segunda-feira, 16 de setembro de 2024

TV Séries - "Ossos" / "Bones"


TV Séries
"Ossos" / "Bones"
Criador: Hart Hanson
Actores: David Boreanaz, Emily Deschanel, Michaela Conlin.
Temporadas: 12
Episódios: 245
Ano: 2005 - 2017


Uma série inspirada na vida da antropóloga forense Kathy Reichs que viria a dedicar-se à literatura policial, com enorme sucesso. Ao longo de 12 anos acompanhámos o trabalho da Dra. Temperance Brennan (Emily Deschanel) e o seu convívio com o agente do FBI Seeley Booth (David Boreanaz) que trata das investigações e que irá terminar por "fall in love" pela cientista forense.


Mas um dos principais contributos para o arranque em velocidade de cruzeiro desta série foi o surgimento do psicólogo Lance Sweets (John Francis Daley, que chegou a escrever alguns argumentos) e mais tarde desse peso pesado chamado Ryan O'Neal, que na figura de Max Keenan, surge como pai, pouco recomendável, da Dra. Temperance Brennan.


Ao contrário do que sucede nas séries quando os argumentistas casam os protagonistas, como sucedeu com as séries "O Amor no Alasca" ou "Castle", Hart Hanson foi um homem feliz porque elevou "Bones" para um outro firmamento e sempre que o metediço Max Keenan surgia o "caos" instalava-se no bom sentido da palavra como sinónimo de alta interpretação, depois até vieram os problemas próprios da vida conjugal com a chegada de mais um elemento à família.


Por fim nunca será demais referir que o actor David Boreanaz teve a oportunidade de dirigir alguns dos episódios oferecendo à série "Bones" alguns momentos bem cinematográficos, revelando um certo apetite para a realização. Recordo que esta série teve diversas temporadas editadas no nosso país, que se reveem com enorme agrado.

Rui Luís Lima

Rex Stout - “Cozinheiros a Mais” / “Too Many Cooks”


Rex Stout
“Cozinheiros a Mais” / “Too Many Cooks”
Colecção: Obras Escolhidas de Rex Stout nº.1
Livros do Brasil

«Não penso que tenha ouvido alguma coisa. Mas alguma coisa me fez virar repentinamente a cabeça e, mesmo nessa altura, tudo o que vi foi um movimento nos arbustos do lado de fora da janela e não tenho a mínima ideia do que me fez atirar com os papéis. Mas atirei-os directamente à janela. No mesmo momento, uma arma foi disparada, forte e alto. Simultaneamente, veio pela janela fumo e cheiro a pólvora, os papéis voaram e caíram no chão. Ouvi a voz de Wolfe atrás de mim:
- Archie olhe aqui.
Olhei e vi sangue a correr-lhe, rosto abaixo. Por um segundo fiquei paralisado. Quis saltar pela janela e apanhar o filho da… o atirador e dar-lhe um tratamento pessoal. E Wolfe não estava morto, continuava sentado. Mas o sangue parecia abundante. Saltei para o lado da cama.»

Rex Stout
“Cozinheiros a Mais”
Livros do Brasil



Numa época em que a gastronomia invadiu a televisão, com os seus concursos e até com canais temáticos dedicados a arte de bem comer e as páginas dos jornais são invadidas com crónicas dedicadas à comidinha, nunca é demais lembrar José Quitério, o mais brilhante cronista que fez da sua escrita uma verdadeira arte literária, mas também é incontornável ler este livro do brilhante Rex Stout, criador desse detective chamado Nero Wolfe, que para além de ter uma enorme paixão por orquídeas, se revelou o mais célebre gastrónomo do romance policial e se tem dúvidas perguntem ao Fritz, seu cozinheiro privado, mas também ao seu parceiro Archie Goodwin, que nos surge como narrador no excerto que reproduzimos do livro “Cozinheiros a Mais” / “Too Many Cooks” e se não percebem como Nero Wolfe levou um tiro, ele que raramente sai de casa devido à sua massa corporal que ronda os 120 quilos segundo uns, mas que Archie pensa que talvez seja de 150 quilos, apenas posso adiantar que Nero Wolfe saiu de casa e até deixou o Fritz com uma lágrima no olho, para se dirigir a um encontro de gastronomia patrocinado pelos maiores chefs do planeta.

