"Chantagem" / "Blackmail"
(Inglaterra - 1929) - (85 min. - P/B)
Anny Ondra, John Langden, Sara Allgood, Charles Paton, Cyril Richard.
"Chantagem” / “Blackmail” ficou conhecido como o primeiro filme sonoro do Mestre do Suspense, embora tenha sido rodado inicialmente como mudo, mas o sonoro que então nascia iria “complicar as coisas” e Alfred Hitchcock, que entretanto já tinha idealizado o filme como sonoro na sua imaginação, decidiu refazê-lo e assim aceitaou de bom grado a chegada do som ao cinema, ao contrário de Charles Chaplin e René Clair, entre outros, que durante muitos anos lutaram contra o sonoro, defendendo a Arte do Cinema Mudo.
Como alguns estão recordados em “Serenata à Chuva” / “Singing in the Rain”, película realizada pela dupla Gene Kelly e Stanley Donen, retrata-se precisamente os tempos conturbados do início do sonoro, onde assistimos à dobragem da voz da actriz principal, ficção tantas vezes tornada realidade neste período de transição e “Blackmail” possui no seu interior esse processo, embora por razões diferentes, já que a voz de Anny Ondra, a protagonista, é dobrada pela voz de Joan Barry. Para terminar esta introdução, convém sempre referir que “Chantagem” / “Blackmail” possui já uma das célebres aparições de Alfred Hitchcock nesta película, sentado num transporte público a ler um livro e a ser incomodado por uma criança traquina do banco da frente que não o deixa sossegado na sua leitura.
Chegamos assim ao filme em si, que nos conta a história de uma chantagem. Alice (Anny Ondra) é namorada de um Inspector da Scotland Yard mas, como todas as namoradas, não gosta de ficar à espera da sua “cara-metade”, especialmente quando o combinado é jantar fora. Mas o dever está primeiro e Frank (John Langden) chega atrasado. Como sucede tantas vezes tudo irá servir de discussão, até que se despedem mal-humorados e ela se deixa seduzir por um galante pintor que lhe pretende mostrar a sua obra artística. E de pretexto em pretexto, sem grande oposição, Alice aceita pousar para o artista no seu apartamento, desconhecendo o seu desejo até que, ao se aperceber das pretensões tão carnais do pintor (Cyril Richard), luta com ele e vendo que as forças lhe faltam, serve-se de uma faca para se defender, acabando por matá-lo. Alice foge para casa dos seus pais, onde vive, mas é vista por um estranho de aspecto duvidoso que, apercebendo-se do sucedido, decide fazer chantagem com ela. Estava encontrado o móbil perfeito do suspense!?
A Scotland Yard começa a investigar o caso, sendo Frank um dos detectives encarregados de o resolver. Percebendo que a namorada está refém do chantagista e nunca querendo acreditar na sua culpabilidade, decide acusar o homem do crime, já que este possui antecedentes criminais. Nasce então uma perseguição belíssima, no interior do Museu Britânico, demonstrando todo o saber de Alfred Hitchcock, terminando com a queda do chantagista de uma das abóbadas, “antecedendo” de certa forma a queda do agente alemão do alto da Estátua da Liberdade ou essa outra célebre perseguição de “Intriga Internacional” no Monte Rushmore.
Sofia, torturada interiormente pela situação criada, decide ir à polícia entregar-se como autora do crime mas, ao saber da morte do chantagista, hesita sendo “arrastada” da esquadra pelo namorado detective, que certamente a irá nessa noite levar a jantar num local sossegado propício para um “casal de namorados”.
No início de “Chantagem” ainda se sente a famosa estética do cinema mudo, mas à medida que os fotogramas vão surgindo, caímos decididamente no início do sonoro, enquanto o “suspense” introduzido por Alfred Hitchcock nos deixa positivamente pregados à cadeira ou diremos agarrados ao sofá sem pestanejar.
“Blackmail” de Alfred Hitchcock oferece-nos já toda a sabedoria do cineasta, essa mesma sabedoria que levou o público a fixar-lhe o nome antes dos actores e arrastou multidões para o interior das salas, simplesmente porque quando um filme com a sua assinatura se estreava, o “suspense” e as emoções fortes estavam garantidas.
Nota: O DVD editado pela Universal oferece-nos também a versão muda de “Chantagem”, sendo a visão das duas películas um excelente exercício comparativo, do nascimento do sonoro em oposição ao cinema mudo.
Rui Luís Lima
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