quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Harold Budd / Brian Eno with Daniel Lanois - "The Pearl"


Harold Budd / Brian Eno
with Daniel Lanois
"The Pearl"
Editions EG / Virgin
1984

A colaboração entre Harold Budd e Brian Eno iniciou-se quando o músico britânico produziu essa obra-prima da música contemporânea intitulada “The Pavilion of Dreams”, para a sua própria etiqueta intitulada Obscure Records no ano de 1978.

Dois anos depois Brian Eno e Harold Budd assinaram a feitura do surpreendente “The Plateaux of Mirrors”, subintitulado Ambient 2 (o Ambient 1 foi o célebre “Music for Airports” de Brian Eno), que de imediato deixou quem o escutou rendido à genialidade destes dois músicos, que se encontravam a desbravar um novo território no interior da música contemporânea.

Brian Eno, Harold Budd & Daniel Lanois

O álbum “The Pearl” datado de 1984 é, como diz o título, uma verdadeira pérola que nos deixa de imediato cativados ao escutarmos o tema de abertura intitulado “Late October”, onde o piano de Harold Budd navega de forma melancólica e inebriante, acompanhado por texturas criadas por Brian Eno e Daniel Lanois, que aqui nos oferecem um trabalho de produção inesquecível, cuja beleza foi impossível de repetir, tal é a especificidade que foi delineada para este álbum genial.

Harold Budd, que aqui apenas toca piano, oferece-nos momentos de uma poesia cristalina em que a melodia e o minimalismo dão origem a um casamento mais-que-perfeito, basta aliás escutar temas como “Against The Sky” ou “The Pearl” para ficarmos conquistados pela sua beleza, por outro lado a forma como se encontram alinhados as 11 faixas que compõem este magnifico trabalho leva-nos a escutar este álbum como um todo, em que o eterno retorno é perfeito, já que o último tema “Still Return” faz a simbiose perfeita com a primeira faixa do álbum, intitulada “Late October”, levando o ouvinte a colocar o cd no” repeat” e partir por tempo indeterminado numa maravilhosa viagem através do cosmos na companhia de “The Pearl” de Harold Budd, Brian Eno e Daniel Lanois, naquele que é o mais belo e fascinante trabalho da música ambiental.

Rui Luís Lima

Harold Budd / Brian Eno / Daniel Lanois 
"Late October"

Milos Forman - “Valmont”


Milos Forman
“Valmont”
(França/EUA -1989) – (137 min. / Cor)
Colin Firth, Annette Bening, Meg Tilly, Fairuza Balk, Jeffrey Jones, Henry Thomas.

Todos nós fixámos o nome deste cineasta checo quando surgiu nos nossos écrans essa obra intitulada “Voando Sobre um Ninho de Cucos” / “One Flew Over the Cuckoo’s Nest”, baseada no livro do ex-beatnick Ken Keasy e, como alguns devem estar recordados, na época o cinema Quarteto fez uma retrospectiva do cineasta na qual foi possível descobrir alguns filmes do seu período checo, onde encontrámos obras como “O Ás de Espadas” / “Cerny Petr” sobre a adolescência, “O Baile dos Bombeiros” / “Hori má panenko”, retrato mordaz de uma sociedade e o maravilhoso “Amores de uma Loira” / “Lásky jedné plavovlásky” onde a imagem de um regime se fazia sentir, de forma perfeita e irónica. Depois, com a invasão da Checoslováquia pelas tropas de Pacto de Varsóvia, pondo fim à então chamada “Primavera de Praga”, Milos Forman optou por partir e escolheu a América como a sua segunda casa. Aí rodou primeiro “Os Amores de Uma Adolescente” / “Taking Off” e participou numa obra colectiva sobre os jogos olímpicos,”Visions of Eight”, tendo escolhido o decatlo para nos oferecer a sua visão sobre esta difícil modalidade.


Após o êxito estrondoso de “Voando Sobre um Ninho de Cucos”, realizou o infelizmente pouco conhecido “Ragtime”, retrato de uma nação e viu chegar o reconhecimento de todos com o célebre “Amadeus” em 1984. Cinco anos depois, decide levar ao grande écran o célebre livro de Chordelos de Laclos, “Ligações Perigosas”, tendo escolhido como argumentista o famoso Jean-Claude Carriére. E, mais uma vez, surpreendeu tudo e todos não só pela escolha dos actores: Colin Firth, Annette Bening e Meg Tilly, todos eles com grandes interpretações, como pela sua reconstituição histórica, simplesmente perfeita. Mas na época um outro Estúdio decidiu também levar ao grande écran o célebre romance, partindo da peça de teatro escrita por Christopher Hampton, com John Malkovich, Glenn Close e Michelle Pfeifer, que estaria concluído antes do filme de Milos Forman, terminando por ganhar na batalha das bilheteiras.