Pode não acreditar, mas a viagem foi longa e de comboio, certamente já estão a ver a dificuldade de Nero Wolfe a movimentar-se nas carruagens e quando chega ao encontro para o alegre convívio com os maiores especialistas da arte de bem comer, irá descobrir que um deles será assassinado e vou ficar por aqui, porque senão ainda me acusam de fazer spoiler, essa coisa estranha inventada por entidade anónima e o melhor é eu também estar precavido...

Aqui fica uma sugestão de leitura!

Rui Luís Lima

Roy Lichtenstein - "Girl with Ball"


Roy Lichtenstein
"Girl with Ball"
Óleo sobre tela
153,7 x 92,7 cm.
The Museum of Modern Art, New York
Ano:1961

Debra Winger - A Vida é uma Grande Aventura!


Debra Winger - A Vida é uma Grande Aventura!

1. - O cineasta James Bridges caracterizou-a como inteligente e actriz por instinto, enquanto James Brooks, também ele realizador, afirmou: “quando acabávamos as filmagens, encontrávamos outra pessoa, totalmente diferente”. A sua colega em “Laços de Ternura”, Shirley MacLaine, referia-se a ela como “a querida, brilhante, turbulenta Debra, que funciona com um ritmo diferente de todos nós”. Esta estrela, então em ascensão, nasceu em Cleveland – Ohio e quando disse ao pai que queria ser actriz de cinema ele riu-se, respondendo que as estrelas de cinema tinham que ser bonitas.

"Graças a Deus é Sexta-Feira"

Debra Winger começou na publicidade, passando depois para a série “Wonder Woman” e em 1978 estreou-se no cinema com “Thank God it’s Friday” / “Graças a Deus é Sexta-Feira”, seguindo-se “French Postcards” e “Urban Cow-boy” / “O Cow-boy da Noite” ao lado de John Travolta, sempre em papéis secundários, até que é a estrela radiante do magnífico filme de David Ward “Cannery Row”/”Bairro da Lata”, ao lado de Nick Nolte. John Huston era na película, o narrador do famoso livro de John Steinbeck ou melhor dos dois livros, tendo em conta que o argumentista David Ward adaptou para o écran de forma sublime os livros “Bairro da Lata” e “Um Dia Diferente”.

"O Cowboy da Noite"

Recorde-se que o célebre escritor norte-americano, escreveu “Um Dia Diferente”, porque tinha saudades dos personagens criados para “Bairro da Lata”, decidindo juntar-lhes mais uma personagem feminina cheia de encanto e ternura, para desta forma oferecer ao leitor os caminhos insondáveis do amor.

"Bairro da Lata"

Depois foi o sucesso de bilheteira, mais por estar ao lado de Richard Gere, do que por ela própria, estamos a falar, como já devem ter percebido de “Oficial e Cavalheiro” / “An Officer and a Gentleman” e como quase sempre acontecia na época Debra Winger seguiu o exemplo de outras colegas suas, recusando-se a voltar a trabalhar com Richard Gere, que nesses tempos tinha um comportamento por vezes nada correcto durante a rodagem dos filmes em que participava.

"Oficial e Cavalheiro"

“Laços de Ternura” / “Terms of Endearment” de James Brooks colocou de novo na ribalta Debra Winger, ao lado dos veteranos Shirley MacLaine e Jack Nicholson, sendo a sua interpretação memorável. Para aqueles que não sabem, ela foi a famosa voz de “E.T”. no conhecido filme de Steven Spielberg, devidamente trabalhada electronicamente. Apesar de Spielberg nunca a ter convidado para protagonista dos seus filmes, mantiveram uma relação cordial.

"Laços de Ternura"

Ivan Reitman, que se tornou famoso ao assinar “Os Caça-Fantasmas” / “Ghostbusters”, realizou “Legal Eagles” /”Perigosamente Juntos” com Robert Redford e Debra Winger, que aqui surgia com um novo visual, por sinal bastante sedutor e para Ivan Reitman “ela é a figura exacta de Laura Kelly, ela é o motor do filme”. Robert Redford e Debra Winger formaram o par perfeito desta película, aliás numa antiga entrevista a actriz confessava que a idade ideal para o seu companheiro seria 45 anos, porque gostava de homens mais velhos. No entanto a vida desmentiu este pensamento e ela com 31 anos casou-se com Timothy Hutton que tinha 26 anos, afirmando a actriz numa entrevista que “a vida é uma grande aventura!”

"Perigosamente Juntos"

“Perigosamente Juntos” / “Legal Eagles” é uma história de advogados com um caso estranho em mãos. Filme de actores, a película de Ivan Reitman dá-nos a conhecer essa maravilhosa arte de representar através das interpretações desta dupla perfeita. Reconhecida por muitos como uma actriz que se entregava ao cinema de corpo e alma, o futuro acabaria por alterar os seus projectos, tanto artísticos como familiares.

