“Era Uma Vez na America” / “Once Upon a Time in America”
(EUA - 1984) – (229 min. / Cor)
Robert De Niro, James Woods, Elizabeth McGovern, Tuesday Weld, Treat Williams.
A América esse Paraíso que nos acorda nas noites de sonho para a Estrada 66 e as viagens “cost to cost” de Jack Kerouac, teve sempre um comportamento original em relação ao desenvolvimento do cinema, desde o seu início, criando teorias e mitos que por vezes o nosso olhar Europeu, e muitas vezes antiamericano, não consegue atingir. E a origem de tudo isto, está necessariamente nesses homens, antigos pesquisadores de ouro, com a fortuna coberta de pó, de mãos rudes, que construíram nas feiras pequenos teatros, onde se exibiam filmes para divertimento do público. Esses homens eram verdadeiros "Vendedores de Sonhos" (1) que ofereciam o espectáculo em troca de um nickel, nascendo assim os "Nickleodeons", repletos de multidões que se deslumbravam com as imagens em movimento.
Fascínio de todos os cineastas Europeus, a América e a sua história têm sido retratados no cinema dos mais variados prismas, (2) surgindo finalmente um dos retratos mais belos e cruéis através do olhar de Sergio Leone.
Criador do Western Spaghetti, onde pontificou Clint Eastwood e mais tarde Charles Bronson no admirável "Era Uma Vez no Oeste" / “Once Upon a Time in The West”, com Henry Fonda a personificar um admirável vilão, Sergio Leone foi sem dúvida alguma o mais americano dos cineastas europeus e não é certamente por acaso que assinou inicialmente, como Bob Robertson a película "Por Um Punhado de Dollars" que o tornaria célebre.
"Era Uma Vez no Oeste" é um dos mais belos e melancólicos westerns realizados, com uma banda sonora que nos ficou no ouvido para sempre e depois temos sempre a beleza de Claudia Cardinalle a perturbar o olhar de Charles Bronson, no seu melhor papel e aqui estamos no território da edificação de uma nação, cuja continuação será de certa forma o portentoso "Era Uma Vez na América" / “Once Upon a Time in America”.
Era uma vez, assim começam todas as histórias que os nossos avós nos contavam. "Era Uma Vez" um filme sobre a América, olhada do outro lado do oceano.
Como todas as histórias, esta é baseada na amizade entre homens, num universo onde as mulheres têm um papel secundário. Sendo um dos segredos da película, as elipses nas passagens do tempo, revelando-se a mais bela de todas, a que nos é oferecida na Central Station: uma elipse de 25 anos!
Viajando no tempo, vertiginosamente e contando com Robert de Niro e James Woods nos protagonistas, numa história de amizade e traição, Sergio Leone constrói uma das mais belas narrativas que o cinema nos ofereceu. E se Robert de Niro um dos maiores actores de sempre está excelente, já James Woods possui aqui uma das suas mais deslumbrantes interpretações.
Quando escutamos em casa a extraordinária banda sonora de Ennio Morricone de imediato as imagens do filme surgem na nossa memória, acompanhando a infância, adolescência e amizade de um grupo de amigos que se irá desmoronar, ao mesmo tempo que o corpo da pessoa amada navega sem destino nos braços de quem detém o poder.
Rever "Era uma vez na América" é um dos momentos mais gratificantes da História do Cinema e graças ao DVD podemos também fazer sessão dupla com as duas Américas de Sergio Leone, a do Oeste e a da “Big Apple”, em ambas navega essa velha questão chamada: o Poder Político.
(1) - Procurem o fabuloso "O Vendedor de Sonhos" / “Nickleodeon” de Peter Bogdanovich.
(2) - "As Portas do Céu" / "Heavens Gate" do Michael Cimino, que levou à falência a United Artists e que nos ofereceu uma visão da América sem contemplações.
(3) - Se gosta de Sergio Leone não perca o livro editado pelos Cahiers du Cinema, sobre a obra do cineasta.
Rui Luís Lima
Sergio Leone - (1929 - 1989)
ResponderEliminarClassificação: 5 estrelas (*****)
Estreia em Portugal: 7 de Fevereiro de 1986.