"Poesia 1960-1989"
Páginas: 320
Assírio & Alvim
A rua era do Mundo e o café "A Parisiense" do senhor Gouveia, e ali ía com a minha avó, foi assim, com a idade de um digito, que me cruzei várias vezes com a Luíza Neto Jorge, desconhecendo como era bela a sua poesia.
Anos mais tarde descobri a palavra poética e surrealista e assim a poesia de Luíza Neto Jorge, que partiu demasiado cedo, passou a conviver com as minhas leituras.
Rui Luís Lima
Luiza Neto Jorge
(1939 - 1989)
IV
Gasto-me à espera da noite
impraticável
fiel
sugo os lábios da noite
invariável caio
nos poços da noite
Gasto-me à espera da noite alheia
amassada de gargalhadas doces e areia
Amor anoitecido vem
tecer-me um vestido
nocturno
Atraiçoo os anúncios luminosos
até a lua nova sabe a ausente
- e eu anavalhei-te com naifas de ansiedade -
Estou à espera da noite contigo
venham as pontes ruindo sob os barcos
venham em rodas de sol
os montes os túneis e deus
Estou à espera da noite contigo
livre de amor e ódio
livre
sem o cordão umbilical da morte
livre da morte
estou
à espera
da noite
Luiza Neto Jorge,
in "A noite vertebrada"
Luiza Neto Jorge - (1939 - 1989)
ResponderEliminarClassificação: 5 estrelas (*****)
A poesia de Luiza Neto Jorge bem merece ser revisitada!