“Ensaio de Orquestra” / “Prova D’Orquestra”
(Itália – 1978) – (70 min. / Cor)
Balduin Baas, Clara Colosimo, Franco Lavarone, David Maunsell.
No livro entrevista que Federico Fellini deu a Damian Pettigrew, intitulado “Sou um Grande Mentiroso”, que também deu origem a um maravilhoso documentário sobre o cineasta, Fellini fala nestes termos do seu filme “Ensaio de Orquestra”:
“É curioso que tanta gente me tenha atacado por eu ter feito “Prova d’orchestra” sustentando que se trata de uma apologia do fascismo. É uma ideia atroz! Outros sustentavam que eu mostrava finalmente algum interesse pela política e que o filme era o meu primeiro ensaio político, e que eu devia esquecer a minha ingenuidade. Outras pessoas também criticaram o filme dizendo que eu era reaccionário, conservador, ou ainda um amontoado avulso de declarações místicas, uma alegoria política. “Ensaio de Orquestra” não é nada disso: é um apólogo que me foi inspirado pelo texto “O Director de Orquestra” em “Massa e Poder”, de Elias Canetti, uma reflexão monumental sobre a natureza da violência, um clássico que o meu amigo de grande cultura Brunello Rondi me tinha aconselhado a ler durante a rodagem de “Casanova”. Por isso o director encarna literalmente o trabalho que a orquestra está a tocar, a simultaneidade dos sons e a sua sucessão; e uma vez que durante a execução, se supõe que nada mais existe para lá deste trabalho, nesse lapso de tempo o director de orquestra é o senhor do mundo.”
Federico Fellini defende deste modo os ataques que surgiram de todas as direcções após a estreia do filme “Ensaio de Orquestra”, na época até se escreveu que o sequestro do Maestro surgia como uma referência ao rapto de Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas.
A película, realizada em 1978, oferece-nos o retrato de um país através dos diversos músicos que constituem a orquestra e convém recordar que no início do filme iremos encontrar a orquestra nos ensaios, dirigida por um Maestro alemão, ensaios esses que estão a ser registados por uma cadeia de televisão e perante a presença deste media os músicos decidem apresentar as suas reivindicações salariais, ao mesmo tempo que as rivalidades adormecidas acordam e entram em conflito.
O Maestro, perante aquele motim, decide sair da sala e acompanhado pela jornalista irá conversar com ela sobre a visão que possui do universo musical, enquanto na sala se instaura o caos, demonstrando bem como uma orquestra não funciona sem uma regência adequada. E na sala de ensaio, rapidamente, das palavras ofensivas se passa à agressão, repare-se no duelo entre a violinista e o clarinetista, ao mesmo tempo que cada um defende a importância que possui o instrumento que toca no interior da orquestra. Retrato de uma orquestra, sinónimo do retrato de um país, esta película de Federico Fellini foi também muito atacada pela nacionalidade do Maestro não ser italiana, mas sim alemã.
Aliás, foram muitos que viram na figura ditatorial do Maestro o retrato de um dos mais famosos e geniais Maestros alemães de todos os tempos e talvez por isso mesmo esta película levantou tão enorme polémica.
O famoso motim dos músicos só irá terminar quando uma bola de ferro situada numa grua entra pela sala dentro, destruindo a parede e aqui o medo instala-se pela primeira vez no seio da orquestra, com o que está a suceder e quando o Maestro regressa à sala, todos retomam os seus lugares e o ensaio recomeça debaixo da batuta do director da orquestra, que a conduz com mão de ferro, rumo ao universo musical, sem quaisquer condescendências, em busca dessa famosa beleza musical, que nos acaricia a alma e nos alimenta os sentidos.
Revisto nos dias de hoje, este “Ensaio de Orquestra” / “Prova D’Orquestra”, surge como uma pequena pérola do universo Felliniano, que bem merece ser redescoberta e amada.
Rui Luís Lima
Federico Fellini - (1920 - 1993) - foi um dos mais importantes cineastas italianos, os seus filmes são únicos e refltem o pensamento do realizador, tantas vezes barroco, mas de uma enorme sensibilidade. O seu cinema filia-se naquilo a que se considerou cinema de autor.
ResponderEliminarClassificação: 5 estrelas (*****)
Estreia em Portugal: 27 de Novembro de 1980.