“Tora! Tora! Tora!“
(EUA/Japão – 1970) – (144 min. / Cor)
Martin Balsam, James Whitmore, Jason Robards, Sô Yamamura,
Eijiro Tono, Tatsuya Mihashi, E. G. Marshall, Joseph Cotten.
Quando a década de setenta (século xx) nasceu, viviam-se os tempos da contra-cultura, o Maio de 68 ainda estava bem vivo e por isso mesmo o Estúdios de Cinema norte-americanos começaram a dar a mão a imensos cineastas formados na televisão. No entanto para alguns Estúdios, como sucedia na 20th Century Fox onde o dono e senhor se chamava Darryl F. Zanuck, ainda se sonhava com grandes projectos e este foi o homem que salvou os célebres estúdios da falência durante as filmagens de “Cleópatra” de Joseph L. Mankiewicz, ao produzir (e dirigir com mão de ferro todos os que estavam sobre a sua alçada) esse épico a preto e branco intitulado “O Dia Mais Longo” / “The Longest Day”, rodado em 70 mm e onde uma conjugação de estrelas brilhava no firmamento. Estávamos aqui perante o filme de guerra em todo o seu esplendor, usando-se o preto e branco para “piscar o olho” ao documentarismo e tornar ainda mais credíveis as diversas histórias. Como todos sabemos, o êxito foi retumbante e, talvez por isso mesmo, Darryl Zanuck tenha acalentado durante algum tempo levar ao grande écran o ataque japonês a Pearl Harbour.
Este homem, tão poderoso como em tempos fora David O’Selznick, decide partir para esta aventura e entrega a realização do filme a dois cineastas: Richard Fleischer para as sequências americanas e Akira Kurosawa para as sequências japonesas, num desejo profundo de produzir no interior do cinema de guerra uma película cujo olhar fosse o mais lúcido possível, apresentando a verdade dos factos.
Richard Fleischer, um homem formado na escola documentarista, era o cineasta indicado porque dominava com perfeição a arte cinematográfica independente do género e sabia trabalhar com as exigências, sempre ferozes, dos Estúdios, cumprindo os prazos delineados pela produção. Porém o mesmo não sucedia com Akira Kurosawa, que levava demasiado tempo nos preparativos das filmagens, embora o seu nome fosse um trunfo importante, só que ao adoecer após seis dias de filmagens, Darryl Zanuck foi obrigado a substitui-lo por Toshio Masuda e Kinji Fukusaku, que deram muito bem conta do recado, recuperando o tempo perdido inicialmente.
Darryl Zanuck, ao produzir este épico de guerra, decidiu apostar tudo na eficácia do argumento e dos efeitos especiais, não convocando aquele batalhão de estrelas que o tinham acompanhado em “O Dia Mais Longo”, para ele a eficácia com que estavam a ser filmadas as diversas sequências iria prender o espectador à cadeira, sendo indiferente o nome dos actores.
Quase quatro décadas passadas e após termos tido a experiência de ver a versão criada por Michael Bay do ataque a Pearl Harbour, com aquele péssimo triângulo amoroso para pré-adolescentes, somos obrigados a reconhecer a eficácia do filme produzido por Darryl Zanuck, porque ele oferece-nos a tensão existente nas chefias japonesas nos dias que antecederam o ataque. Todos sabemos, hoje em dia, como os militares japoneses estavam divididos no que diz respeito à guerra, porque muitos tinham a noção absoluta de ser impossível manter diversas frentes de combate, ao mesmo tempo que outros temiam ir acordar um gigante adormecido, como refere o Almirante Japonês a bordo do porta-aviões, após a conclusão das operações. Porque, na verdade, o principal objectivo do comando japonês que era afundar os porta-aviões americanos, não foi concretizado como todos sabemos e eles foram fundamentais alguns anos depois para o sucesso americano na decisiva batalha de Midway, onde se decidiu o futuro da história, aliás também ela já retratada pelo cinema.
Perante um filme sem estrelas, as que surgiam, embora excelentes actores, não resistiam naquela época a serem cabeças de cartaz e provocar enchentes nos cinemas, o saldo deste filme que recomendamos, na época, não foi o melhor. Mas se virmos a película com “olhos de ver”, verificamos como está lá o saber de um homem chamado Richard Fleischer, esse cineasta que tantos filmes fez que nos seduziram durante a infância como “O Extravagante Dr. Dolittle” / “Doctor Dolitle” e as “20.000 Léguas Submarinas” / “20,000 Leagues Under the Sea”, ou ainda essa obra espantosa de ficção-cientifíca intitulada “Soylent Green” / “À Beira do Fim”.
Se por um lado, ao longo do filme, iremos assistindo à ineficácia e burocracia por parte dos militares americanos perante um possível ataque japonês, onde tudo se deixa para fazer no dia seguinte, temos do lado japonês o estudo minucioso do plano de ataque até ao mais pequeno detalhe, como a questão dos torpedos transportados pelos “zeros” japoneses, que irão ter pela frente a pouca profundidade do porto onde se encontra atracada a esquadra americana.
Rever “Tora! Tora! Tora!” o célebre grito de ataque japonês, em écran de cinema, é um daqueles prazeres que recomendamos (tivemos essa sorte), porque neste filme mora o que se chama a eficácia cinematográfica do produtor, em termos criativos, mas também há o dvd para recordarmos vezes sem conta a Arte do Cinema no palco da Guerra.
Rui Luís Lima
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