Jack DeJohnette
"Special Edition"
ECM 1152
ECM Records
1980
David Murray – tenor saxophone, bass clarinet.
Arthur Blythe – alto saxophone.
Peter Warren – double bass, cello.
Jack DeJohnette – drums, piano, melodica.
1 – One For Eric – 9:57
2 – Zoot Suite – 11:27
3 – Central Park West – 3:16
4 – India – 6:02
5 – Journey To The Twin Planet – 8:47
Quando nos dias de hoje alguém pergunta: quem é o maior baterista de jazz no activo? A resposta só pode ser uma: Jack DeJohnette! É claro que este tipo de perguntas nunca se devem fazer e muito menos dar-se-lhes resposta porque o jazz, como todos sabemos, é a mais democrática de todas as músicas, como é bem possível observar nos concertos.
The Wizard, como muitos chamam a Jack DeJohnette, nasceu em Chicago em 1942 e estudou piano desde os quatro anos até aos 14, quando decidiu experimentar a bateria, para nunca mais a largar, embora continuasse a ter aulas privadas, onde as suas mãos continuavam a navegar pelas teclas do piano.
Mas demos a palavra ao músico e compositor para conhecermos melhor como nasceu o seu universo musical: «Quando era criança escutava todo o tipo de obras e nunca fazia distinção entre elas. Tinha lições de piano e ouvia ópera, música country, blues e jazz, enfim escutava todo o tipo de música que me vinha parar às mãos. E ainda hoje continuo a acreditar que a música é simplesmente um género universal».
A sua estreia deu-se no quinteto de John Coltrane, tendo depois dado nas vistas nesse célebre quarteto liderado por Charles Lloyd, que expandiu a sua música para além do território americano, conquistando um enorme sucesso na Europa, tendo até dado um concerto em Moscovo na década de sessenta que se tornou histórico e que se encontra disponível em cd. Aliás nunca é demais lembrar que o pianista deste quarteto se chamava Keith Jarrett.
Depois Jack DeJohnette, tal como a maioria dos incontornáveis nomes da sua geração, fará parte dessa tribo mágica liderada por Miles Davis, que irá oferecer novos caminhos ao jazz, nesse álbum incontornável intitulado “Bitches Brew”.
Mas será na Europa e mais uma vez pela mão de Manfred Eicher, o mais importante produtor europeu, que Jack DeJohnette vai começar a gravar na editora alemã ECM, sendo o seu álbum de estreia “Ruta and Daytia” constituído exclusivamente por duetos com Keith Jarrett, que aqui assinava o seu segundo trabalho para a ECM Records.
Inicia-se então a mais fabulosa aventura de um baterista de jazz, com Jack DeJohnette a criar um som único nos trabalhos em que participa, ao mesmo tempo que vai estudando as sonoridades tiradas dos pratos da bateria, para depois propor um desenho próprio e exclusivo deles à Paiste, que os irá fabricar exclusivamente para ele, nascendo assim o famoso som do baterista. Mas o seu génio vive, acima de tudo, pela forma como toca a bateria, criando ora ritmos avassaladores ora melodias mágicas com a utilização das vassouras.
E foi com naturalidade que começaram a surgir trabalhos seus em que era o líder, criando duas formações histórias: Special Edition e New Directions, para além desses três trios que o tornaram célebre em todo o mundo: Gateway (na companhia de John Abercrombie e David Holland), o mais recente, "Trio Beyond" (que inclui John Scofield e Larry Goldings) e o mais famoso de todos, o Trio Standards (este último considerado o maior trio clássico de jazz da actualidade, com Keith Jarrett no piano e Gary Peacock no contrabaixo, a criarem com a bateria de DeJohnette a mais fascinante leitura do American Song Book)
O álbum de hoje possui o título de “Special Edition” e foi o trabalho de estreia deste grupo constituído por David Murray no saxofone tenor e clarinete baixo, Arthur Blythe (que tivemos a oportunidade de ver ao vivo em Cascais, já lá vão uns bons anos) no saxofone alto e Peter Warren em contrabaixo e violoncelo, ocupando-se Jack DeJohnette da bateria, piano e melódica.
“Special Edition” oferece-nos três originais de Jack DeJohnette e dois temas clássicos de John Coltrane, “Central Park West” e “Índia”, e se no primeiro a bateria está ausente, optando DeJohnette pela melódica, oferecendo-nos uma leitura de uma beleza mais-que-perfeita, já no segundo tema será o piano a abrir as honras da casa, para mais tarde a bateria surgir em todo o seu esplendor e magia, sempre na excelente companhia dos restantes músicos.
Já os três temas de sua autoria “One For Eric” (dedicado a Eric Dolphy), “Zoot Suite”, que se irá tornar num dos temas mais conhecidos e inventivos da sua carreira, com a famosa entrada do contrabaixo do Peter Warren, que irá abrir caminho a um território musical por explorar, e “Journey to The Twin Planets” que termina esta primeira aventura do quarteto Special Edition.
“Special Edition” foi gravado em Março de 1979, no Generation Sound Studios em New York, tendo sido editado na ECM em 1980 e nesse mesmo ano os leitores da célebre revista “Downbeat” elegeram-no como o disco do ano.
Hoje “Special Edition”, para além de ser o mais belo cartão-de-visita de Jack DeJohnette devido ao colorido e invenção dos temas e expressividade deste músico, transformou-se num clássico da modernidade na história do jazz. Vale a Pena Escutar “Special Edition”.
Gravado em Março de 1979 no Generation Sound Studios, New York, por Tony May e misturado posteriormente no Tonstudio Bauer, Ludwigsburg, por Martin Wieland e Manfred Eicher. Capa de Klaus Detjen. Fotografias de Andreas Raggenbass. Produção de Jack DeJohnette. Produtor Executivo: Manfred Eicher. Todos os temas foram compostos por Jack DeJohnette, excepto os temas 3 e 4 da autoria de John Coltrane.
O álbum “Special Edition” de Jack DeJohnette será reeditado na série “Old and New Masters”, ECM 2296/99 numa box constituída por quatro CDs e intitulada “Jack DeJohnette Special Edition”, que inclui ainda os álbuns “Tin Can Alley”, “Inflation Blues” e Album Album”, sendo acompanhada de um livro com um ensaio sobre o baterista e o grupo, assinado por Bradley Bambarger. De referir que esta banda liderada por Jack DeJohnette irá ficar conhecida na história do jazz como a “Jack DeJohnette’s Special Edition”.
Rui Luís Lima
Classificação: 5 estrelas (*****)
ResponderEliminarJack DeJohnette - (1942)
Arthur Blythe - (1940 - 2017)
David Murray - (1955)
Peter Warren - (1935)
No Festival de Jazz de Cascais assiti a um concerto fabulosos do saxofonista Arthur Blythe, num dia em que chovia de forma torrencial!