Bertolt Brecht
"O Processo do Filme «A Ópera dos Três Vinténs» - Uma Experiência Sociológica “
Páginas: 160
Campo de Letras
“O Processo do Filme «A Ópera dos Três Vinténs» Uma Experiência Sociológica” da autoria de Bertolt Brecht, possui uma magnífica introdução de João Barrento (que também assina a tradução), ao mesmo tempo que nas suas notas contextualiza o livro de Bertolt Brecht nessa Alemanha dos anos vinte, do século passado, assim como a questão da autoria de uma obra.
Como é do domínio público, “A Ópera dos Três Vinténs” é da autoria de Bertolt Brecht e Kurt Weil, tendo mais tarde sido transposta para o cinema através de G. W. Pabst que realizou o filme, sendo o argumento da responsabilidade de Bela Balazs, mas Brecht não gostou nada da adaptação cinematográfica que foi feita da peça e por isso mesmo decidiu processar a produtora Nero, ao mesmo tempo que pretendeu impedir a exibição do filme, que se irá transformar num dos grandes sucessos de Georg Wilhelm Pabst.
Bertolt Brecht
(1898 - 1956)
Este livro relata-nos todo esse processo, ao mesmo tempo que nos oferece um jovem Brecht profundamente radical, recusando uma quantia elevada oferecida pela produtora da película para retirar a queixa da justiça e esquecer tudo, tendo o dramaturgo seguido em frente com a acção, terminando por perder em tribunal.
Ao lermos este livro em que Bertolt Brecht nos surge como um verdadeiro radical (reparem bem na linguagem usada por ele para se exprimir), bem diferente do dramaturgo que anos mais tarde virá a ser, especialmente depois dessa experiência, quase traumatizante, que foi a sua passagem pela América, essa terra de liberdade, onde escreveu argumentos para cinema, sempre recusados pelos grandes Estúdios, que como todos sabemos sempre trataram bastante mal os argumentistas, basta recordar o que se passou ao longo dos anos com Francis Scott Fitzgerald, ou mesmo Ernest Hemingway e William Faulkner, só para citar três escritores americanos incontornáveis no Panorama da Literatura Mundial, para estar tudo dito.
Georg Wilhelm Pabst
(1885 - 1967)
E Brecht, que combateu com todas as armas ao seu dispor o argumento cinematográfico que Bela Balazs escreveu para Pabst, será obrigado a reconhecer anos mais tarde a importância que este irá ter na formulação da Teoria do Cinema e na própria História do Cinema, ainda hoje estudado nas escolas de cinema de todo o mundo e quando nos Estados Unidos da América, no início da atroz “caça às bruxas” Bertolt Brecht foi convocado para depor sobre as suas ideias políticas, optou por partir da América, na véspera de ir a tribunal perante a temível Comissão do Senador McCarthy, que como sabemos destruiu inúmeras vidas.
Na verdade Bertolt Brecht, com o passar dos anos, transforma-se num homem bem diferente que lentamente vai abandonando o radicalismo de outros tempos, tornando-se mais moderado. Já os seus dois colegas” deste atribulado processo da adaptação cinematográfica de “A Ópera dos Três Vinténs”, Bela Balazs e G. W. Pabst, tiveram também dois destinos bem diferentes, já que enquanto Brecht com a chegada dos Nazis ao poder fugiu para a Dinamarca e depois para a América como já referimos, ligando-se aos círculos socialistas norte-americanos, para mais tarde abandonar o Novo Mundo e regressar à Europa, Bela Balazs irá refugiar-se na então União Soviética, só a abandonando depois de terminado o conflito, já G. W. Pabst, um dos nomes mais importantes do cinema alemão, que realizou filmes como Rua sem Sol”/”Die Freudlose Gasse”, “O Amor de Jeanne Ney””/”Die Liebe der Jeanne Ney” ou “A Boceta de Pandora”/”Die Buchse der Pandora”, irá partir para França.
Bela Balasz
(1884 - 1949)
Mas ao contrário de Bertolt Brecht e Bela Balazs, o cineasta alemão Georg Wilhelm Pabst, que tinha realizado um dos grandes manifestos socialistas, intitulado “A Tragédia da Mina”/”Die Dreigroschenger Kameradschaft, antes dos Nazis chegarem ao poder, onde defendia os ideais socialistas, irá regressar à Alemanha em 1940 perante a surpresa de todos, oferecendo os seus serviços a Goebbels e após o fim do conflito terminar os seus dias a retratar-se da atitude tomada, nunca conseguindo explicar a ninguém as razões do seu comportamento.
Após a leitura “O Processo do Filme «A Ópera dos Três Vinténs» - Uma Experiência Sociológica” ficamos a conhecer um pouco mais do pensamento de Bertolt Brecht, como homem do cinema e a sua visão de autor, assim como descobrimos, graças à magnífica introdução e notas de João Barrento, o oceano cinematográfico onde se movimentava a Alemanha dessa época, em que o ovo da serpente estava à beira de dar à luz essa longa noite tenebrosa em que irá mergulhar o continente europeu.
Rui Luís Lima
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