sexta-feira, 11 de abril de 2025

Luiza Neto Jorge - "Poesia 1960-1989"


Luiza Neto Jorge
"Poesia 1960-1989"
Páginas: 320
Assírio & Alvim

A rua era do Mundo e o café "A Parisiense" do senhor Gouveia, e ali ía com a minha avó, foi assim, com a idade de um digito, que me cruzei várias vezes com a Luíza Neto Jorge, desconhecendo como era bela a sua poesia.

Anos mais tarde descobri a palavra poética e surrealista e assim a poesia de Luíza Neto Jorge, que partiu demasiado cedo, passou a conviver com as minhas leituras.

Rui Luís Lima

Luiza Neto Jorge
(1939 - 1989)

IV

Gasto-me à espera da noite
impraticável

fiel
sugo os lábios da noite

invariável caio
nos poços da noite

Gasto-me à espera da noite alheia
amassada de gargalhadas doces e areia

Amor anoitecido vem
tecer-me um vestido
nocturno

Atraiçoo os anúncios luminosos
até a lua nova sabe a ausente
- e eu anavalhei-te com naifas de ansiedade -

Estou à espera da noite contigo
venham as pontes ruindo sob os barcos
venham em rodas de sol
os montes os túneis e deus

Estou à espera da noite contigo
livre de amor e ódio
livre
sem o cordão umbilical da morte
livre da morte

estou
à espera
da noite

Luiza Neto Jorge,
in "A noite vertebrada"

1 comentário:

  1. Luiza Neto Jorge - (1939 - 1989)
    Classificação: 5 estrelas (*****)
    A poesia de Luiza Neto Jorge bem merece ser revisitada!

    ResponderEliminar