"Atrás do Espelho" / "Bigger Than Life"
(EUA – 1956) – (95 min. / Cor)
James Mason, Barbara Rush, Walter Matthau.
No início desta película de Nicholas Ray, surge uma América típica dos melodramas de Douglas Sirk, quando vimos o Professor Ed Avery (James Mason) na sala de aula com um aluno. Pouco depois, surge a correr para uma companhia de táxis onde trabalha para poder sustentar a família e assim descobrimos que nesta América não há lugar para as personagens dos filmes de Douglas Sirk. Esta América é muito mais dura e a existência do segundo emprego é escondida da mulher e do filho, representantes de um "Perfect Way ofLlife", pelo Professor Ed Avery.
Quando descobrimos que Ed Avery está doente, a situação agrava-se e nasce a possibilidade da cura através de um medicamento então pouco conhecido e ainda em fase experimental chamado cortisona. Convém aqui referir que o argumento do filme é baseado num artigo da "New Yorker", onde era narrada uma experiência com este medicamento. James Mason, leu e gostou tanto dele que decidiu produzir o filme, escolhendo Nick Ray para o realizar. Na época a morte de James Dean ainda se fazia sentir no cineasta e Clifford Odets foi o argumentista creditado, embora muitos outros tenham colaborado na escrita.
Os efeitos secundários da cortisona, então desconhecidos, vão-se abater sobre a vida de Ed Avery e tanto a sua mulher Lou Avery (Barbara Rush), como o filho, vão ser as vítimas das suas alterações comportamentais. Aparentemente Ed Avery surge no lugar do politicamente correcto, para pouco depois cair no excesso, dizendo muitas coisas incómodas para os ouvidos de terceiros, veja-se a reunião com os pais na escola. Para fugir à dor, faz-se passar por falso médico para conseguir comprar mais comprimidos, que começam a funcionar para ele como verdadeira droga, tornando-o dependente deles para sobreviver. Mais uma vez James Mason oferece-nos um dos mais brilhantes exercícios de interpretação da sua carreira e o "scope" de Nick Ray esmaga-nos com a sua contenção. A vida de Ed Avery é, a pouco e pouco, alterada perante uma mulher passiva no seu lugar de esposa e um filho revoltado, que procura os comprimidos do pai para os deitar fora, já que eles representam para ele o mal de todos os pecados.
Walter Matthau, ainda longe das comédias delirantes que nos ofereceu ao longo da carreira em dupla com Jack Lemmon, surge aqui como o amigo de Ed Avery e confessor de Lou, num papel onde a amizade é fruto de uma certa ambiguidade e a traição espreita em cada esquina. Ele não se interessa pela colega solteira da escola, mas vive para ajudar Lou a resolver os seus problemas com Ed. Quem desejar poderá sempre fazer uma leitura diferente. Quanto a Lou, ela representa a "Mrs. Right", a esposa mais-que-perfeita junto do marido, até ao momento em que entende que, se nada fizer, ele a irá conduzir até à morte, arrastando com eles o seu filho. O mal está simbolizado no medicamento ou estará no próprio homem, nesse ser que muitas vezes vive escondido no nosso interior, esperando o momento para atacar. Ed Avery (James Mason) deseja o melhor dos mundos para a família e a sua luta com o medicamento sai vitoriosa no final. Nicholas Ray oferece-nos um filme brilhante, com interpretações bem marcantes, fruto de uma excelente direcção de actores e embora happy-end possa ser motivo de discordância para alguns, já para nós estas personagens, depois de tanto terem sofrido, bem mereceram a Felicidade reencontrada.
Rui Luís Lima
Nicholas Ray - (1911 - 1979)
ResponderEliminarClassificação: 5 estrelas (*****)
Estreia em Portugal: 4 de Fevereiro de 1957.