"A Viúva Negra"

2. - Quando Bob Rafelson decidiu juntar Debra Winger e Theresa Russell em “A Viúva Negra” / ”Black Widow”, sabia que estava a criar um cocktail explosivo e, talvez por isso mesmo, o cineasta ofereceu a Debra Winger a possibilidade de escolher uma das duas personagens principais, já que estamos perante um duelo ou melhor dizendo um “thriller” no feminino. Este filme, um pouco ignorado na sua época, merece ser redescoberto não só pelo cineasta, mas também pelas interpretações.

"Atraiçoados"

No ano seguinte seria a vez de Costa-Gavras, então a filmar na América, de a convidar a reinterpretar de certa forma a personagem do seu filme anterior, uma agente do FBI, mas desta vez num filme profundamente político, intitulado "Atraiçoados" / "Betrayed", com Tom Berenger no protagonista, tendo o argumento a assinatura do célebre Joe Eszterhas, que retrata a extrema-direita norte-americana, revelando o seu “way of life” igual ao de tantos americanos dessa América profunda, que muitas vezes decide os destinos da nação americana, mas escondendo no seu interior ideologias profundamente extremistas e perigosas. Estamos perante mais um filme a descobrir ao lado da primeira película de Tim Robbins, esse falso documentário intitulado “Bob Roberts - O Candidato” / “Bob Roberts”, que aborda de forma diferente o mesmo tema.

"Corrupção na Cidade"

No início dos anos noventa, Debra Winger reencontra Nick Nolte no filme de Karel Reisz, “Corrupção na Cidade” / “Everybody Wins”, baseado na peça de Artur Miller. Chegamos assim ao nosso filme favorito da Mary Debra Winger, “The Sheltering Sky” / ”Um Chá no Deserto” de Bernardo Bertolucci, baseado na obra-prima literária de Paul Bowles já editada em Portugal com o título “O Céu que nos Protege” e que, de certa forma, retrata alguns aspectos biográficos da vida do próprio escritor e da sua mulher Jane Bowles (também ela escritora e dramaturga). Curiosamente Bernardo Bertolucci convoca o próprio Paul Bowles para o interior da sua película como observador da sua criação literária.

"Um Chá no Deserto"

Debra Winger nunca esteve tão bem e a sensualidade que transporta no seu olhar invade o universo inevitavelmente. Mesmo nas cenas trágicas, em que a morte começa a visitar Port (John Malkovich), a figura de Kit (Debra Winger) irradia uma frescura só possível de encontrar nos oásis perdidos no interior do deserto e mesmo quando ela por fim regressa à civilização é o seu olhar ferido e comovente que nos fica na memória, com as suas simples e profundas marcas de luta pela sobrevivência.

"O Iluminado"

Mas as suas escolhas seguintes, ao contrário de “Um Chá no Deserto” / “The Sheltering Sky”, acabariam por não deixar qualquer marca. “Leap of Faith” / “O Iluminado”, “Wilder Napalm” / “Fogo Indomável” e “Dangerous Woman” / “Uma Mulher Perigosa” foram esquecidas rapidamente e só nesse fantástico e inesquecível melodrama dos anos noventa, a revisitar o cinema clássico, intitulado “Shadowlands” / “Dois Estranhos, Um Destino”, assinado pelo conhecido cineasta britânico Richard Attenborough, reencontramos Debra Winger no seu melhor, interpretando a personagem mais comovente de toda a sua carreira, ao lado de Anthony Hopkins.

"Fogo Indomável"

O filme retrata o romance do escritor C. S. Lewis (Anthony Hopkins) , autor de inúmeros livros infantis entre os quais as célebres "Crónicas de Narnia" e de Jay Gresham (Debra Winger), uma admiradora americana, que o decide visitar com o seu pequeno filho, para ambos conhecerem o autor das mais maravilhosas histórias de encantar. Mas a tragédia infelizmente também viaja com ela na bagagem, nesses distantes anos trinta. Estamos aqui perante um dos mais belos melodramas, fazendo-nos muitas vezes recordar esse dois grandes Mestres do género chamados Douglas Sirk e John M. Stahl.

