“Identificação de Uma Mulher” / “Identificazione Di Una Donna”
(Itália/França – 1982) – (128 min. / Cor)
Tomas Milian, Daniela Silverio, Christine Boisson, Sandra Montelioni.
No ano anterior ao da saída deste filme, 1981, Michelangelo Antonioni tinha-nos oferecido essa obra-prima intitulada “O Mistério de Oberwald” / “Il Mistério di Oberwald”, com Mónica Vitti na protagonista, sendo este o derradeiro filme do cineasta com a sua musa. E no ano seguinte nasceu “Identificação de Uma Mulher” / “Identificazione Di Una Donna”, que nos narra a história de um cineasta que, divorciado da sua mulher, sendo a ferida ainda recente, procura um rosto para nos contar uma história de amor.
Niccoló Farra (Tomas Milian) é o cineasta possuidor desse desejo, de curar as feridas do amor em busca dessa mulher perfeita que lhe liquide a solidão. Será ao atender um telefonema na clínica da sua irmã que irá ficar a conhecer Mavi (a fascinante Daniela Silverio), de origens aristocráticas, enquanto ele costuma ler em casa o L’Unitá, surgindo assim duas visões do mundo bastantes distantes, como se irá perceber na festa a que vão juntos. Entretanto o cineasta começa a receber ameaças de uma identidade desconhecida, que não gosta da sua nova relação amorosa.
Mavi esconde no seu belo corpo segredos profundos da sua alma e, como tal, irá um dia desaparecer de circulação sem deixar rasto, apesar de todas as diligências de Niccoló. Porém o seu desejo de encontrar a mulher perfeita para o seu filme, para a sua vida, leva-o ao teatro onde Ida (Christine Boisson), uma actriz sua conhecida, é a protagonista. E, como não podia deixar de ser, ele começa a ver nela a mulher ideal para o seu filme, para a sua vida. Decidem então ir um fim-de-semana até Veneza, para ali descobrirem essa lagoa aberta invadida pela neblina, que irá ditar a ambos um falso futuro, precursor da solidão que se avizinha e que Niccoló desconhece.
Ao chegarem ao hotel em Veneza, Ida recebe um telefonema a informá-la que está grávida de um outro homem e de imediato a incerteza toma posse dela, o pedido de casamento feito por Niccoló, na solidão da lagoa encontra-se à beira do naufrágio. E será isso mesmo que ela percebe quando, junto da porta do hotel, enquanto as imagens exteriores são projectadas nos vidros, numa simbiose perfeita, Niccoló reconhece a dificuldade em ser pai, naquelas circunstâncias.
Já Mavi, que tinha desaparecido sem deixar rasto, acaba por ser localizada e Niccoló decide investigar o mundo em que ela agora vive. A zona não é das melhores, como bem vemos e depois, discretamente, Michelangelo Antonioni oferece-nos um dos segredos de Mavi.
Por fim Niccoló Farra percebe como é difícil identificar uma mulher para ser protagonista do seu filme, como é difícil encontrar uma mulher que lhe preencha o vazio da sua vida. Senta-se então no parapeito da janela e começa a reparar no brilho do sol, a solução para o seu desastre sentimental poderá estar ali, bem longe das ilusões terrenas.
Antonioni oferece-nos em “Identificação de Uma Mulher”, uma obra cujo argumento se encontra em perfeita ebulição, ao longo da película, ao mesmo tempo que continua a dar uma importância enorme à composição do plano, em que mais uma vez a cor é o elemento primordial. Por outro lado, consegue oferecer-nos uma banda sonora da autoria de John Foxx que nos deslumbra, ao mesmo tempo que junta excertos de obras conhecidas de Peter Bauman e Tangerine Dream, sendo inesquecível essa sequência final, com Niccoló a olhar fascinado para o sol, imaginando uma nave espacial a dirigir-se na sua direcção, ao mesmo tempo que assistimos à perfeita conjugação entre música e imagens.
“Identificazione di una Donna” oferece-nos um novo retrato desse célebre universo da incomunicabilidade, que Michelangelo Antonioni tão bem dissecou ao longo da sua obra cinematográfica. A mulher permanece para o realizador a mais bela-luz do seu cinema. Descobrir e amar os seus sentimentos foi a sua tarefa de cineasta ao longo dos anos.
Rui Luís Lima
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