domingo, 13 de abril de 2025

Ingmar Bergman - “Crise” / “Kris”


Ingmar Bergman
“Crise” / “Kris”
(Suécia – 1946) – (93 min. – P/B)
Inga Landgrë, Stig Olin, Marianne Lofgren, Dagny Lind, Allan Bohlin.

Estávamos no ano de 1944 e Ingmar Bergman trabalhava como revisor de argumentos da Companhia de Filmes Suecos de Dymling, um trabalho que lhe consumia imenso tempo e pelo qual não tinha uma grande paixão. Mas no dia em que lhe apresentaram a proposta de construir um argumento a partir de uma peça de Leck Fischer, que seria realizado por ele, decidiu transformar a monótona escrita do dramaturgo numa obra cinematográfica vibrante.


“Crise” / “Kris”, o seu filme de estreia, tem o condão de possuir algumas das linhas basilares da sua futura filmografia e apesar de todos os condicionalismos de produção a que foi sujeito Ingmar Bergman, originando um mau relacionamento com os restantes membros da pequena equipa de que dispunha, nasceu um filme que nos convida a descobrir o temível território dos sentimentos humanos, tantas vezes contraditórios e inexplicáveis, mas escondendo também no seu interior um passado, que se pretende manter oculto do presente.


Curiosamente, Ingmar Bergman, nos primeiros momentos da película, apresenta-nos uma comédia (usando o narrador), mas rapidamente iremos perceber que estamos a caminho da tragédia e será que ela pode ser evitada ou o destino das suas personagens já está traçado?


A forma como nos é narrada a história da jovem Nelly (Inga Landgrë), criada até aos 18 anos pela mãe adoptiva, altura em que conhece a sua verdadeira mãe, que a seduz com a vida na capital, longe da pacata aldeia onde sempre habitou, leva-nos a descobrir como muitas vezes funcionam os sentimentos do ser humano, desde o jovem Jack (Stig Olin) aspirante a actor, que vê na jovem Nelly essa âncora que o liga à realidade, porque o resto é falsidade, até a essa mãe que só pretende ter a filha a seu lado porque tem terror da solidão.


Por outro lado, temos a própria Nelly que se sente aprisionada pela mãe e termina por cair nas malhas do amor criadas por Jack, esse jovem incapaz de amar. Mas ainda mais importante em “Crise” / “Kris” é essa mãe adoptiva, de fracos recursos económicos, que sempre desejou o melhor para Nelly e se vê abandonada por todos, até o seu hóspede, que se encontra apaixonado por Nelly, parte para a capital e a deixa sem uma das suas fontes de rendimento, já que a sua arte como professora de piano na aldeia lhe oferece uma subsistência irrisória.


Assim o drama caminha de forma bem visível, à medida que os protagonistas se vão cruzando num espeço temporal curto, mas marcante para o seu futuro, terminando por esta crise se transformar em tragédia mas, como nos dizia o narrador no início do filme, por vezes não sabemos se estamos numa comédia ou num drama e assim esta estreia de Ingmar Bergman, cuja filmagens foram um drama, como ele nos confessou na sua autobiografia, terminam por fazer deste filme o nascimento da luz que irá iluminar a sua futura obra cinematográfica.

Ingmar Bergman
(1918 - 2007)

“Crise” / “Kris” é uma dessas películas que, após ser descoberta, leva o cinéfilo a ficar com ela na memória para sempre!

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. Ingmar Bergman - (1918 - 2007)
    Classificação: 5 estrelas (*****)
    Estreia Mundial: 25 de Fevereiro de 1946 na Suécia.

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