“Estrada de Fogo” / “Street of Fire”
(EUA - 1984) – (93 min. / Cor)
Michael Paré, Diane Lane, Willem Dafoe, Amy Madigan.
«Queimei tudo!», disse ele, antes de ir para Rockland.”
Diane di Prima
Acendemos um cigarro na noite e uma chama ilumina a brisa que sopra do Norte. O cheiro a gasolina invade-nos as narinas e atravessa as estradas escaldantes do silêncio.
Do outro lado da noite, um jovem vigilante, solitário, caminha pela estrada fora. Leva vestida a camisola trocada em Tânger com o Bill e transporta rolos de telex do Jack na mochila.
Do outro lado da vida, em Richmond, a estrela rock Ellen Aim, celebra a passagem pela sua cidade natal. A luz e o néon libertam o espaço fechado do palco, enquanto a música nasce na voz do anjo negro, vestido de vermelho. Mas o espectáculo não chega ao fim, já que os “Bombers” invadem a sala e raptam a estrela rock. Raven possui agora o seu objecto de amor e retoma à combustão da vida.
Coddy, tal como Ellen, regressa ao ponto de partida para dormir no passado. No entanto é o passado que o conduz a “Battery”, o acampamento inimigo, de Raven e seus discípulos, morcegos de duas rodas, ocultos na luz nocturna.
Um novo sol nasce na escuridão da cidade inimiga, invadida pelas explosões mortíferas de chamas translúcidas de amor e ódio, fruto do encontro de Coddy com Ellen e Raven. As barreiras são levantadas para evitar o regresso de duas forças nascidas no sangue das ruas. Mas o duelo tal como no “western”, entre o bem e o mal, personificação de forças opostas, impossibilitadas de viverem isoladamente, renasce em Richmond como se a cidade estivesse à beira do abismo.
Coddy é o herói típico, isolado, reflexo de uma colectividade que se teme a si própria. O seu comportamento é o de um líder solitário interrogado por um amor perdido e reencontrado no asfalto da vida. Já Raven é o chefe de uma tribo, que acredita no seu senhor, indestrutível e poderoso.
O duelo entre o bem e o mal nasceu com a matéria, sendo o resultado do seu confronto desconhecido de todos. Tom Coddy parte e McCoy acompanha-o. Ellen Aim, como todos os anjos perdidos na terra, espera pelo regresso ao território celeste.
Do outro lado da noite, sentado ao luar, nas Montanhas Rochosas olhando o oceano Pacífico, o cineasta Walter Hill escreve uma fábula do “Rock-n-Roll”, sem passado, nem futuro, nascendo assim os cristais de uma Estrada de Fogo.
Rui Luís Lima
Walter Hill - (1942)
ResponderEliminarClassificação: 5 estrelas (*****)
Estreia em Portugal: 25 de Janeiro de 1985.