"Uma Mulher Perigosa"

3. - Dois anos após nos ter oferecido uma inesquecível interpretação em “Dois Estranhos”, Um Destino” / “Shadowlands” nasce “Esquecer Paris” / ”Forget Paris”, uma comédia negra escrita, realizada e interpretada por Billy Crystal. Infelizmente esta comédia, apesar ou devido ao seu humor negro, não conseguiu alcançar o sucesso esperado pelo famoso comediante norte-americano.

E Debra Winger, tal como John Travolta, durante anos foi uma daquelas actrizes a quem a sorte não sorriu, diremos mesmo que lhe voltou as costas e se John Travolta recuperou os anos perdidos, com o seu renascimento em “Pulp Fiction” de Quentin Tarantino, já Debra Winger verificou como a passagem do tempo lhe iria ser fatal.

"Dois Estranhos Um Destino"

Em finais dos anos oitenta divorciou-se de Timothy Hutton, de quem tem um filho, e só em 1996 voltou a casar, com o actor e realizador Arliss Howard, só regressando ao cinema em 2001, para trabalhar ao lado do marido em “Big Bad Love”. Dois anos depois regressa ao grande écran na companhia de Ed Harris e Cuba Gooding Jr, em “Radio”, mas depois a sua arte começa a ficar esquecida dos Estúdios e só cinco anos depois, em 2008, a voltamos a encontrar de novo na película de Jonathan Demme “O Casamento de Rachel” / “Rachel Getting Married” (preferimos nem falar nessa película inenarrável intitulada “Um Funeral em Família” / “Eulogy”). Tem também breves aparições nas séries de televisão “Law & Order” / “Lei & Ordem” e “Terapia” e surge em dois tele-filmes,

"Esquecer Paris"

Mas voltemos um pouco atrás no tempo para conhecer o trajecto de oportunidades perdidas por Debra Winger. Em 1982 a actriz recusou o papel interpretado por Glenn Close em “Atracção Fatal” / ”Fatal Attraction”. Nesse mesmo ano, James Brooks escreve o papel da personagem interpretada por Holly Hunter em “Edição Especial” / “Broadcast News” , a pensar em Debra Winger para a protagonista, recorde-se que ele é o cineasta de “Laços de Ternura”, mas ela não irá aceitar. Mais tarde a actriz recusou os papéis principais de “Peggy Sue Casou-se” / “Peggy Sue Got Married”, que foi para Kathleen Turner e, caso raro, Francis Ford Coppola pensou em Debra Winger para a personagem desde o início. Mais tarde, foi a vez de Steve Kloves realizador de “Os Fabuloso Irmãos Baker” / “The Fabulous Baker Boys”, conhecerem o não da actriz e Madonna também o recusou, agarrando Michell Pfeiffer a oportunidade. E como não há duas sem três ou quatro sem cinco “The Music Box”/”A Caixa de Música” de Costa Gavras também viu Debra Winger a virar as costas ao projecto e a mais um cineasta com quem tinha trabalhado anteriormente. Por fim esse filme de baseball no feminino (até a Madonna quis estar presente) intitulado “Liga de Mulheres” / “League of Their Own”, viu a personagem que lhe estava destinada a ir parar às mãos de Geena Davis.

"Big Bad Love"

Em Hollywood é fundamental manter as boas relações de trabalho, principalmente com cineastas já conhecidos de outras películas, mas pelos vistos Debra Winger nunca se conseguiu entender com o rumo que pretendia oferecer à sua carreira.

Hoje todos nós sabemos o que são estas películas e como teria sido excelente ter podido ver a Debra Winger nesses filmes, mas as suas opções foram outras. Não nos esqueçamos que Humphrey Bogart começou a ser notado nos filmes de “gangsters”, porque aceitava sempre os papéis recusados por George Raft, que estava farto de ser o “gangster man” de serviço, mas também nunca é demais recordar como a História do Cinema está cheio de segundas e terceiras escolhas que fizeram um sucesso estrondoso, como é o caso do celebérrimo “Casablanca”, em que nem Humphrey Bogart, nem Ingrid Bergman foram a primeira dupla escolhida.

"Radio"

Foram as opções de Debra Winger que ditaram de certa forma o seu destino e a decisão de deixar Hollywood. A sua última interpretação de destaque foi num telefilme realizado pelo seu marido, Arliss Howard, intitulado “Dawn Anna”, baseado na vida da mãe de um dos jovens assassinados na tragédia do liceu de Colombine.

Nestes últimos anos (2009 – 2019) Debra Winger surgiu como secundária em apenas três filmes e foi protagonista de algumas séries de televisão, destacando-se em “The Ranch” ao lado de nomes como Ashton Kutchner e o sempre excelente Sam Elliott, mas o cinema que tão bem a conheceu anda esquecido dela.

