“Jacques Tourneur”
Páginas: 64
Biblioteca Museu República e Resistência
De 7 de Setembro de 2005 a 26 de Outubro de 2005, no Auditório da Biblioteca Museu República e Resistência, foram exibidos um conjunto de filmes do cineasta Jacques Tourneur, cuja programação foi da responsabilidade do crítico e cineasta Lauro António, tendo sido feito um catálogo da sua autoria, que colmatou a falta de livros em português de um dos mais famosos cineastas da série-B. Como nos informa Lauro António este magnífico catálogo teve por base um outro por ele feito para o “Fantasporto”, mas que foi “trucidado” pela tipografia, sendo este revisto e aumentado.
A forma como este livro (prefiro sempre o nome de livro ao de catálogo) nos é apresentado é verdadeiramente aliciante para o cinéfilo, porque viajamos pela vida do cineasta, através da escrita de Lauro António, mas também conduzidos pelo próprio cineasta, através de um conjunto de entrevistas dadas por ele ao longo dos anos, terminando por termos um discurso “de viva voz” se me é permitida a expressão. Faz-me recordar, de certa forma, nas minhas leituras, dois livros de cinema que me deliciaram: a autobiografia de Preston Sturges e a de Frank Capra.
Jacques Tourneur, nascido em França, filho do cineasta Maurice Touneur, irá mais tarde juntar-se ao pai que trabalhava nos “States”, terminando por adquirir a nacionalidade americana, começando o seu trabalho no cinema ao lado do pai e terminando por fazer a famosa “tarimba”, até que conseguiu a oportunidade de realizar, quando um dos patrões do Estúdio já não podia ouvi-lo a perguntar quando iria ter a oportunidade de realizar um filme. A forma como esta situação está narrada no livro na primeira pessoa é memorável.
Depois temos os altos e baixos de Jacques Tourneur, que sempre navegou na série-B, mas que salvou a RKO da falência através do seu “Cat People”, depois do boicote de que foi alvo “Citizen Kane” de Orson Welles. Outro caso curioso é o dia em que Jacques Tourneur se apaixona por um argumento e decide rodá-lo de borla, terminando o seu amigo, produtor do filme, por lhe pagar a verba que estava acordada com o realizador “tarefeiro”. Os Estúdios, ao saberem disso, baixaram-lhe o ordenado em três vezes. O que acaba por revelar que, na Hollywood do cinema clássico, era proibido apaixonarmo-nos por um argumento!
O prazer de um livro, seja de cinema, poesia ou literatura, não se mede pelo número de páginas, mas sim pelo seu conteúdo e este “Jacques Tourneur” de Lauro António é uma perfeita maravilha para o cinéfilo, especialmente para o autor deste blogue que adora Jacques Tourneur e o seu cinema, embora o seu nome nas suas memórias fique sempre ligado a um acontecimento ocorrido aquando do visionamento em sala do filme “O Gato Miou Três Vezes” / “The Comedy of Terrors”, um filme que Jacques Tourneur adorou fazer, mas que foi um fracasso comercial, tendo até a sua esposa não gostado da película, que era uma comédia a “gozar” (se me é permitida a expressão), com os filmes de terror.
Jacques Tourneur, em meados dos anos 60, século xx, regressaria a França, a terra que o viu nascer, esperançado em fazer filmes sem constrangimentos dos produtores, mas todos se esqueceram dele e assim viveu desempregado o resto dos seus dias.
Pelos filmes que nos deixou, Jacques Tourneur merece sempre ser recordado e este livro de Lauro António termina por ser uma lufada de ar fresco, na escassa bibliografia cinematográfica existente no nosso país.
Rui Luís Lima
Lauro António - (1942 - 2022)
ResponderEliminarJacques Tourneur - (1904 - 1977)
O cinema nos livros numa viagem pela vida e filmografia de Jacques Tourneur.
Classificação: 4 estrelas (****)
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