Fernando Cerchio - “A Rainha do Nilo” / “Nefertite, regina del Nilo”

Fernando Cerchio
“A Rainha do Nilo” / “Nefertite, regina del Nilo”
(Itália – 1961) – (106 min./Cor)
Jeanne Crain, Vincent Price, Edmund Purdon.

Quando o cinema entrou na década de 60, do século XX, já tinha perdido a guerra com a televisão, que lhe retirou as famosas audiências, que enchiam as salas de cinema, tendo uma larga fatia do público optado por ficar no conforto do lar a ver essa caixa que iria mudar o mundo: a televisão.

Quando surgiu a televisão os principais Estúdios decidiram apostar na grandiosidade dos filmes e no célebre “scope”, para assim impedir a fuga dos espectadores, mas como sabemos iria terminar por ser derrotado, embora muitos desses filmes fossem verdadeiras obras-primas, com elencos e décors luxuosos. Por outro lado os produtores tendo em conta os elevados custos de produção norte-americanos, terminaram por encontrar na Europa o perfeito oásis para continuarem a exploração desse filão cinematográfico e assim surgiriam diversos filmes com um reduzido elenco de estrelas de Hollywood, sendo os restantes actores oriundos dos países onde se efectuava a respectiva rodagem e o mais curioso desta política cinematográfica é que ao revermos muitas dessas películas, encontramos um conjunto bem interessante de filmes, que infelizmente se encontram completamente esquecidos nos dias de hoje, até alguém os ver e decidir, “pela calada da noite”, fazer um “remake” e, escondendo o facto, rentabilizar a sua descoberta.

O cineasta italiano Fernando Cerchio, realizador de alguns filmes do célebre Tótó e conhecedor desse género “menor” que é o “Peplum” é um desses casos e “Nefertite, regina del Nilo” / “A Rainha do Nilo”, um filme a ver, pois possui todos os ingredientes que caracterizaram uma certa produção cuidada da década de 60 e onde encontramos a bela Jeanne Crain a dar rosto a Nefertite, que com Cleópatra serão dois nomes bem conhecidos do espectador de cinema. Já o genial Vincent Price, celebrizado pelas suas prestações no interior do cinema de terror, demonstra bem aqui as suas qualidades como actor e não nos esqueçamos da sua prestação em “Laura” de Otto Preminger.

Embora a maioria do elenco neste filme seja italiano, as suas vozes foram dobradas para inglês, com cuidado, até temos no genérico referência ao nome do responsável por esse trabalho. Por outro lado o trabalho de Fernando Cerchio oferece-nos um maravilhoso “scope” em “A Rainha do Nilo”, para além de todos os aspectos do filme estarem devidamente “calibrados” ou seja nada se pode apontar, porque o que temos aqui é simplesmente o desejo de fazer cinema!

“A Rainha do Nilo” / “Nefertite, regina del Nilo” é simplesmente um dos milhares de filmes que uma legião de cinéfilos continua a colocar nesse espaço que é a net onde a partilha cinematográfica nos conduz à descoberta de inúmeras pérolas cinematográficas, que vivem no limbo dos esquecidos. Como a sua permanência temporal nesse espaço é sempre uma incógnita, quando as encontrar trate de usufruir desse belo prazer que é a Sétima Arte, mesmo que não seja na famosa sala de cinema!

Rui Luís Lima