"O Casamento de Rachel"

Ao viajarmos pelas películas a que Debra Winger, ofereceu o seu enorme talento, só poderemos concluir que a Sétima Arte possui nela uma das grandes intérpretes do cinema contemporâneo e na verdade, como ela disse um dia, “a vida é uma grande aventura” e merece sempre uma segunda oportunidade!

Rui Luís Lima

domingo, 15 de setembro de 2024

Rádio - Enquanto For Bom Dia!


Rádio - Enquanto For Bom Dia!

Pedro Castelo foi uma das vozes do célebre programa “Em Órbita” no seu primeiro ano de existência, mas seria no início dos anos setenta, através do programa “Enquanto For Bom Dia!”, emitido na Rádio Renascença, que o descobri, indo a emissão para o ar a partir das 10h até ao meio-dia e tendo na sua agradável companhia a Dora Maria, fazendo uma dupla que nos proporcionava uma excelente selecção musical, que nos captava a atenção ao mesmo tempo que muitas vezes nos fazia sorrir, tal era a empatia que era estabelecida com o ouvinte, recordo-me até de quando chegávamos ao liceu, as aulas eram de tarde, de falarmos do programa.

Léo Ferré
(1916 - 1993)

Embora fosse possível escutar todo o género de música no “Enquanto For Bom Dia”, dentro dessa esfera musical a que poderemos chamar o bom gosto, recordo-me muito em especial deste programa, porque foi nele que descobri a música francesa e principalmente esse nome incontornável chamado Leo Ferré que, tal como com Jacques Brel, me levou a adquirir os dois primeiros LPs oriundos de terras de França, em plena idade do rock: “La Solitude” e “Ne Me Quitte Pas”. Curiosamente tive conhecimento através de um excelente programa dedicado a Jacques Brel, na TV5 Monde, da história da canção “Ne Me Quitte Pas” e a quem ela foi dedicada, na verdade estamos perante uma das mais belas canções de amor de Jacques Brel.

Por ter sido no “Enquanto For Bom Dia!” que descobri, em doses certas, Jean Ferrat, Leo Ferré, Maxime Le Forestier, Jacques Brel, Herbert Pagani, Serge Reggiani, George Moustaki, George Brassens e Charles Aznavour aqui deixo o meu obrigado.

Rui Luís Lima
"Ne me quitte pas"
Jacques Brel

TV Séries - "Assassinato em..." / "Meurtres à..."


TV Séries
"Assassinato em..." / "Meurtres à..."
Episódios: 52
Canal: AXN Crime
(França - 2013)

"Assassinato em..." / "Meurtres à..." é uma excelente série francesa produzida por três televisões de França, Bélgica e Suíça. Cada episódio tem a duração de uma longa-metragem; situa-se numa zona geográfica diferente permitindo o espectador navegar ao longo do hexágono francês, mas também conhecer zonas da Bélgica e Suíça.

Iremos também ter um par masculino/feminino, sempre diferente, a investigar os acontecimentos e por esta série passa também o melhor dos actores francófonos de várias gerações, acompanhados de bons argumentos, que prendem o espectador à cadeira, assim como a realização cumpre com o que se pede ou seja não entra nessas falsas "velocidades contemporâneas" para esconder a inépcia da realização. Por aqui tudo é perfeito!

Rui Luís Lima

Cavaleiro Andante - (1952 - 1962)


Cavaleiro Andante - (1952 - 1962)

Nº.1 - 5 de Janeiro de 1952
Nº 556 - 25 de Agosto de 1962
Director: Adolfo Simões Müller
Preço: 1$80 (18 tostões)

Ao longo de 10 anos a revista de banda desenhada "Cavaleiro Andante" fez as delicias dos seus leitores, oferecendo-lhes entretenimento e cultura, para além dos famosos prémios: aqueles rádios!

Capa do º.51, um especial de Natal com 52 páginas
ao preço de 6$00 surgiu nas bancas a 20-12-1952
(capa de Fernando Bento)

Os leitores escreviam-lhe e eles respondiam, mas também tinham jogos e até uma página para as meninas andou por lá, para além dos "cromos" do futebol. O responsável foi o seu director Adolfo Simões Müller, um homem que sabia do ofício e até tinha lançado, num formato bem diferente (300 x 400 cm), a revista de banda desenhada "O Foguetão", que infelizmente só durou uma "dúzia" de números, passando as histórias que ficaram incompletas para o "Cavaleiro Andante".

