terça-feira, 12 de novembro de 2024

Fritz Lang - "Metropolis"


Fritz Lang
"Metropolis"
(Alemanha -1927) - (147 min. - Mudo - P/B)
Brigitte Helm, Alfred Abel, Gustav Frohlich.

Em 10 de Janeiro de 1927, o célebre “Ufa-Palast am Zoo”, em Berlim, abriu as portas para exibir “Metropolis”, de Fritz Lang, uma das mais importantes obras do cinema mudo alemão. Mas os resultados “comerciais” não corresponderam à qualidade da película. Falou-se que a UFA perdeu cerca de três milhões de marcos.


A primeira medida, tomada pela casa produtora, foi diminuir a duração do filme, que inicialmente era de 135 minutos, a fim de melhorar a exploração da película. Com o passar dos anos, acabaram por surgir diversas cópias com diferentes montagens e inevitavelmente metragem/duração diversas. Em 2001 surgiu uma versão restaurada com a duração de 147 minutos.


Giorgio Moroder, produtor discográfico e responsável de diversas bandas sonoras de enorme sucesso na História do Cinema, decidiu sonorizar “Metropolis”, depois de ter ganho a luta pelos direitos, com David Bowie, criando uma versão habitada pelo rock. O trabalho de sonorização não é inédito, sendo um dos mais célebres, o levado acabo com a película “Napoleão” de Abel Gance, com música de Carmine Coppola, pai de Francis Ford Coppola, para quem também escreveu diversas partituras.


As películas do período mudo eram exibidas na época sempre com acompanhamento ao piano a maior parte das vezes, embora também pudesse haver acompanhamento de orquestra com as respectivas partituras. Já nos dias de hoje por vezes é criada uma nova versão musical, como fez Giorgio Moroder e os aplausos são muitas vezes escassos e a polémica enorme, basta recordar a exibição do "Nosferatu" de F. W. Murnau, na Culturgeste para estar tudo dito, na época o cineasta João César Monteiro interrompeu a sessão por considerar que se estava a assassinar uma obra-prima devido à música que estava a ser tocada. Na nossa opinião estas sonorizações deverão usar sempre as partituras originais ou então tocadas por especialistas na matéria.


Mas voltemos um pouco atrás, numa viagem no tempo, até Viena no ano de 1890 e ao nascimento de Fritz Lang. Este filho de arquitectos estudou pintura e desenho em Viena, Munique e Paris e o seu interesse pelo cinema começou cedo, acabando por surgir na Sétima Arte como argumentista de policiais produzidos e realizados por Joe May, uma das principais sementes da indústria cinematográfica alemã.


A sua actividade começou por ser notada e Erich Pommer, responsável da DECLA e futuro patrão da UFA, recrutou-o como argumentista. Foi neste ofício que conheceu Thea Von Harbor, sua mulher e colaboradora (argumentista de inúmeros filmes) até 1933. Pouco tempo depois de ter iniciado o seu trabalho com Erich Pommer, passa a realizador e o sucesso não se faz esperar. “A Morte Cansada”, um dos filmes que Alfred Hitchcock mais admirava, “Dr. Mabuse” e “Os Nibelungos”, tornaram Fritz Lang num dos nomes mais importantes do Cinema Mundial.


Depois de visitar New York em 1925, a impressão dos arranha-céus cristalizou-se no projecto “Metropolis”, a maior produção de sempre da UFA. Na época Fritz Lang pretendeu dar “sonoridade” ao filme, conjugando o funcionamento mecânico da cidade subterrânea com o das imagens e a geometria das formas, obtendo resultados espantosos onde o expressionismo é bem patente.


A versão de Giorgio Moroder respeitou as regras da tintagem existentes na época do cinema mudo e no que diz respeito à montagem introduziu imagens até então inéditas nas cópias de diversas Cinematecas, ao mesmo tempo que retirava a maior parte dos entretítulos, sendo a história narrada através da banda sonora, na qual pontificava a voz de Freddie Mercury.


Mas se querem mesmo conhecer a versão de “Metropolis” criada por esse génio chamado Fritz Lang, ela encontra-se disponível em DVD, numa magnífica cópia restaurada, que nos oferece um dos filmes mais surpreendentes de toda a História do Cinema, porque na verdade “Metropolis” é uma das mais belas pérolas da Sétima Arte!

Rui Luís Lima

3 comentários:

  1. Uma autêntica viagem ao mundo do Cinema.
    Li com muita atenção as peripécias à volta da
    película e as transformações e cortes que sofreu.
    Fui ler um pouco sobre isso e vi que o tema
    do filme acontece em 2026 e já estamos perto...
    Muito obrigada, caro Rui.
    Abraço
    Olinda

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    1. A feitura de "Metropolis" possui uma história repleta de peripécias e durante as filmagens alguns dos participantes iam até morrendo afogados, numa das sequências. Quando foi do restauro do filme de Fritz Lang, David Bowie tudo fez para ser ele o responsável pela versão a ser exibida e só de pensarmos no seu período de Berlin, certamente a banda sonora seria bem diferente.
      Obrigado pela visita e comentário.
      Recordo que a película está disponível na net.
      Um abraço!

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  2. "Metropolis" é uma das obras-primas da genial filmografia de Fritz Lang e as condições de filmagens foram até bastante duras para os intervenientes, ao mesmo tempor que assitimos a uma construção de cenários repleto de inventiva por parte do cineasta alemão. Recorde-se que este filme inspirou os Kraftwerk a gravaram o fabuloso "The Man Machine", um dos mais importantes discos desta banda de" krautrock". Muitos anos após a sua feitura virá a surgir uma nova versão que recuperava muitos segmentos perdidos, com música de Giorgio Moroder, que possibilitou a que novas gerações descobrissem "Metropolis", mas a minha preferida é a versão muda em cópia restauraa e tintada.

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