Ernst Lubitsch
“A Oitava Mulher do Barba Azul” / “Bluebeard’s Eighth Wife”
(EUA – 1938) – (85 min. – P/B)
Claudette Colbert, Gary Cooper, Edward Everet Horton e David Niven.
Poderemos dizer que temos neste filme o quinteto perfeito constituído, à frente da câmara, por Gary Cooper, Claudette Colbert e Edward Everet Horton e, por detrás da câmara, pela dupla Ernst Lubitsch e Billy Wilder, respectivamente cineasta e argumentista e se Lubitsch é perfeito já Wilder é genial, na forma como escreve o argumento e cria gags, que 80 anos depois nos deixam estupefactos pela visão deste homem, que foi ”impedido” por Steven Spielberg de realizar “A Lista de Schindler”.
Michael Brandon (Gary Cooper) é um multimilionário que está de férias na Riviera e se cruza com a bela Nicole de Loiselle (Claudette Colbert), uma aristocrata falida, que o ajuda na compra de um pijama em que ele fica com o casaco e ela com as calças, numa sequência memorável em que se fala de tudo: capitalismo e mercados, comunismo e chapéus de palha, deveres e direitos, conhecemos o “bisavô” do telemarketing, até chegar a esse momento crucial em que se descobre que soletrar a palavra “Checoslováquia” em sentido inverso combate as insónias!
Depois há essa famosa banheira de Luis XIV e a entrada em cena do Marquês de Loiselle (Edward Everett Horton) e mais à frente da Psicanálise e do doente que pensa que é galináceo… mas estou a ir demasiado depressa. Michael Brandon (Gary Cooper) é um homem cuja “experiência” lhe ensinou que o dinheiro compra tudo e Nicole de Loiselle (Claudette Colbert), que o adora, pretende demonstrar-lhe precisamente o contrário.
Se ela se casa por amor, ele pensa que ela o aceitou para salvar o pai da falência e o pior é que ele é da estirpe de Henrique VIII, já que ela Nicole é a sua oitava mulher, embora ele nunca tenha assassinado nenhuma das anteriores esposas, apenas lhes ofereceu uma choruda pensão alimentar com o respectivo divórcio, enquanto o amor na sua vida permanece por descobrir.
Entramos assim na famosa guerra dos sexos em que temos uma sequência que nos dias de hoje daria brado, porque se alguns se recordam da bofetada de Glenn Ford a Rita Hayworth em “Gilda”, a que Gary Cooper dá a Claudette Colbert é muito pior (e o ar de espanto dela no filme, revela bem a surpresa da actriz), para de imediato replicar da mesma moeda. E aqui, só pode ter havido um take!
“A Oitava Mulher do Barba Azul” / “Bluebeard’s Eighth Wife” é uma arrojada comédia da dupla Lubitsch/Wilder que, 80 anos depois, permanece extremamente actual e que bem merece ser redescoberta, porque nela habita a genialidade que vivia no saudoso cinema clássico e já agora, para deixar aqui uns “spoilers” (raio de palavra), confesso que a bela Nicole irá conseguir demonstrar que não há dinheiro nenhum no mundo que compre o amor, porque o mais belo sentimento nunca irá conseguir namorar com a especulação bolsista, quanto mais viver e isso irá ela ensinar a Michael Brandon!
Gary Cooper & Claudette Colbert
Rui Luís Lima
Sem comentários:
Enviar um comentário