quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Jean-Pierre Melville - “Bob o Jogador” / “Bob le Flambeur”


Jean-Pierre Melville
“Bob o Jogador” / “Bob le Flambeur”
(França – 1956) – (110 min. - P/B)
Roger Duchesne, Isabelle Corey, Daniel Cauchy, André Garrett.

Em França, o policial é designado por “polar”. Esta mesma designação surgiu no início dos anos cinquenta, fruto da invasão do cinema americano e dos célebres “film noir”. Ao mesmo tempo, o género policial na literatura renascia das cinzas, através de nomes como Boris Vian e Georges Simenon, recorde-se que Boris Vian assinava os livros através do pseudónimo Vernon Sullivan, alguns dos quais editados em tempos idos em Portugal pela “Regra do Jogo”. E por falar em edição, nunca é demais realçar que seria através de uma colecção de bolso de capa amarela, intitulada “Série Noir”, que muitos cineastas se irão sentir fascinados por este género literário.


Jean-Pierre Melville será talvez aquele que estabeleceu um romance mais duradouro com o género, enquanto outros o irão visitar de quando em quando, como irá suceder com François Truffaut, um dos grandes apaixonados da “Série Noir”, com o seu “Disparem Sobre o Pianista” / “Tirez sur le pianiste”, ou essa homenagem feita por Jean-Luc Godard através de “Alphaville”, recuperando a personagem de Lemmy Caution, interpretado por Eddie Constantin. Tudo isto para chegarmos a essa personagem chamada Bob, nascida em 1956 no cinema através de Jean-Pierre Melville, possivelmente o cineasta francês que mais filmes dedicou ao género policial, oferecendo-nos personagens inesquecíveis através de actores como Lino Ventura e Alain Delon.


“Bob le Flambeur” encontra-se retirado do mundo do crime já lá vão vinte anos, depois de um assalto que correu mal, pagou a sua divida à sociedade e regressou às ruas de Paris para se dedicar ao jogo, pensando sempre na sorte como o perfeito aliado, repare-se nessa moeda que atira ao ar para ver se tem sorte, escolhendo “caras” e ganhando sempre porque as “coroas” não existem na moeda. A zona de Pigalle e os seus bares são a sua casa, por ali vive, de forma distinta, mas ao fim de tantos anos a sorte começa a partir e surge a oportunidade de um grande golpe num Casino. O financiamento para o trabalho é conseguido e o plano é posto em marcha. Nessa noite fatal, ele sai de casa com o seu ar distinto e parte para Deauville, mas no Casino, enquanto espera pela hora marcada, começa a jogar e a sorte regressa, ganhando uma enorme fortuna, no entanto à medida que o tempo passa e ele ganha, com a frieza digna do grande jogador, esquece-se da principal razão porque ali se encontra. Por outro lado, a mulher de um dos cúmplices denuncia o golpe à polícia, que se prepara então para fazer abortar o assalto. “Bob o Jogador” ganha a partida do jogo e perde a partida da vida, no entanto a sua frieza leva-o a olhar o futuro com esperança, porque com ele vai uma fortuna ganha legalmente e muitas vezes o dinheiro tudo compra.


Jean-Pierre Melville inicia com este filme uma nova etapa na sua filmografia, passando a dedicar-se ao “polar”, oferecendo-nos obras espantosas. Por outro lado, a forma como o filme negro americano é revisitado nesta película, obriga o cinéfilo a descobrir um cineasta perfeito que criou em Montparnasse a sua New York, através da fotografia espantosa de Henri Decae.

Rui Luís Lima

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