segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Roger Vadim - “Barbarella”


Roger Vadim
“Barbarella”
(França – 1968) – (98 min. / Cor)
Jane Fonda, John Phillip Law, Anita Palenberg,
Marcel Marceau, Ugo Tognazzi, David Hemmings.

Quando hoje se fala em Roger Vadim, de imediato um filme vem à memória de todos: “E Deus Criou a Mulher” / “Et Dieu Créa la Femme” onde descobrimos essa rapariga que se “arrastava” no areal, chamada Brigitte Bardot, celebrizada pouco tempo depois como esse Mito chamado simplesmente “B.B.”. E o sucesso dessa jovem de média estatura foi tão grande que ultrapassou o chamado território comercial, onde sempre (sobre)viveu o cinema de Roger Vadim, para a irmos encontrar no cinema de autor por excelência, nesse filme de jean-Luc Godard intitulado “O Desprezo” / “Le Mépris”.


Curiosamente “E Deus Criou a Mulher” foi um dos maiores êxitos da Nouvelle Vague, goste-se ou não de considerar Vadim como companheiro dessa geração, apesar de rapidamente se ter afastado, nessa busca incessante do êxito.


Um dado que nunca é demais referir é que muitas das estrelas femininas dos seus filmes também compartilharam a vida do realizador, tendo uma delas sido precisamente Jane Fonda, no apogeu da sua beleza e Roger Vadim percebeu de imediato que tinha encontrado a actriz ideal para protagonizar a heroína da então famosa banda desenhada erótica de Jean-Claude Forrest, “Barbarella”, a célebre rainha da Galáxia, em luta pelo direito ao desejo


Nesse ano de 1968, data de tantas convulsões em França, Roger Vadim (que foi casado com Jane Fonda entre 1965-1973) apostava num filme erótico com uma estrela americana, possuidor de uma artificialidade retro e tendo como director de fotografia o grande Claude Renoir. Logo a abrir, no genérico, vamos encontrar um dos momentos altos do filme com um(a) astronauta a fazer o seu “strip” generoso, de forma a cativar de imediato a audiência e podemos assegurar que Jane Fonda não deixa os créditos por mãos alheias. E como nestas coisas de cinema francês o Jean-Luc Godard vem sempre à baila, não há nada como comparar a Jane Fonda de Vadim, com a Jane Fonda de Godard em “Tout va Bien” (falaremos dele amanhã) para entendermos o que mudou nos horizontes da vedeta durante esses anos.


Em “Barbarella” iremos descobrir que a Terra vive em paz desde longa data e a sexualidade já não é o que era, porque os seus habitantes ingerem pílulas que lhes oferecem o mais belo dos prazeres mas, no distante e negro Planeta Lythion, no amor nada mudou e em Sogo, a cidade da noite, a Rainha Negra oferece aos seus habitantes as maiores perversidades, para seu próprio deleite. E, perante o “caos” que se adivinha, o Presidente do Planeta Terra decide enviar a famosa Barbarella para Sogo, a fim de pôr termo à ameaça que se aproxima com o célebre Raio Positrónio criado por Durand-Durand (Milo O’Shea). Durante a sua viagem ela irá cruzar-se com o caçador Mark Hand (Ugo Tognazzi), esse anjo cego chamado Pygar, uma Fénix renascida das cinzas (John Phillip Law) e o revolucionário Dildano (David Hemmings) que a irão ajudar na sua difícil missão.


Esta adaptação cinematográfica da banda desenhada criada por Jean-Claude Forrest possui traços próximos das aventuras do conhecido Flash Gordon na sua luta com Ming, da autoria do célebre Alex Raymond. Embora tenham surgido em épocas diferentes, com muitos anos de distância, as duas bandas desenhadas são possuidoras de uma carga erótica que farão imenso sucesso. Mas, no filme de Roger Vadim, impera o “kitsch” do princípio ao fim, muito fruto da época, e quando revemos este filme só nos apetece sorrir, devido a um desejo, de certa forma ingénuo, que se sente respirar através de cada fotograma. Só para terminar, uma chamada de atenção para a participação do maior Mimo de sempre, Marcel Marceau na figura do Professor Ping.


Sabemos que, nos dias de hoje, são muito poucos os apreciadores do cinema de Roger Vadim, "um cineasta de mulheres", sempre em busca do sucesso, espreitando o erotismo como se fosse um “voyeur”, mas bastava a existência de “E Deus Criou a Mulher” para nunca nos esquecermos dele e da vedeta que então ofereceu ao mundo, de seu nome Brigitte Bardot. Quanto a esta “Barbarella” não há nada como uma visita, para se perceber melhor o universo criado por Jean-Claude Forrest, que abriu novas portas à banda desenhada contemporânea.

Rui Luís Lima

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