quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Buster Keaton - "Sherlock Holmes Jr." / "Sherlock Jr."


Buster Keaton
"Sherlock Holmes Jr." / "Sherlock Jr."
(EUA – 1924) – (45 min. - P/B - Mudo)
Buster Keaton, Kathryn McGuire, Joe Keaton, Erwin Connely, Ward Crane.

Como todos devem estar recordados, Buster Keaton é o homem que nunca se riu nos filmes que realizou e interpretou e, desde muito cedo, foram muitos os que tentaram comparar as películas dirigidas por ele com as de Charlie Chaplin, em virtude de ambos representarem dois dos nomes mais importantes do cinema mudo. No entanto, a forma como eles sempre olharam o cinema é demasiado diferente, procurando cada um deles criar o seu próprio universo.


“Sherlock Holmes Jr” / “Sherlock Jr.” é, apesar da sua reduzida metragem, uma película empolgante e genuína, que nos convida a olhar o cinema do seu próprio interior, já que o personagem interpretado por Buster Keaton, um projeccionista de cinema que anseia ser detective, curiosa a sequência em que lê um livro intitulado “How to be a detective” com a lupa na mão, irá adormecer na cabine de projecção da sala de cinema onde trabalha e quando o sonho toma conta dele, irá mergulhar no interior do écran, entrando no filme que está a ser projectado na sala, tornando-se numa das personagens da história.


Ao vermos isto, de imediato nos recordamos de “A Rosa Púrpura do Cairo” / “The Purple Rose of Cairo” e percebemos que, afinal, Woody Allen ao criar esse argumento maravilhoso, que deu origem a um dos filmes mais originais da sua filmografia, foi beber um pouco da sua genialidade precisamente a este filme de Buster Keaton.


Mas regressando ao início da película, iremos encontrar Buster Keaton a namorar com uma rapariga (Kathryn McGuire) em casa dela, mas como existe um pretendente à mão da jovem muito mais esperto do que ele, o vilão do filme (Ward Crane) irá roubar um relógio, caindo as culpas sobre Buster Keaton, que será expulso da casa pelo pai da jovem (Joe Keaton). Ao ver-se impedido de rever a mulher que ama, o nosso herói regressa desalentado ao cinema onde trabalha como projeccionista, terminando por adormecer na cabine, enquanto o filme é projectado no écran.


Curiosamente, a entrada de Buster Keaton no interior da película irá ser problemática, porque ela própria o irá tentar expulsar da tela, alterando radicalmente os acontecimentos que vamos vendo: num momento o nosso herói está no alto mar e, repentinamente, no segundo seguinte encontra-se numa montanha, debaixo de um terrível nevão, mas Keaton, o Mestre das geniais “tropelias”, irá saltar de um lado para o outro, oferecendo-nos “gags” memoráveis, sempre sem duplos e por vezes a correr risco de vida, como tantas vezes nos habituou, conseguindo sair ileso das perigosas situações em que se encontra, sempre em luta com o vilão do filme projectado no écran, a fim de reconquistar o amor da jovem amada.


“Sherlock Jr.” revela-se, assim, uma verdadeira pérola da 7ª Arte para quem descobre este filme, infelizmente um pouco esquecido, obrigando-nos decididamente a pensar como o cinema contemporâneo vai beber muita da sua magia aos grandes Mestres do Cinema Mudo, entre os quais se encontra o genial Buster Keaton.

Rui Luís Liam

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