“Valmont” de Milos Forman, ao contrário do filme de Stephen Frears, privilegia a reconstituição histórica e o naturalismo, sendo o trabalho dos actores muito mais credível, fruto da excelente direcção do cineasta checo e, ao dizermos isto, não estamos de forma alguma a menosprezar a obra do britânico, apenas pretendemos referir que Forman nos oferece um retrato muito mais plausível e aliciante, fruto das interpretações espantosas dos actores e nunca nos podemos esquecer que esta foi a segunda película de Annette Bening, que nos mergulha numa Madame de Merteuil cheia de sensualidade e cinismo, em busca da vingança, após descobrir que o seu amante Gercourt (Jeffrey Jones) vai casar com a jovem e inocente Cecile de Volanges (Fairuza Balk).


Decide então envolver o seu amigo Valmont (Colin Firth) em apostas amorosas, cuja finalidade é oferecer ao seu amante uma noiva “em segunda mão”. E nesta rede de pequenos enganos e grandes ódios irão cair a bela e inocente Madame de Tourval (Meg Tilly), que se irá apaixonar perdidamente pelo belo Valmont, ao mesmo tempo que o jovem professor de música Danceny (Henry Thomas… em tempos o célebre amigo de “E.T.”) se irá por sua vez perder de amor e razão pela bela Cecília, fazendo-lhe a corte (sempre com a cumplicidade de Madame de Merteuil), apesar de saber que ela está prometida a Gercourt, nascendo aqui a mais perfeita história de intrigas onde todos acabarão por sair a perder, incluindo Valmont, que será morto num duelo pelo jovem Danceny.


Ao revermos hoje esta obra de Milos Forman, descobrimos que o seu ”Valmont” não apresenta as marcas da passagem dos anos, surgindo como um belo e profundo retrato de uma época, a França do século XVIII, em que os jogos de amor e traição conviviam abertamente com a morte e a perdição, porque o que aqui encontramos é esse profundo desejo de amar, esse mesmo desejo que irá consumir a bela Madame de Tourval (Mel Tilly), a qual nunca irá esquecer a enorme paixão que nutre por Valmont, reparem bem como ela vai deixando que o seu amor por ele lhe consuma a vida. A película realizada por Milos Forman respira Cinema por todos os poros!

Rui Luís Lima

Herberto Helder - "O Corpo o Luxo a Obra"


Herberto Helder
"O Corpo o Luxo a Obra"
Colecção: Subterrãneo Três
& etc

O editor Vítor Sílva Tavares da editora & etc em finais dos anos setenta do século passado lançou a colecção "Subterâneo Três", com uma tiragem muito limitada como era hábito na editora e embora mantivesse o famoso formato das edições da & etc, o material da capa era idêntico ao papel utilizado no interior do livro e a inaugurar a colecção foi escolhida uma obra do poeta Herberto Helder, que como alguns devem estar recordados foi galardoado com o famoso Prémio Camões, tendo recusado receber o prémio, que lhe oferecia uma avultada quantia.

Herberto Helder
(1930 - 2015)

Herberto Helder é um nome incontornável da poesia do século xx e sempre foi fiel a determinados princípios. "O Corpo o Luxo e a Obra" é nos dias de hoje uma raridade, sendo cobiçada por muito bibliógrafos, amantes dos livros e da poesia de Herberto Helder.

Rui Luís Lima

Roy Rogers - "Roque Texas - Punhos e Pistolas" - John Buscema / Alex Toth


Roy Rogers
"Roque Texas - Punhos e Pistolas"
Arte: John Buscema
Argumento: Alex Toth 
Mundo de Aventuras nº.s. 375 a 383
Ano: 1956

Até aos finais dos anos 60 do século passado, os heróis da banda desenhada viam os seus nomes originais aportuguesados (nem sei se esta expressão ainda é permitida usar) e assim muitos deles viam os seus nomes traduzidos e adaptados, sendo curioso que no país vizinho (na Espanha de Franco) sucedia o mesmo. O célebre cow-boy Roy Rogers (herói do cinema e televisão) surgiu também na banda desenhada e em Portugal foi "baptizado" com o nome de "Roque Texas", já o seu famoso cavalo "Triguer" passou a ser conhecido pelo "Gatilho".

