“Jogos de Poder” / “Charlie Wilson’s War”
(EUA – 2007) – (97 min. / Cor)
Tom Hanks, Julia Roberts, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Ned Betty, Emily Blunt.
“Charlie Wilson’s War” / “Jogos de Poder” de Mike Nichols oferece-nos um retrato dos políticos americanos e do seu Congresso, nada brilhante. É certo que estamos face a uma “comédia” baseada em factos verídicos, segundo um argumento de Aaron Sorkin, mas se pensarmos como tudo se passou ficamos, na verdade, perplexos.
Quando a então União Soviética invadiu o Afeganistão, este país estava longe, mesmo muito longe, de ser primeira página nos jornais e mesmo a própria CIA via esta intervenção externa, do seu inimigo de sempre num país soberano, como um assunto mais que secundário. Mas em Washington, um político chamado Charlie Wilson (Tom Hanks) não pensava da mesma forma, decidindo fazer a sua própria guerra. O que estava então em causa era a chamada Guerra-Fria, depois o anti-comunismo primário que sempre se fez sentir fez o resto ou seja a angariação de fundos levada acabo por uma milionária Texana chamada Joanne Herring (Júlia Roberts), conseguiu obter verbas fabulosas para armar os pequenos grupos de resistentes que habitavam as montanhas afegãs.
Estamos assim perante aquele tipo de actividades que muitas vezes eram desconhecidas do próprio Congresso, de tal forma elas eram secretas, certamente alguns de nós ainda estão recordados do caso Oliver North. Mas, nesta "guerra privada de Charlie Wilson", os resultados acabariam por ser excelentes para a política externa norte-americana, para muitos anos depois o feitiço se virar contra o feiticeiro e criar um monstro que irá provocar um dos maiores atentados de sempre em território norte-americano..
Tom Hanks ao encarnar a figura do político Charlie Wilson está como peixe na água, algo que já não víamos há muito e assim vamos encontrar um homem amante da boa vida e cujo “staff” é todo feminino, a mergulhar num mundo que lhe era de todo alheio, depois de ter visto umas reportagens numa cadeia de televisão.
A forma como Mike Nichols nos oferece os meandros da guerra, onde muitas personagens secundárias eram mais que principais (caso do Paquistão), leva-nos na verdade a pensar no mundo em que vivemos e na forma como a política é cada vez mais alicerçada em bases tão frágeis que mais tarde ou mais cedo acabam por ruir.
Sempre com um olhar mordaz sobre os acontecimentos, Mike Nichols vai falando de coisas muito sérias e qualquer um de nós percebe que todas aquelas armas fornecidas à guerrilha afegã servem hoje para combater os próprios americanos, num terreno que se tornou um verdadeiro pântano. Na época os célebres "stinger" fizeram grande sucesso frente aos helicópteros soviéticos, aliás veja-se a forma como o cineasta nos mostra esse sucesso da tecnologia. Com a saída dos soviéticos do Afeganistão e a vitória de Charlie Wilson acabou de certa forma a denominada Guerra-Fria, pois logo a seguir cairia o Muro de Berlim, para espanto da própria CIA. Mas o que é importante realçar é que, depois da vitória, o dinheiro para reconstruir um país deixou de existir e como todos sabemos os célebres estudantes de Teologia, mais conhecidos por Taliban, iriam tomar conta daquela zona.
O que falhou nesta guerra de Charlie Wilson em que deixou de haver verbas para construir uma simples escola, depois de se terem gasto milhões de dolares num verdadeiro efeito "bola de neve", com as verbas sempre a duplicarem é uma verdadeira lição para todos e Mike Nichols mostra-nos isso mesmo, porque os célebres donativos da milionária de Houston, Joanne Herring, deixaram de existir, ao mesmo tempo que o Congresso tinha outras preocupações, porque o objectivo era derrotar os soviéticos e nunca ajudar um povo a reconstruir um país.
“Jogos de Poder”/ “Charlie Wilson’s War” oferece-nos por outro lado uma excelente direcção de actores, onde Philip Seymour Hoffman veste de forma perfeita o agente da CIA, que incomoda a própria direcção da Agência devido à sua forma de estar e que, ao ser posto de lado pelos superiores, mergulha nesta guerra ao lado do político e da milionária. Já Júlia Roberts agarra bem o papel, embora a sua prestação seja bastante reduzida.
Mike Nichols, um cineasta que conviveu com o sistema dos Estúdios durante longas décadas (ele era oriundo do Teatro), consegue levar a bom porto este “Jogos do Poder” / “Charlie Wilson’s War”, oferecendo-nos uma imagem da classe política e do mundo contemporâneo, que nos deixa perplexos, porque mesmo que tenhamos um sorriso na cara após o visionamento da película, sabemos que a brincar se vão contando as verdades dos factos e depois ao vermos as notícias do mundo no pequeno écran e escutamos os “grandes dirigentes” deste planeta, só podemos temer o pior... mas esperemos que não..
Rui Luís Lima
Mike Nichols - (1931 - 2014)
ResponderEliminarClassificação: 4 estrelas (****)
Estreia em Portugal: 3 de Janeiro de 2008.