sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Vincente Minnelli - “Um Americano em Paris” / “An American in Paris”


Vincente Minnelli
“Um Americano em Paris” / “An American in Paris”
(EUA – 1951) – (113 min. / Cor)
Gene Kelly, Leslie Caron, Oscar Levant, Nina Foch.

Quando me perguntam qual o melhor musical de sempre, fico profundamente dividido entre “Serenata À Chuva” / “Singing in the Rain” e “Um Americano em Paris” / “An American in Paris”; em ambos temos o mesmo protagonista, o genial Gene Kelly, o maior bailarino e coreógrafo de todos os tempos. Talvez sejam demasiados superlativos mas ele merece-os todos. Ainda hoje não decidi qual o melhor, por isso mesmo coloca ambos na fila da frente. Talvez a música de George Gershwin seja de tal forma inebriante que não vivo sem ela, seja ela interpretada por Oscar Levant, o pianista de serviço no filme ou um nome sonante do piano. E quando chegamos a esse elemento preponderante no musical que é a banda sonora, nestas coisas de primeiros fico dividido também porque os acordes de Leonard Bernstein e do seu “West Side Story” começam a girar na minha cabeça, talvez o melhor seja ficar por este trio como o de melhor musical de sempre, eles seriam sempre uma excelente companhia numa ilha deserta, nesse antigo jogo secreto dos cinéfilos.


Regressando ao que nos interessa, “Um Americano em Paris”, oferece-nos imagens da cidade das luzes que nos penetram profundamente na memória, de tal forma que descobrimos que naqueles mesmo cenários da MGM, Richard Brooks rodou o seu fabuloso melodrama “A Última Vez Que Vi Paris” / “The Last Time I Saw Paris”, baseado no conto de Francis Scott Fitzgerald. E ao entrarmos nesse espaço parisiense, vamos encontrar o pintor Jerry Mulligan (Gene Kelly), um dos muitos pintores que procura o sucesso nas ruas expondo os seus quadros, para enfim poder matar a fome, o mesmo sucedendo ao compositor Adam Cook (Oscar Levant), que no seu quarto procura a composição perfeita para fugir da miséria que lhe bate à porta. Poderemos até dizer que estas personagens serão forçadas, criadas apenas para dar um certo tom ao desenrolar da história, mas ao pensarmos na vida de Hemingway em Paris, retratada no belíssimo livro “Paris é Uma Festa”, compreendemos muito melhor a arquitectura do argumento.


Jerry Mulligan encontra a rapariga perfeita, rica, interessante e apaixonada por si, mas Milo Roberts (Nina Foch) procura nos diversos artistas que vai descobrindo nas ruas a realização da sua arte através de terceiros que deseja usar, até ao momento em que eles partem. Assim tudo lhes oferece, repare-se no convite a Jerry para uma festa onde só existem dois convidados, ele e ela, depois o estúdio que lhe oferece e por fim o desejo de o lançar no mundo mundano da arte em troca do seu amor. Apesar de tudo isto Jerry Mulligan está perdidamente apaixonado por Lisa Bourvier (Leslie Caron) e tudo fará para a conquistar, até esse decisivo momento em que tudo parece perdido.


Chegados aqui será de referir que consideramos deslumbrante toda a sequência final de “Um Americano em Paris”, sequência essa apontada por muitos como demasiado longa, não achamos isso porque nela reside toda a mestria de Gene Kelly e todo o saber do realizador Vincente Minnelli, o cineasta por excelência dos musicais, mas também o autor de obras-primas como “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse” / “The Four Horsemen of the Apocalypse”. Perante isto descobrimos tanto em Gene Kelly como em Vincente Minnelli, a apoteose do musical e desta vez, não houve discussão entre ambos, como sucedeu com essa jóia chamada “Brigadoon”, em que Gene Kelly pretendia que o filme fosse rodado em cenários naturais e Vincente Minnelli optou pelo artifício do Estúdio. Perante esta dupla surge essa pérola chamada Leslie Caron, onde a sua formação clássica de bailarina se faz sentir, ao mesmo tempo que nos oferece momentos de uma ternura e carinho maravilhosos, seja nos encontros à beira do Sena ou na sequência final.


“Um Americano em Paris” reúne todos os elementos que compõem um musical: a realização, as coreografias, os intérpretes e essa fabulosa música que nos envia dançando para as nuvens. Depois temos o par, esse par maravilhoso composto por Gene Kelly e Leslie Caron, assim como o seu contraponto em Oscar Levant, repare-se na sequência no café quando ele se apercebe que Jerry está apaixonado pela namorada do amigo, ou a sua célebre interpretação tocando todos os instrumentos, sendo o rosto de todos os intérpretes, tendo o público o seu próprio rosto. E por fim, meus amigos temos Paris, essa bela Paris recriada de uma forma tão bela, que nos sentimos nela eternamente apaixonados. “Um Americano em Paris” é decididamente aquela película possuidora de seis estrelas, essa classificação que só pertence aos Deuses.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. Vincente Minnelli - (1903 - 1986)
    Classificação: 5 estrelas (*****)
    Estreia em Portugal: 3 de Outubro de 1952.

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