Adolfo Simões Müller
(1909 - 1989)

A capa do número um, com aquele cavaleiro andante, é da autoria de Fernando Bento, um dos desenhadores portugueses que mais contribuiu para o sucesso desta revista que gostava muito da BD franco-belga. José Ruy, Eduardo Teixeira Coelho, José Garcês e José Manuel Soares foram outros autores "cá da terra" que ofereceram a sua Arte aos leitores desta revista, para além das novelas do Oeste e policiais que tinham sempre presença em cada número da revista.

Cavaleiro Andante nº.556
surgido nas bancas em 25-08-1962
ao preço de 2$00 e com 20 páginas,
despedia-se dos leitores ao fim de 10 anos.

O "Cavaleiro Andante" formou culturalmente milhares de leitores e fez nascer o gosto pela 9ª Arte neste pequeno país à beira mar plantado.

Paula Nunes Lima
Rui Luís Lima

Man Ray - "Notre-Dame vue de la rue St.Séverin"


Man Ray
"Notre-Dame vue de la rue St.Séverin"
Ano: 1931

Salas de Cinema - "Jardim Cinema"


Salas de Cinema - "Jardim Cinema"

Foi num cinema de Bairro que vi uma curta-metragem de Lauro António intitulada “Vamos ao Nimas” e nela era-nos dado a conhecer esse ambiente tão característico do chamado Cinema de Bairro, que oferecia quase sempre dois filmes numa sessão.

Muitos desses filmes vinham num prolongamento ou continuação de estreia, após terem feito a sua passagem pelas salas de estreia da capital, muitas delas na época verdadeiras catedrais cinematográficas, como sucedia com o Monumental, o Tivoli e o Império, só para citar algumas.

Jardim Cinema
(O célebre Palhinhas!)

Morando eu na zona de S. Bento, tinha três salas que frequentava com regularidade: o Paris (já desaparecido), o Cinearte (hoje sala de Teatro) e o célebre Jardim Cinema (hoje em dia mais uma dessas lojas intituladas de "megastore"). E digo célebre porque ele tinha no interior um magnifico Salão de Jogos, com os seus bilhares, matraquilhos, entre outros jogos, nunca esquecendo a célebre pista de mini-carros onde se participava em verdadeiras competições, com a célebre moeda de vinte e cinco tostões. Eram 60 voltas com inúmeros despistes, chegando até muitos de nós a levar os seus próprios bólides, “religiosamente” tratados para essas fabulosas corridas, como fazia um primo meu.

Planta da sala do Jardim Cinema
Anos 60/70/80 do século XX

No entanto era o Cinema o meu principal ponto de interesse e aquela sala tinha um verdadeiro predicado, porque a maioria dos lugares eram compostas por cadeiras de palha, as famosas palhinhas que na época custavam quatro a cinco escudos, existindo mais atrás uma outra zona onde se situavam as então denominadas poltronas (as cadeiras habituais nas salas de espectáculo) a seis escudos.

A sala era grande e possuía dois bares, um do lado direito quando se entrava na sala e o outro por debaixo da sala, muito mais extenso. E foram muitas as tardes em que eu entrava para a sessão das três horas e saía feliz às sete da noite, sempre maravilhado com os filmes que ía descobrindo. É claro que nessa época ainda não fixava o nome dos realizadores, mas sim dos actores e como sempre fui bastante alto, lá passava aos oito anos, sozinho ou acompanhado pelo meio da multidão para ver os filmes para maiores de 12 anos.

O meu primeiro James Bond em que fixei
o nome e as curvas de Ursula Andress.
("Agente Secreto 007" - Terence Young)

Geralmente o nosso destino eram as poltronas, mas quando se gastava mais uma moeda nas corridas de carros, as célebres palhinhas esperavam por nós, até esse dia em que descobrimos que havia umas poltronas mais perto do écran, intituladas plano A, que passaram a fazer as nossas delícias.

Mas esta índia que até era sueca e se chamava
Camilla Sparv ficou para sempre na minha memória.
("O Ouro de Mackenna" - J. Lee Thompson)

Por vezes a fita partia-se e de imediato se ouvia burburinho na plateia, dirigido ao pobre projeccionista, mas o pior foi nesse dia em que estávamos todos agarrados a um policial, em que o herói estava sentado no avião e de súbito o célebre “mau da fita” saiu da casa de banho do avião de pistola em punho, dirigindo-se ao detective… e no écran surge a palavra intervalo!

