domingo, 6 de abril de 2025

George Cukor - “Mulheres” / “The Women”


George Cukor
“Mulheres” / “The Women”
(EUA – 1939) – (134 min – P/B – Cor)
Norma Shearer, Joan Crawford, Rosalind Russell,
Joan Fontaine, Paulette Godard, Mary Boland.

George Cukor, ao longo da sua genial carreira como realizador, ficou conhecido com o cognome de “cineasta de mulheres” e na verdade esse t´tulo assenta-lhe como uma luva, tal é o número de estrelas que desfilaram no “plateau” à sua frente, mas se fosse necessário mencionar uma película para confirmar esse belo atributo, seria precisamente este “The Women” / “Mulheres”, em que desde logo, a abrir o filme, ficamos a conhecer como a zoologia olha estas belas mulheres: Mary Haines (Norma Shearer) é a corça; já Crystal Allen (Joan Crawford) é o tigre; Sylvia Fowler ( Rosalind Russell) a gata; Peggy Day (Joan Fontaine) a ovelha muito frágil; Miriam Aarons (Paulette Godard) a raposa; Condessa DeLave (Mary Bolan) a pobre macaca; a filha de Marie Haines ( Virginia Weidler) a gazela, já muito sabida; Mrs. Morehead, a mãe de Mary Haines (Lucile Watson) a coruja sabedora; Edith Potter (Phyllis Povah) a vaca e Lucy (Marjorie Main) a égua.


E chegados aqui convém dizer que George Cukor, que tudo aturou a David O’Selznick, que lhe aplicava um cognome bem diferente, quando se referia a ele, oferece a estas mulheres ou personagens se preferirem, uma ternura enorme, mesmo quando elas são um verdadeiro “diabinho”, espetando a faca nas costas umas das outras ou simplesmente erguendo a sua lâmina bem afiada para a usar de forma frontal com um sorriso nos lábios, como iremos ver ao longo deste genial filme e talvez por isso mesmo George Cukor, o cineasta das mulheres, não se inibiu, perante uma certa má-língua feminina e até convidou para protagonista a célebre Hedda Hopper, o terror dos tablóides, com quem convinha ter a melhor das relações na época dourada de Hollywood.


Mas agora dirão, então e os homens, não há universo feminino sem os cavalheiros? Neste caso eles estão sempre presentes, mas não fisicamente. Num rasgo de génio George Cukor convoca-os de forma (in)visível: vemos elas falando com eles, falando deles, saindo para se encontrarem com eles, enfim chorando por eles, quando a ruptura e o divórcio se aproxima, mas nunca os vemos. Conhecemos Mr. Haines mas nunca o vimos, esse Mr. Haines que tem uma amante e engana a mulher com a habitual desculpa dos afazeres profissionais, até chegar esse momento em que a sua amante Crystal Allen (Joan Crawford) decide jogar os seus trunfos e…


Como já referimos, estamos na alta-sociedade norte-americana e os célebres mexericos encontram sempre o ambiente propício para navegarem nesses locais frequentados apenas pelas senhoras e será quando vai arranjar as unhas, que Mary Haines (Norma Shearer) vai descobrir pela manicura, que não sabe quem ela é, que o seu famoso marido anda com uma empregada de perfumaria chamada Crystal Allen (Joan Crawford) e a partir daqui a bola de neve está lançada, porque quando ela descobre a traição, já todas as suas amigas o sabiam.


A forma inteligente como George Cukor aborda o universo feminino termina por o transportar para os nossos dias e se pensa que este filme está datado, confesso-lhe desde já que está profundamente enganado, porque as batalhas conjugais que iremos assistir, assim como essa luta interna bem feminina entre o orgulho e o amor, permanecem bem presentes neste século XXI. Por outro lado, cinematograficamente falando, a riqueza e o bom gosto da Arte de George Cukor expandem-se neste “The Women”, quando o filme passa de preto e branco a cores, quando elas assistem a um bem original desfile de moda, repleto de sinais sobre o que se passa na vida íntima de todas elas.


“The Women” / “Mulheres” de George Cukor, que vi já por várias vezes na Cinemateca e agora revi no pequeno écran, conduz a Arte do Cineasta das Mulheres até ao Olimpo dos Deuses!

Nota: Diane English fez um “remake” deste filme, mas o original é imbatível!

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. George Cukor - (1899 - 1983)
    Classificação: 5 estrelas (*****)
    Estreia em Portugal: 15 de Novembro de 1940.

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