Salas de Cinema - Cinema São Luiz!
A primeira vez que entrei no Cinema São Luíz, situado na Rua António Maria Cardoso em Lisboa, tinha a idade de um dígito terrestre e o meu filme de estreia nesta bela sala de cinema foi o famoso “Bambi”, de Walt Disney, tendo desde logo ficado cativado por esse pequeno coelho chamado Tambor.
Adorei a sala de espectáculos e só muitos anos depois descobri a história deste local que, em 22 de Maio de 1894, viu nascer o Teatro Dona Amélia estava ainda em vigor a Monarquia, sendo o responsável pela obra o Arquitecto Louis Reynaud, depois a Monarquia caiu e sabiamente o proprietário do Teatro, homem avisado, “nesta coisa da mudança dos ventos”, rebaptizou o espaço de Teatro da República, mas quatro anos depois um incêndio destruiu por completo o edifício e só passados dois anos, a 16 de Janeiro de 1916, a sala renasceu, dentro dos condicionantes da época.
"Bambi"
Walt Disney
Alguns anos depois e já com a República bem consolidada, chegou a vez de a Sétima Arte se implantar no território nacional, cativando o público dos mais diversos extractos sociais e assim o espaço do Teatro foi adaptado para receber o Cinema e ser novamente rebaptizado, desta feita de São Luís Cine e o sucesso ultrapassou todas as expectativas, tornando-se a primeira sala a ter instalação para filmes sonoros, recorde-se que durante alguns anos o cinema mudo e o cinema sonoro conviveram nas salas de espectáculos, até que o segundo se impôs definitivamente e seria precisamente na segunda metade da década de sessenta que eu iria descobrir o São Luíz, vendo por ali, na companhia da minha mãe e avó, os mais diversos géneros cinematográficos tendo-me iniciado com o “Bambi”, como já referi.
"Se o Meu Carro Falasse"
Robert Stevenson
Mas uma película de que guardo boas e más memórias desta magnifica sala de cinema é precisamente outro filme da Disney, “Se o Meu Carro Falasse” / “The Love Bug” de Robert Stevenson, em que o herói era um carocha igual ao da minha mãe, só com a diferença que este andava bem mais depressa, mas por outro lado portava-se muito mal, mas se entrei bastante molhado na sala devido à chuva que fazia, quando saímos estava uma verdadeira tempestade e na correria para entrar no carro decidi antecipar-me à abertura da porta, tendo mergulhado no charco!
"Sete Noivas Para Sete Irmãos"
Stanley Donan
De todos os musicais que vi no Cinema São Luíz, o que me ficou para sempre na memória foi o “Sete Noivas Para Sete Irmãos” / “Seven Brides For Seven Brothers” de Stanley Donen, tendo ficado fascinando pelas coreografias desse génio do bailado chamado Michael Kidd, na época fixei para sempre a sequência da construção da casa.
"A Velha Raposa"
Henry Hathaway
No que diz respeito aos “westerns” e foram muitos, tinha já um herói no actor John Wayne e embora ainda não lhe fixasse o nome conhecia-lhe o rosto e quando o vi na película de Henry Hathaway, “A Velha Raposa” / “True Grit”, hoje em dia célebre devido ao “remake” dos irmãos Coen, fiquei muito preocupado por o actor principal ter perdido uma das vistas e usar uma pala igual à de um tal General Dayan, que tinha visto na televisão, durante a célebre Guerra dos Seis Dias e tinha um filho que era actor de cinema!
"M - Matou"
Fritz Lang
Depois vieram os anos da cinéfilia e o São Luíz foi uma das primeiras vítimas das salas Estúdio que começavam a proliferar pela capital na década de setenta, do século passado, começando a sua sala a ser usada para a passagem de ciclos de cinema de diversas Associações como a “Ver Filme” do José-Camacho Costa e Cine-Clubes e foi assim que descobri nessa bela sala, numa noite de Verão, o “M-Matou” / “M” de Fritz Lang, com um Peter Lorre sublime, tendo já perdido a conta às vezes que revi este filme numa sala de cinema ao longo dos anos.
"Lola Montès"
Max Olphüls
Outro momento cinéfilo que guardo com muito carinho na sala do Cinema São Luíz foi a descoberta desse grandioso filme barroco de Max Olphuls, “Lola Montès”, que foi exibido numa versão restaurada e que me deixou fascinado em todos os aspectos: argumento, realização, fotografia, interpretação e uma inesquecível Martine Carol, que infelizmente nos deixou cedo demais.
"Les Trois Couronnes du Martelot"
Raoul Ruiz
Por fim, se me perguntarem qual foi o último filme que vi na sala do Cinema São Luíz a resposta é fácil, porque nunca mais me esqueci de “Les Trois Couronnes du Martelot” do chileno Raoul Ruiz, cuja rodagem se processou em Portugal (Continente e ilha da Madeira) e tinha como uma das intérpretes a Lisa Lyon, um dos mais célebres modelos de Helmut Newton, muito em voga nesses anos oitenta e com presença regular nas páginas da revista Photo.
Cinema São Luiz
Depois o São Luíz voltou a ser sala de Teatro e de Concertos, aberto também a encontros de Poesia, gerido pelo Município, mas o Cinema, essa maravilhosa Arte, já com um século de existência, ausentou-se do seu espaço para sempre.
Rui Luís Lima
Situado na Rua António Maria Cardoso, o cinema São Luiz onde vi tantos filmes famosos, abandonou o cinema e nos dias de hoje em sala de espectáculos de Teatro e sala de Concertos, mas o cinema infelizmente ficou esquecido para sempre. Na mesma rus situava-se o Chiado Terrasse, uma sala de que já falámos de caracteristicas populares que tinha duas sessões por dia exibindo sempre dois filmes.
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