Rui Luís Lima

Claude Monet - "Au Parc Monceau"


Claude Monet
"Au Parc Monceau"
Óleo sobre tela
72,7 x 54,3 cm.
Ano: 1878

OM - “Cerberus”


OM
“Cerberus”
JAPO 60032
JAPO Records
1980

Christy Doran – guitar, twelve-string guitar, guitar synthesizer.
Urs Leimgruber – soprano saxophone. tenor saxophone, flute.
Bobby Burri – bass.
Fredy Studer – drums, gong.
Erdman Birke – accordion (faixa 6)

1 – Dreaming for the People – 9:14
2 – Cerberus Dance – 5:48
3 – Asumusa – 4:46
4 – At My Ease – 9:20
5 – Earworms – 5:07
6 – Eigentlich Wolfe Johann Auf Dem Mond Den Andern Jazz Kennenlernen – 11:31.

"OM"

A Banda OM surgiu pela primeira vez em gravação discográfica graças ao célebre Festival de Jazz de Montreaux, em 1975, conhecido por ser um Festival sem fronteiras musicais, onde todos os géneros convivem numa salutar harmonia, mesmo quando a improvisação é o mote.

“Ceberus” dos OM, surgido cinco anos depois, será o responsável pelo encerrar de um dos ciclos mais aliciantes do Jazz Contemporâneo e, curiosamente, só três décadas depois os sobreviventes da Banda irão gravar um novo álbum de originais, intitulado “Willisau”, em 2010. Vale a pena descobrir a Banda “OM”, nessa mágica plataforma que é o YouTube!

"OM"

Gravado em Janeiro de 1980 no Talent Studio, Oslo, por Jan Erik Kongshaug. Capa de Volker Hilgert. Fotografia de Georg Hoch e Greta Herr. Design de Jurgen Peschel. Produção de Manfred Eicher. Os temas 1, 4 e 5 foram compostos por Christy Doran. O tema 3 pertence a Urs Leimgruber e os temas 2 e 6 são da autoria dos membros da Banda OM. Erdman Birke toca apenas na faixa 6. Em Junho de 2006 a ECM Records editou o álbum ECM 1642 - OM – “A Retrospective”, uma colectânea da banda que reúne temas dos diversos álbuns gravados pelo grupo para a etiqueta JAPO Records.

Rui Luís Lima

Carl Th. Dreyer - "A Paixão de Joana D'Arc" / "La Passion de Jeanne D'Arc"


Carl Th. Dreyer
"A Paixão de Joana D'Arc" / "La Passion de Jeanne D'Arc"
(França – 1928) - (110 min – P/B - Mudo)
Falconetti, Eugéne Silvain, André Berlly, Maurice Schultz.


A história de Joana D’Arc já foi por diversas vezes retratada no cinema, ao longo dos anos, mas será a visão que nos ofereceu o dinamarquês Carl Theodor Dreyer que fica para sempre registada como a obra-prima absoluta.


O cinema de Carl Dreyer, na época, era já conhecido de todos os espectadores de cinema, mas para o enorme esplendor da película contribuiu decididamente o rosto mais que expressivo de Falconetti, actriz oriunda da Comédie-Française (este seria o seu único filme), que aceitou rapar o cabelo e oferecer todo o seu talento ao protagonizar esta filha do povo, que um dia se viu traída pelos seus pares, ficando prisioneira dos ocupantes ingleses, que a irão julgar e torturar, para depois a condenarem a morrer na fogueira.


A forma como Carl Dreyer nos oferece o rosto martirizado de Falconetti, com aquele olhar que ficou na História do Cinema e que faz arrepiar o mais comum dos mortais, fala por si. Aliás Jean-Luc Godard faz a sua homenagem a este filme quando, em “Vivre sa Vie” / “Viver a sua Vida”, Anna Karina vai ao cinema ver a película de Dreyer e descobrimos o campo-contracampo dos rostos de Karina e Falconetti, num dos momentos mais sublimes deste maravilhoso e inesquecível filme de Jean-Luc Godard.


Em “A Paixão de Joana D’Arc”, o cineasta dinamarquês usa o grande plano com uma força expressiva até então nunca vista e sentimos o próprio medo a invadir-nos o corpo, quando deparamos com o rosto dos carrascos sem alma que interrogam a prisioneira. Na verdade, ao (re)vermos “La Passion de Jeanne D’Arc”, sentimos o respirar da própria alma e, à medida que se aproxima o fim da jovem heroína, as lágrimas que lhe correm pelo rosto dizem mais que todas as palavras possíveis.


Carl Dreyer, a propósito deste filme, afirmou que o pretendido era mostrar que os heróis da História são também profundamente humanos.

Carl Th. Dreyer
(1889 - 1968)

A “Paixão de Joana D’Arc” de Carl Dreyer oferece-nos um verdadeiro rio de sentimentos, nesse rosto angélico e torturado dessa espantosa actriz chamada Marie Falconetti.

Rui Luís Lima