segunda-feira, 15 de julho de 2024

Max Ophüls - “Carta de Uma Desconhecida” / “Letter From Na Unknown Woman”


Max Ophüls
“Carta de Uma Desconhecida” / “Letter From Na Unknown Woman”
(EUA - 1948) – (86 min. - P/B)
Joan Fontaine, Louis Jourdan, Mady Christian, Marcel Journet.

Max Ophüls, apesar de ter nascido a 6 de Maio de 1902, só se interessou pelo cinema quando o sonoro já ditava as suas regras, já que antes da Sétima Arte seria o Teatro a convocar todas as suas atenções. No grande écran deu imediato nas vistas ao realizar “Libelei”, depois começou a ser conhecido pela forma como trabalhava o décor dos seus filmes e por fim o melodrama impôs-se em todo o seu esplendor. Em “Carta de Uma Desconhecida”, estamos perante um dos mais belos filmes da história do cinema, nele encontramos o melodrama perfeito, profundamente Wertheriano e o mais curioso é o facto de Max Ophüls em 1938 ter adaptado ao grande écran a obra de Goethe, quando se encontrava em França. Ao olharmos as personagens de “Carta de Uma Desconhecida” encontramos tanto em Stefan como em Lisa as almas de Werther e Charllote, depois à medida que o tempo passa e a escrita de Stefan Zweig nos envolve, percebemos como a tragédia da paixão é dolorosa.


Stefan Brand (Louis Jourdan) chega a casa numa das muitas noites perdidas nos bares de Viena e após se despedir dos cavalheiros que o acompanham na carruagem, ficamos a saber que no dia seguinte irá ter lugar um duelo, onde ele será um dos intervenientes. Mas as suas intenções são bem distantes da honra e mal entra em casa pede ao seu fiel criado para lhe preparar as malas porque está de partida. No entanto esperava por ele uma carta de uma desconhecida, decide então lê-la e quando a abre descobre as palavras da mulher que o amou perdidamente, “quando ler esta carta possivelmente já estarei morta”. A partir deste momento vai ser instaurado o mais perfeito” flash-back” do cinema, com permanentes viagens do presente para o passado e do passado para o presente, até ao momento em que o sol nasce e o destino começa a marcar o seu território.


No dia em que Stefan Brand (Louis Jourdan) se mudou para aquele prédio, as atenções de Lisa Berndle (Joan Fontaine) concentraram-se no jovem e galante pianista, “menino-prodígio” da música, oferecendo o seu génio às belas mulheres que ia seduzindo. Lisa apaixona-se perdidamente por ele, de tal forma que mesmo depois de a mãe abandonar Viena, com o novo marido, ela arranja forma de regressar a casa, olhando as paredes nuas, enquanto aguarda a chegada de Stefan para o ver mais uma vez. Depois desiste de um casamento arranjado e parte em busca da sua paixão e como não podia deixar de ser a beleza de Lisa chama a atenção de Stefan que irá passear com ela pela noite Vienense criando Max Ophüls, nessa viagem pelo Prater, um dos momentos mais apaixonantes desta obra-prima, porque aqui vimos como “o amor é fogo que arde e não se vê” e depois quando ele se transforma em paixão entendemos perfeitamente as opções de Lisa e o destino encerrado por elas.


Ao longo do filme regressamos por diversas vezes a esse homem à beira do abismo, lendo a carta de uma desconhecida, essa mesma desconhecida que lhe dedicou todo o seu amor, oferecendo-lhe um filho e por fim até a vida. Louis Jordan encontra aqui o momento mais alto da sua carreira, compondo uma personagem que virou as costas à celebridade, por amor às mulheres, esquecendo-se da única que o amou, essa mulher que encontrou por diversas vezes, embora sempre traído pela memória. Já Joan Fontaine em “LetterFrom an Unknown Woman” surge quase menina, para depois se transformar na adolescente tímida e apaixonada e terminar naquela mulher que por amor abdica do seu lugar na sociedade, oferecendo uma interpretação profundamente comovente. Recordemos a terminar o que Jacques Rivette escreveu sobre Max Ophüls: “Ele era tão subtil quanto o julgavam grave; tão profundo quanto o julgavam superficial, tão puro quanto o julgavam obsceno. Consideravam-no fora de moda, desusado, arcaico, quando tratava assuntos eternos: o desejo sem amor, o prazer sem amor, o amor sem reciprocidade. O luxo e a negligência não eram senão o quadro favorável a esta pintura cruel.”


Descobrir “Carta a Uma Desconhecida” / “Letter From An Unknown Woman” de Max Ophuüs é encontrar a essência do melodrama através da sensibilidade de um cineasta que, melhor do que ninguém, transformou o barroco num território de paixões fatais.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. Classificação: 5 estrelas (*****)
    Max Olphüls - (1902 - 1957)
    Joan Fontaine - (1917 - 2013)
    Louis Jordan - (1921 - 2015)

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