A descoberta de François Truffaut e Ray Bradbury.
("451º Fahrenheit" - François Truffaut)

Foi uma verdadeira revolta na “Bounty” no interior da sala e nós caladinhos, só não queríamos dar nas vistas, para vermos em paz o filme seguinte que era um desses “western” que fazia as nossas delícias, o que conseguimos, depois dos ânimos serenarem.

Um roubo quase perfeito, com um final inesquecível,
mas nessa época nem os actores conhecíamos:-)
("Um Roubo no Hipódromo" - Stanley Kubrick)

Mas se me perguntarem qual a película que mais me marcou nesta sala verdadeira mágica, ele foi o filme de François Truffaut intitulado “Fahrenheit 451”. Tinha na época nove anos e aquela história onde os livros eram proibidos ficou-me na memória para sempre. Recordo-me que regressei a casa a meditar no assunto, eu que adorava livros e tinha a casa repleta de livros, nunca iria querer viver naquela sociedade e comecei a pensar qual o homem livro que iria desejar ser e rapidamente escolhi “Um Dia Diferente” do John Steinbeck, um livro que a minha mãe tinha comprado em edição da Bertrand, que ainda mora na minha companhia, um livro que John Steinbeck escreveu para oferecer aos personagens do seu livro “Bairro da Lata” uma personagem feminina e lhes proporcionar uma nova vida. O cineasta/argumentista David Ward, irá levar ao cinema estes dois livros num único filme, através de um excelente argumento cinematográfico.

O meu primeiro Woody Allen, em pleno Verão quente,
que nos divertiu imenso.
("Bananas" - Woody Allen)

Dos actores que surgiam no filme de François Truffaut, “Fahrenheit 451”, só conhecia a Julie Christie que para mim, nessa época, representava a personificação de beleza, depois de a ter visto semanas antes no Cinema Monumental no “Longe da Multidão” / “Far From the Madding Crowd”.

O facto de a Julie Christie, no filme, interpretar duas personagens surpreendeu-me no início, mas depois percebi a versatilidade da actriz.

Anna Karina já era uma das minhas musas,
mas nesse ano de brasa houve um tumulto no bar
do Jardim Cinema contra a Igreja, no intervalo da sessão.
("A Religiosa" - Jacques Rivette)

Muitos anos depois, “Fahrenheit 451” (adaptação ao cinema do famoso livro de Ray Bradbury) permanece um dos meus filmes preferidos do François Truffaut.

E, com o passar dos anos, o Jardim Cinema passou a chamar-se Monte Carlo e as palhinhas desapareceram levando consigo as sessões de dois filmes, mais tarde o cinema partiu definitivamente e o Jardim Cinema passou a sala de espectáculos, mas já nada era como dantes. E mesmo quando ali assisti a um concerto da Suzanne Vega ainda no seu início de carreira, ao escutar as suas canções só me lembrava desses tempos em que se vivia o cinema como se ele fosse a mais bela e maravilhosa aventura de sempre. Hoje o extinto Jardim Cinema é mais uma dessas megastores que habitam Lisboa.

Rui Luís Lima

sábado, 14 de setembro de 2024

Rádio - Encontro Para Dois!


Rádio - Encontro Para Dois!

Quando passava as manhãs a ouvir rádio (as aulas eram de tarde) no início da década de setenta, do século xx, um dos programas que escutava era o excelente e divertido programa da Rádio Renascença, “Enquanto For Bom Dia” do Pedro Castelo e da Dora Maria, mas dele falarei depois, porque quando o meio-dia chegava, iniciava-se o “Encontro Para Dois”, um programa das Produções Sérgio, com o António Sérgio a oferecer um disco a quem acertasse numa determinada música que iria passar, só se tinha depois que ligar, mas o problema é que estava sempre impedido, eram muitos à procura da oferta e só dois seriam os contemplados.

António Sérgio
(1950 - 2009)

A música era variada mas excelente e depois consegui a tão desejada ligação e acertei no disco, que era o David Bowie e “Life on Mars?”, que permanece o meu tema favorito de David Bowie, andei para aqui a fazer umas contas com as memórias e datas de lançamento de dois discos, relacionados com o meu “encontro”, proporcionado por este programa de rádio, com uma jovem do Alentejo, ela até me escreveu uma carta e enviou foto tinha 17 anos e eu andava pelos 11 e o encontro ficou por essa breve correspondência, depois fui levantar o disco a que tinha direito à loja do Arnaldo Trindade, na Rua do Carmo e recebi o single “Orange” dos Pop Five Music Inc., que tinha sido lançado, a montra era bem original com um cesto com laranjas e diversas cópias do single em destaque (pode escutar aqui este grupo rock português, no tema “Orange”).

