sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Robert Wise - “Música no Coração” / “The Sound of Music”


Robert Wise
“Música no Coração” / “The Sound of Music”
(EUA – 1965) – (174 min. / Cor)
Christopher Plummer, Julie Andrews, Eleanor Parker, Richard Haydn.

“Música no Coração” é aquele musical que todos nós já vimos quando éramos crianças, quanto a mim fiquei perfeitamente emocionado pela história da família do Capitão Von Trapp, na época as sessões esgotavam e o êxito foi enorme como todos sabemos.


“The Sound of Music” tinha a dirigi-lo um homem que andou uma vida de mãos dadas com a Indústria, Robert Wise, já com um célebre musical no curriculum, “West Side Story” / "Amor Sem Barreiras" e mais uma vez ele veria o seu esforço reconhecido através dos Oscars, mas em “Música no Coração” temos o encanto e a frescura de Julie Andrews, a inglesa que fora estrela em “Mary Poppins” de Walt Disney, que lhe ofereceu a oportunidade tão desejada pela actriz depois de ela ter sido recusada para o papel de “My Fair Lady”, porque os Estúdios pretendiam um nome seguro chamado Audrey Hepburn. Julie Andrews não deixou fugir esta oportunidade e depois a história é conhecida de todos, embora no ano seguinte Alfred Hitchcock tenha lamentado o seu cachet altíssimo em “Cortina Rasgada” / “Torn Curtain”. Ao lado de Julie Andrews em Música no Coração” temos Christopher Plummer já com uma carreira segura no cinema e na televisão e a bela Eleanor Parker (Baronesa Elsa Schraeder), que ficou um pouco esquecida neste filme devido à personagem que interpreta, rival de Maria na luta pela posse do capitão Von Trapp.


Maria é uma daquelas raparigas que tem jeito para tudo menos para estar num Convento e como ainda é noviça e se porta muito mal no seu interior, fugindo dele “a sete pés” correndo pelos campos a cantar em vez de se dedicar à oração, a Madre Superiora decide encarregá-la de uma missão, ser a ama dos filhos do Capitão Von Trapp, só que as crianças, Liesl, Friedrich, Louisa, Kurt, Brigitta, Marta e Grett, decidem fazer-lhe a vida negra e quando são sete a tarefa é mesmo difícil, mas Maria a pouco e pouco consegue entrar no coração das crianças e mais tarde há-de chegar a vez do rígido e militar Capitão Von Trapp, para grande alegria das crianças e tristeza da Baronesa. Tudo parece encaminhar-se para aquele “mar de rosas” mas a história, com a chegada dos nazis ao poder na Áustria, provoca profundas alterações na família e no patriotismo do Capitão que não vê com bons olhos a bandeira da cruz suástica ao vento na entrada de sua casa, originando um conflito com a autoridade vigente e aqui só lhe resta aceitar um cargo na Marinha do Terceiro Reich ou pôr-se em fuga, ainda por cima com a filha mais velha apaixonada por um jovem militar hitleriano. Somos obrigados a reconhecer que o argumento de Ernest Lehman, colaborador de Hitchcock, está carpinteirado de forma soberba, apesar de baseado numa história real.


Robert Wise, o homem que aceitou a ordem dos Estúdios para refazer a segunda obra de Orson Welles, “O Quarto Mandamento” / “The Magnificent Ambersons”, dando desta forma o primeiro tiro no Génio, construiu uma obra que irá ficar para sempre na memória de todos. Aliás, temos que reconhecer o seu trabalho de montagem em “Citizen Kane” / "O Mundo a Seus Pés" e depois até como cineasta subiu a escada a pulso, aprendendo todos os passos da arte cinematográfica, embora, apesar de todos os sucessos, na memória dos cinéfilos ele seja sempre recordado como o autor do “happy-end” forçado de “O Quarto Mandamento”. Deixando de parte esta questão somos obrigados a reconhecer que “Música no Coração” é um dos mais belos musicais da História do Cinema, o filme que encheu de dinheiro os bolsos dos produtores e fez a delícia das plateias. Por outro lado convém referir um caso curioso passado na idade do vídeo, quando a película foi lançada na célebre cassete, usando o famoso “pan and scan” para encher o écran do televisor, todos descobrimos como algo de errado estava no processo, dos sete filhos do capitão Trapp, muitas vezes víamos quatro e meio e por aí fora, depois com o nascimento do dvd, esse aspecto foi corrigido e assim podemos usufruir em toda a sua plenitude a película e as suas canções inesquecíveis.


Recordar hoje “Música no Coração” sem "complexos cinéfilos" é um dever, porque estamos perante um musical inesquecível e como iniciámos esta crónica com memórias de infância, terminamos com outra memória já do nosso período cinéfilo, a forma mordaz como Blake Edwards (marido de Julie Andrews) nos ofereceu a visão do início da película no célebre "cartoon" da Pantera cor-de-rosa, a anteceder mais uma aventura do “brilhante” inspector Clouseau, vale a pena ver. Revisionismos à parte, somos obrigados a reconhecer que “The Sound of Music” perdura na memória de todos os cinéfilos, como um musical inesquecível.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. Robert Wise - (1914 - 2005)
    Classificação: 5 estrelas (*****)
    Estreia em Portugal: 10 Janeiro de 1966.

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