos temas interpretados pelo famoso Kronos Quartet.


"Mishima: A Life in Four Chapters” / "Mishima” revela-se, segundo o nosso ponto de vista, a melhor obra cinematográfica de Paul Schrader, um daqueles filmes que nos oferece de forma surpreendente o universo literário de um escritor, ao mesmo tempo que nos dá a conhecer a sua vida, sem qualquer subterfúgio, obtendo um resultado surpreendente.


“Mishima: A Life in Four Chapters” / “Mishima” de Paul Schrader revela-se um maravilhoso convite para aqueles que não conhecem a obra literária de Yukio Mishima a descobrirem, já os que a conhecem, têm aqui uma excelente oportunidade para ficarem a saber um pouco mais deste escritor japonês , uma figura incontornável da universo Literário do século xx.


Nota: A Criterium editou um dvd soberbo de "Mishima: A Life in Four Chapters", com excelentes extras, como é norma neles e nunca é demais referir que todas as obras editadas por eles são sempre em cópias restauradas, mas como também sabemos os filmes desta editora são apenas de zona 1, no entanto em Inglaterra deu-se finalmente inicio à edição em zona 2 dos filmes da Criterium, uma excelente notícia para os cinéfilos, esperemos que em breve cheguem a Portugal.


(1) - Quando Marlon Brando teve conhecimento que Elia Kazan tinha denunciado diversos colegas de profissão nos célebres interrogatórios promovidos pela comissão criada pelo senador, de má memória, Joseph McCarthy, manteve uma postura quase incomunicável com o cineasta. Recorde-se que Elia Kazan foi o homem que dirigiu Brando em "Um Eléctrico Chamado Desejo" / "A Streetcar Named Desire", tanto no teatro como mais tarde no cinema. E embora o filme tenha recebido uma chuva de Oscars e de ser uma obra incontornável, a questão política/ideológica acabou sempre por persegui-lo. No entanto, poderemos dizer que "Há Lodo no Cais" / "On the Waterfront" é uma das mais belas obras da história do cinema clássico norte-americano.

(2) - Por acaso recordam-se dele nos fabulosos "À Procura de um Homem" / "Looking for Mr. Goodbar" de Richard Brooks ou em "Os Dias do Paraíso" / "Days of Heaven" do Terence Malick, ambos já disponíveis em dvd?


(3) – Recomendamos o DVD, que possui excelentes extras.

(4) - Não deixem de ler "O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar", “O Tumulto das Ondas”, “Depois do Banquete”, “Neve na Primavera”, “Morte no Verão” e “Sede de Amar”, todos editados no nosso país e já agora procurem no livro "A Borboleta de Nabokov" o excelente texto que António Mega Ferreira publicou na época no Jornal de Letras e que se encontra reunido no livro atrás referido. E, claro, depois só terão que ler a restante obra do Mestre Japonês, e se gostar de ler em francês tem sempre à sua disposição os livros de bolso da Folio/Gallimard, onde pode encontrar a totalidade da obra de Yukio Mishima, a preços bem convidativos.

Rui Luís Lima