Salas de Cinema - Cinema Tivoli!
O Cinema Tivoli será sempre uma referência nas minhas memórias cinéfilas devido a esse ano em que vi meia-dúzia de vezes a “Música no Coração” / “The Sound of Music”, que esteve um ano em exibição, mas voltemos atrás no tempo para descobrirmos que a ideia de construir o Cinema Tivoli nasceu desse homem da cultura chamado Lima Mayer, que com o seu amigo e arquitecto Raul Lino idealizaram este verdadeiro Templo do Cinema, que se irá tornar um dos locais de encontro da cinefilia dos anos 40/50, com as célebres sessões de cinema intituladas “Terças-Feiras Clássicas”, onde nomes da cultura como Jorge de Sena (*), José Augusto França e Vitorino Nemésio entre outros faziam a apresentação do filme.
"Música no Coração"
Robert Wise
Nesse ano em que se estreou “A Música no Coração”, lá fui com a minha avó à sessão da noite e ficámos no 2º balção, mas a confusão era de tal ordem, com a sessão esgotada e eu com seis anos, que quando entrámos na sala já estava a ser exibido um dos célebres documentários da Pathé e fiquei de imediato com os olhos fixos no écran a ver o Grande Prémio do Mónaco, com o Jim Clark a vencer a prova e um dos carros a cair à água ou seja antes da emoção do filme tive as emoções das corridas de Fórmula 1 de que fui fan e seguidor durante décadas, comprando os jornais “O Motor” e “O Volante” e enchendo as paredes do quarto com posters com os capacetes dos condutores, sendo a minha equipa favorita a Tyrrell do Jackie Stewart e François Cévert.
"A Biblia"
John Huston
Mas regressemos ao nimas para contar que cada vez que vinha um familiar à capital íamos ver “A Música no Coração” e nesses anos em que a idade ainda só tinha um digito, foram inúmeras as vezes em que fui ao Tivoli, sendo “A Biblia” / “The Bible” de John Huston uma referência em virtude de mais uma vez a lotação estar esgotada e os arrumadores não terem mãos a medir e embora fossemos para a plateia, quando nos sentámos já o filme tinha começado e muito aborrecido pelo sucedido prometi a mim mesmo não voltar a entrar numa sala de cinema depois do filme ter começado. Só anos mais tarde tive oportunidade de rever o filme de John Huston na íntegra.
"Os Sete Magníficos"
John Sturges
Quando vi no cinema Tivoli “Os Sete Magnificos” / “The Magnificent Seven” do John Sturges, um cineasta muito maltratado pela crítica, desconhecia que se tratava de um “remake” do célebre filme de Akira Kurosawa, “Os Sete Samurais” / “Shichinin no Ssamurai”, que muitos anos depois iria descobrir na Cinemateca.
"Amor Sem Barreiras"
Robert Wise/ Jerome Robbins / Leonard Bernstein
Já “West Side Story” / “Amor Sem Barreiras” de Robert Wise deixou-me profundamente fascinado pela música de Leonard Bernstein, um nome que já me era bem conhecido pela transmissão na televisão dos célebres concertos para jovens e que foi bem importante para a minha descoberta da denominada música erudita, ao mesmo tempo que Leonard Bernstein se tornava um dos meus compositores favoritos.
"American Gigolo"
Paul Schrader
E se foi no Tivoli que vi muitos filmes de forma tranquila, na adolescência, recordo-me também de duas sessões bem agitadas por razões bem diferentes. Se “American Gigolo” de Paul Schrader estava esgotado, com algumas figuras (masculinas e femininas) a exibirem-se na entrada da sala junto das bilheteiras e mais tarde no interior do cinema como se estivessem numa passagem de modas, para seu próprio prazer.
"The Wall"
Alan Parker
Já a conturbada estreia de “The Wall” de Alan Parker com a célebre banda sonora dos Pink Floyd, revelou-se a mais conturbada sessão de cinema da minha vida, na plateia onde me encontrava com alguns amigos, alguém atrás de nós fumava “ervas medicinais”, com o cheiro a invadir o espaço e até uma garrafa de whisky vazia vimos rodar pelo chão da plateia e o pior de tudo é que nenhum de nós gostou do filme do Alan Parker, preferíamos o álbum original dos Pink Floyd. Nos dias de hoje gosto mais ainda da versão ao vivo de “The Wall” pelos Pink Floyd.
"Amigos"
Lewis Gilbert
Quando as memórias são muitas e os filmes ainda mais é sempre difícil escolher uma dupla que se tenha revelado bem diferente e talvez por isso mesmo recupero o período ainda do liceu em que vimos dois filmes que adorámos e odiámos e da opinião das nossas companhias femininas nem se fala. A película “Friends” / “Amigos” de Lewis Gilbert com banda sonora de Elton John e uma história que assentava que nem uma luva aos sonhos de alguns de nós, nesses anos setenta, fez as nossas delícias de adolescentes.
"A História D'O"
Just Jaeckin
Já o “badalado” “A História D’O” /”Histoire D’O” de Just Jaecken, o cineasta dos filmes de “Emmanuelle”, deu origem a alguma discussão entre o grupo, no sentido de se descobrir de quem foi a ideia de se ir ver aquele filme, quando havia tanto filme bom em cartaz e no final ninguém se acusou do pecado! Quantos se recordam hoje desse filme ou do nome da sua actriz: Corinne Cléry!?
"Estrada de Fogo"
Walter Hill
Depois as salas conhecidas como os Templos do Cinema começaram a ter muito pouco público e o seu encerramento espreitava a todo o momento e foi assim que o último filme que vi no cinema Tivoli, como sala de cinema comercial, foi “A Estrada de Fogo” / “Streets of Fire”, já com o écran a apresentar um certo défice de qualidade. Por fim foi o encerramento e a respectiva travessia do deserto, até o Tivoli reabrir e se tornar a sala de espectáculos que todos conhecemos neste século XXI.
"O Leopardo"
Luchino Visconti
Quando Lisboa foi Capital Europeia da Cultura nesse ano de 1994 regressei ao Tivoli que tinha reaberto as portas para o Ciclo de Cinema “100 Dias 100 Filmes”, sendo o seu espaço um dos locais onde decorreu este famoso ciclo de cinema, que se iniciou com a exibição de “O Leopardo” / “Il Gattopardo” de Luchino Visconti , com uma cópia restaurada, em versão italiana e com película em cor “deluxe”, que nos oferecia cores mais quentes em contraste com a da versão americana que tinha visto, anos antes, no cinema Castil em “technicolor”.
"Ivan, o Terrível"
Serguei M. Eisenstein
Nesse ano assistimos a mais alguns dos filmes deste ciclo de cinema no Tivoli, mas quando nos ofereceram o “Ivan, o Terrível” de Sergei Eisenstein, dobrado para espanhol ou castelhano, se preferirem, não resistimos à dobragem para a língua dos nossos “hermanos” e viemos embora no final da primeira parte! Este filme realizado por Eisenstein irei vê-lo anos mais tarde na Cinemateca devidamente legendado, embora a primeira vez que o vi, foi na televisão no ano de 1974, quando o cinema se tinha libertado da tristemente famosa censura.
"Cinema Tivoli"
Nas minhas memórias imediatas, se me falarem no cinema Tivoli são as imagens de “The Sound of Music” / “Música no Coração”, que se projectam e ecoam na minha memória com a inesquecível voz da Julie Andrews!
Rui Luís Lima