terça-feira, 4 de março de 2025

Éric Vuillard - “A Ordem do Dia” / “L’ordre du jour”


Éric Vuillard
“L’ordre du jour”
Paginas: 150
Actes Sud

Éric Vuillard
“A Ordem do Dia”
Páginas: 144
Dom Quixote

“L’ordre du jour” é o livro vencedor do famoso “Prix Goncourt” de 2017, o mais famoso Prémio Literário Francês, e na verdade estamos perante um desses livros que nos prende da primeira à última página, quase não nos deixando respirar para fazer uma pausa, enquanto a História se desenrola perante o nosso olhar de forma profundamente visual e com uma escrita extremamente elegante, saída da pena de Éric Vuillard, que nos cativa desde a primeira linha, com o encontro entre as principais figuras da Finança e Indústria Alemãs com os representantes máximos dessa organização política que irá governar a Alemanha entre 1933-45.

Estamos assim neste livro genial perante factos ocorridos, mas esquecidos, a bem do grande capital que nos governa, porque são na realidade bem inconvenientes e nada politicamente correctos e depois graças a um minucioso trabalho de pesquisa histórica por parte do escritor, ficamos a saber como Hitler cativou o grande capital alemão, que financiou o seu Partido Nacional-Socialista desde a primeira hora, bem como a forma como “certas elites” do outro lado do Canal da Mancha o apresentavam como um bom político a ter em conta, para além da forma condescendente como era olhado por outros, que viam nele um grande dirigente e um exemplo a seguir.

Éric Vuillard

Por outro lado, a forma como nos é apresentada neste livro de Éric Vuillard a célebre “anexação pacífica” da Áustria e a conhecida entrada de Hitler em Viena, são dignas de registo neste fabuloso “L’ordre du jour”, sendo revelados alguns famosos incidentes escondidos da História. E se vivemos num século XXI em que o passado "não interessa para nada", só o presente conta, é por demais importante realçar o contributo que este livro de Éric Vuillard oferece para, ao conhecermos a história oculta do passado recente, percebermos melhor os contornos do tempo presente. Porque só ao analisarmos os erros cometidos no passado, será possível não voltar a repeti-los no futuro.

“L’ordre du jour” de Éric Vuillard é um pequeno grande livro, verdadeiramente incontornável, que incomodou e foi rapidamente esquecido com o passar dos anos. Mas recentemente ao ler um artigo na revista "Electra" (a melhor revista cultural publicada neste cantinho perdido da Europa), em que se fazia referência a um pequeno excerto do discurso que Hitler proferiu em Viena (*), na época retrata neste livro, terminei por regressar à leitura deste livro de Éric Vuillard pela terceira vez.

(*) - Ludwig incomodava com o que escrevia o seu antigo colega de escola Adolf.

Rui Luís Lima


Na escola os alunos e os professores pousam para uma fotografia,
dois dos alunos virão a ser muito conhecidos, por razões bem
diferentes e não simpatizavam um com o outro:. 
um chamava-se Ludwig Wittgenstein e o outro Adolf Hitler.


«Ils étaient vinte-quatre, près des arbres morts de la rive, vinte-quatre pardessus noirs, marrons ou cognac, vinte-quatre paires d’épaules rembourées de laine, vinte-quatre costumes trois pièces, et le Même nombre de pantalons à pinces avec un large ourlet. Les ombres pénètrèrent le grande vestibule du palais du presidente de l’Assemblée; mais bientôt, il n’y aura plus Assemblée, il n’y aura plus de président, et, dans quelques années, il n’y aura même plus de Parlement, seulement un amas de décombres fumants.»

Éric Vuillard
“L’ordre du Jour”

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