"Pop Five Music Incorporated"

Quando me falam nas grandes vozes da rádio é inevitável referir o nome incontornável de António Sérgio, que infelizmente já nos deixou, pelos programas que fez ao longo da vida, formando inúmeras gerações através do seu excelente gosto musical. Optei por escolher este “Encontro Para Dois”, porque ele está repleto de gratas memórias.

Rui Luís Lima

"Life On Mars"
David Bowie

TV Séries - "Father Brown"


TV Séries
"Father Brown"
Temporadas 1 - 9
Anos: 2013 - 2021
Mark Williams, Sorcha Cusack, John Burton, Nancy Carroll, Jack Dean, Alex Price, Emer Kenny.
Autoria: Rachel Flowerday / Tahsen Guner
Canal Fox Crime / BBC Entertainement

Esta série britânica que fez regressar ao écran as personagens criadas pelo escritor G.K. Cherterton, tem tido um assinalável sucesso e muito se deve ao actor Mark Williams, que alguns conhecem dos filmes de Harry Potter, mas também a Nancy Carroll, a célebre Lady Felicia, que irá surgir na segunda temporada transmitindo uma verdadeira transfusão de sangue, com as tropelias da sua personagem, cujo marido, sempre muito falado, nunca surge no écran.

Lady Felicia / Father Brown
(Nancy Carroll / Mark Williams)

Já com produção a ser preparada para o próximo ano, as aventuras deste padre católico em terras protestantes revela-se um belo divertimento, pela forma como ele, sempre muito metediço e por vezes bem inconveniente, para os respectivos chefes da polícia com quem se tem cruzado, vai solucuinando os crimes com que se depara naquele cantinho do "countryside" britânico!

Rui Luís Lima

Ric Hochet - "O Jornalista Detective" - André-Paul Duchâteau / Tibet


Ric Hochet
"O Jornalista Detective"
Argumento: André-Paul Duchâteau
Arte: Tibet
Páginas: 192
Álbum: Edições Devir

Este álbum da série Os Clássicos da Banda Desenhada", que tem dedicado grande atenção aos "comics" norte-americanos dedicou também alguns números à banda desenhada franco-belga, como sucede com o célebre repórter Ric Hochet do jornal "La Rafale", que surgiu pela primeira vez em Portugal nas páginas do Cavaleiro Andante com uma aventura de quatro páginas, que se irá tornar histórica, porque Tibet irá depois deixar a Europa e partir para o então Congo Belga e só quando regressar, alguns anos depois, irá retomar a personagem com novos traços e fisionomia bem diferente, surgindo nas páginas da revista Tintin (edição portuguesa) com essa famosa aventura no Havre, em que iremos descobrir nesse guarda-fatos do herói, as célebres camisolas de gola alta de diversas cores e um enorme conjunto de casacos iguais.

André-Paul Duchâteau
(1925-2020)

Este álbum das Edições Devir incluiu os seguintes álbuns:

- Os Espectros da Note / Les spectres de la nuit.
- Investigação no Passado / Enquete dans le passé.
- Inimigo Através dos Séculos / L'ennemi à travers les siècles.
- O Escândalo Ric Hochet / Le scandale Ric Hochet.

Tibet
(1931 - 2010)

Estas quatros histórias tem um arco temporal criativo de dez anos (1971 - 1981) e revelam-nos a verdadeira magia que sempre acompanhou as aventuras de Ric Hochet, não só pelo traço inconfundível de Tibet (Gilbert Gascard, de seu nome), mas também dos fabuloso argumentos de André-Paul Duchâteau, que também se dedica à escrita de policiais conseguindo transpor para as bandas desenhadas de Ric Hochet a emoção e o suspense que sempre celebrizaram o romance policial, sendo numa das histórias deste álbum bem patente um final típico dessa grande escritora chamada Agatha Christie, quando Ric Hochet reúne os suspeitos numa sal (seguindo as pisadas de Poirot) e decide desvendar o mistério e o criminoso perante os presentes, que terão todos um ar muito pouco inocente.

Este álbum de formato mais reduzido do que é habitual nos álbuns de banda desenhada, cumpre com o grafismo e as cores, apresentando uma folha de entrada para cada álbum, para além de nos oferecer um ensaio sobre o herói e os seus criadores, que infelizmente não surge assinado, mas cuja leitura se recomenda.

Rui Luís Lima