“Shining”
(Grã-Bretanha – 1980) – (119 min. / Cor)
Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Loyd, Scatman Crothers.
Stanley Kubrick, ao longo da sua carreira, abordou todos os géneros cinematográficos existentes e “Shining” foi a sua abordagem ao filme de terror, esse género tantas vezes considerado menor e que ele transformou em maior. Partindo de um conto do conhecido Stephen King, um dos Mestres do Terror, ele irá criar um filme que nos irá prender desde o primeiro ao último minuto à cadeira, ao mesmo tempo que vamos sentindo esse ambiente claustrofóbico que se irá viver nessa estância maravilhosa de turismo que é o Overlook Hotel, no cimo das famosas Montanhas Rochosas.
No início de cada Outono os empregados do hotel preparam a sua partida, já que o clima naquela região é mais do que inóspito, devido ao frio e à neve que todos os anos se faz sentir e, como habitualmente, a direcção do majestoso hotel contrata alguém para lá ficar a cuidar do local, para que os prejuízos sejam reduzidos: cuidar das caldeiras que aquecem o edifício é um dos trabalhos mais importantes.
Jack Torrance (Jack Nicholson), o aprendiz de escritor, apresenta-se como candidato e a entrevista corre da melhor forma, mas o gerente do hotel, homem cauteloso e conhecedor dos perigos da solidão decide informar Jack que em tempos uma das pessoas contratadas para cuidar do hotel enlouqueceu devido ao isolamento, terminando por matar a mulher e as duas filhas gémeas que o acompanhavam, suicidando-se de seguida. Mas Jack Torrance não se sente intimidado, já que isolamento é o que ele precisa para escrever o seu livro e decide aceitar o lugar.
Iremos assim acompanhar a sua ida para o Overlook Hotel com a mulher Wendy (Shelly Duvall, uma das actrizes preferidas de Robert Altman) e o jovem Danny (Danny Loyd), que vê naquele espaço o local perfeito para fazer corridas com o seu pequeno automóvel, pedalando pelos seus longos corredores, como se estivesse numa estrada só para ele. Assim tudo se apresenta perfeito para aquela família.
Todos estão desejosos de abandonar a estância e durante a partida Dick Halloram (Scatman Crothers), o cozinheiro chefe, mostra a cozinha e a zona frigorífica a Wendy, por ali não falta comida e tudo de certeza irá ficar bem, mas ao conhecer Danny percebe que ele tem um amiguinho interior com quem a criança gosta de conversar e, a pouco e pouco, percebe que ela é detentora dessa magia da comunicação chamada shining, que também ele conhece.
Os primeiros dias são passados em enorme tranquilidade, com Jack a escrever o seu livro, Wendy a tratar da zona que lhes ficou destinada e o pequeno Danny a conduzir o seu carro como se estivesse num circuito de automobilismo porém, lentamente, Danny começa a ter visões desse Inverno conturbado no hotel, ocorrido na estância, começando a ver as gémeas, ao mesmo tempo que não resiste a entrar no quarto onde tudo começou, quando um dia encontra a porta aberta.
Fotograma a fotograma, Stanley Kubrick instala o seu sistema mais que perfeito e com uma banda sonora da autoria de Wendy Carlos e Rachel Elkind, começa a introduzir um terror arrepiante que irá contagiar o espectador à medida que a acção se desenrola.
Jack Torrance começa a ter crises de mau humor e a esposa fica em cuidado, depois é a própria criança que conta as visões que está a ter e rapidamente percebemos que Jack está a enlouquecer. Até que chega esse momento fulcral, em que Wendy descobre que o marido está a ter um bloqueio de escritor, escrevendo sempre a mesma frase nas páginas que coloca na máquina de escrever. Por ali repousam mais de uma centena de páginas com a mesma frase e quando este já não consegue dissimular o seu estado de loucura decide atacar os seus entes queridos, a fim de os liquidar com um machado.
Stanley Kubrick, ao utilizar a steadycam pela primeira vez no cinema, oferece-nos um filme profundamente deslumbrante, em que o medo quase nos consome a alma, de tal forma ele é arrepiante, sendo sempre de destacar a perseguição final no famoso labirinto.
Ao vermos hoje “Shining” continuamos a ficar fascinados pela maneira como ele nos interioriza o medo, de forma sempre crescente até chegar esse momento em que finalmente podemos respirar, com a chegada do famoso The End.
Em “Shining”, Jack Nicholson oferece-nos uma das suas maiores interpretações cinematográficas e se na época alguns ficaram admirados com o trabalho do actor, foi certamente porque desconheciam a sua participação, no início da sua carreira, nessa fábrica de cinema criada por Roger Corman.
“Shining” continua a ser, neste século XXI, um dos melhores filmes de terror até hoje realizados, um género que Stanley Kubrick um dia decidiu levar até ao Olimpo dos Deuses da Sétima Arte.
Rui Luís Lima
Stanley Kubrick - (1928 - 1999)
ResponderEliminarClassificação: 5 estrelas (*****)
Estreia em Portugal: 20 de Novembro de 1980.