domingo, 30 de março de 2025

James Foley - “Sucesso a Qualquer Preço” / “Glengarry Glen Ross”


James Foley
“Sucesso a Qualquer Preço” / “Glengarry Glen Ross”
(EUA – 1992) – (100 min. / Cor)
Al Pacino, Kevin Spacey, Alex Baldwin,
Alain Arkin, Ed Harris, Jonathan Price, Jack Lemmon.

James Foley é um daqueles cineastas que desde sempre nos ofereceu nos seus trabalhos as linhas que definem um autor, bastando recordar “At Close Range” / “Homens à Queima-Roupa”, com Sean Penn e Christopher Walken, para percebermos como ele adora trabalhar com os actores, obtendo deles os melhores resultados, sempre a filmar à flor da pele, sem contemplações sentimentais e usando uma linguagem dura e pura.


“The Corruptor”/ “Corruptor” , outra das suas obras que juntou o então pouco conhecido Mark Wahlberg a Yun-Fat Chow, numa história de corrupção policial, transporta-nos até esses limites onde gosta de navegar. Em “Confidence” / “Confiança”, onde Edward Burns brilha ao lado desse actor espantoso chamado Dustin Hoffman, vamos conhecer o famoso jogo do gato e do rato, tão célebre no universo dos vigaristas. Mas o maior duelo de actores na obra de James Foley surgiu em “Glengarry Glen Ross”, baseado numa das peças mais conhecidas de David Mamet, que o próprio adaptou ao grande écran.


E neste “Sucesso a Qualquer Preço” / “Glengarry Glen Ross” (o nome das famosas fichas tão ambicionadas pelos vendedores), ele reúne um naipe de actores que nadam no filme como peixes na água, revelando todo o seu saber.


Vamos assim entrar nesse escritório de venda de terrenos e casas, num scope admirável, para descobrirmos que naquele lugar já nada é como dantes, as vendas correm mal e as fichas oferecidas pelo responsável do escritório, o metódico John Williamson (Kevin Spacey), já deram tudo o que tinham a dar, porque aqueles contactos estão todos “fora de prazo” e Shelley Levine (Jack Lemmon, numa interpretação memorável), já não é o famoso “Machine”, que todas as semanas tinha o seu nome no top de melhor vendedor da empresa. E será pela ineficácia das vendas naquele lugar que um dia surge, vindo da downtown, Blake (Alec Baldwin), que vai dar uma lição de vendas àqueles homens que outrora conheceram o sucesso e hoje se arrastam no telefone em busca de um comprador. A lição é muito mal recebida, mas o prémio que ele oferece, um caddilac, irá fazer com que todos se lancem num acto desesperado em busca de compradores e, claro, como Blake é cínico e mesquinho, o segundo prémio é um faqueiro.


Shelley (Jack Lemmon) está à beira do desespero, com um familiar doente no hospital e sem ter hipóteses de pagar as contas dos tratamentos e como todos sabemos os seguros de saúde nos Estados Unidos são implacáveis, já George (Alain Arkin) e Dave (Ed Harris) tal como Shelley só desejam deitar as mãos às fichas Glengarry Glenn Ross, porque ali existem nomes de compradores potenciais mas o manager do escritório, um Kevin Spacey sem contemplações, nega-lhes o acesso. Mas há um homem que não vira a cara à luta e esse homem chama-se Ricky Roma (Al Pacino), que ao saber que o prémio é um cadillac tenta convencer James Lingk (Jonathan Price), que ele conhece num bar, a comprar o terreno que ele precisa tanto de vender, percebendo desde o início que naquele homem casado e com uma boa situação financeira, existem desejos subterrâneos que ele tenta explorar, embora não saiba que quem controla a conta no banco é a esposa deste.


Se George e Dave só encontram como hipótese de sucesso o roubo das famosas fichas, já Shelley Levine decide entrar numa última batalha pelas vendas e aqui iremos descobrir um Jack Lemmon que veste a pele do vendedor com uma mestria espantosa. Por outro lado James Foley conduz o filme num crescendo de tensão até chegar esse dia em que se descobre que as famosas fichas foram roubadas e aqui entra a polícia que começa a interrogar todos os vendedores, porque todos são potenciais suspeitos. E será uma palavra, uma simples palavra que irá denunciar o autor, num dos momentos mais dramáticos da película.


Este naipe espantoso de actores oferece-nos uma das maiores lições de representação da Sétima Arte e rever este filme é, na verdade, entrar pela porta grande do cinema, porque embora parta de uma peça de teatro, James Foley oferece-nos de forma bem clara a linguagem do cinema numa obra que, vista na sala de cinema, nos prende desde o primeiro minuto (veja-se a entrada de Alec Baldwin logo no início), até chegar o famoso The End e o mesmo sucede quando revemos a película em dvd..


“Sucesso a Qualquer Preço” deixa-nos perfeitamente atordoados pelos socos que levamos no estômago ao longo do filme, sinónimo da genialidade de David Mamet que, em conjunto com James Foley e os protagonistas do filme, nos oferecem uma das obras mais espantosas do cinema contemporâneo norte-americano.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. James Foley - (1953)
    David Mamet - (1947)
    Classificação: 5 estrelas (*****)
    Estreia em Portugal: 17 de Setembro de 1993.

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