quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Danny Elfman - "This is Halloween"

 
"This is Halloween"
Danny Elfman

Danny Elfman
"Tim Burton's The Nightmare Before Christmas"
(Original Motion Pictures Soundtrack)
Walt Disney records
1993

Tim Burton assinou com este "Tim Burton's The Nightmare Before Christmas" um dos meus filmes favoritos de Natal, mas fundamental foi a maravilhosa banda sonora criada pelo Mago Danny Elfman. Recorde-se que Danny Elfmann é o responsável pelas bandas sonoras dos filmes realizados por Tim Burton e como hoje é a noite do Halloween, aqui recordamos este belo tema de acordo com esta quadra festiva.

Bom Halloween!

Rui Luís Lima

Michael J. Fox - "Um Homem de Sorte" / "Lucky Man"


Michael J. Fox
"Um Homem de Sorte" / "Lucky Man"
Paginas: 320
Bizâncio

O nome de Michael J. Fox é conhecido de todos, principalmente devido ao seu grande êxito “Regresso ao Futuro” / “Back to the Future” e também à sua participação na série “Quem Sai aos Seus” / “Family Ties”.


“Um Homem de Sorte” / “Lucky Man” não é mais um filme seu mas sim um livro, escrito na primeira pessoa, em que nos relata a sua vida desde que nasceu até ao sucesso de uma carreira no cinema, que foi “subitamente” interrompida devido à doença de Parkinson Jovem.


A sua narrativa oferece-nos a história de alguém que partiu ainda em adolescente à conquista do sonho de ser estrela de cinema e quando já estava a desistir e a regressar a casa, devido ao insucesso, descobriu finalmente que a sua estrela brilhava e foi tudo tão rápido, como muitos anos depois os tremores que nasceram no seu dedo, sintoma da doença que nascia. A outra parte deste livro fala-nos do problema clínico de Parkinson Jovem, daí a sua catalogação em Medicina em algumas livrarias, no entanto a forma viva e pessoal como é narrada a doença, quase como metáfora para apenas citar essa obra genial de Susan Sontag, permite uma leitura apaixonante, fugindo ao trágico.


Este livro editado em Portugal pela Bizâncio, apresenta-nos um Michael J. Fox jovem e incisivo nas questões que coloca e elas tanto são assuntos como a fama de uma estrela e a sua vida atribulada na Meca do Cinema, como a história de um homem famoso em luta contra uma doença, que o tornou igual a todos os outros, mas também diferente porque as suas convicções o transformaram no nome de uma causa.


Esse mesmo homem que lutara por um lugar ao sol no firmamento estrelar, trabalhando simultaneamente numa série “Quem Sai aos Seus” / “Family Ties” e numa película “Regresso ao Futuro” / “Back to the Future”, sobrevivendo então com apenas três horas de sono.

A arte de ser famoso nunca foi tão bem descrita como nestas páginas de um humor perfeito, sem qualquer mágoa ou pesar, apenas a passagem de um tempo que lhe ofereceu uma razão para viver no interior do seu núcleo familiar com a maior das intensidades.


Michael J. Fox, com “Um Homem de Sorte” / “Lucky Man”, oferece ao leitor o mapa da estrada da felicidade, como se de um filme se tratasse. Infelizmente a cura da doença de Parkinson ainda está distante, mas a acção de Michael J. Fox para a resolução do problema tornou-se muito importante e a fama do seu nome, como ele refere, contribuiu no bom sentido, para uma luta mais intensa com o problema.

Rui Luís Lima

F. W. Murnau - "O Último dos Homens" / "Der Letzte Mann"


F. W. Murnau
"O Último dos Homens" / "Der Letzte Mann"
(Alemanha - 1924) – (77 min – P/B - Mudo)
Emil Jannings, Maly Delschaft, Max Hiller, Emilie Kurz

Quando F. W. Murnau realizou “O Último dos Homens”, o “kammerspiel” atingiu o seu apogeu e ao vermos esta película somos obrigados a constatar tal facto, porque aqui a história do porteiro do Hotel “Atlantic”, que um dia é destituído do seu cargo, é-nos narrada sem qualquer inclusão de intertítulos, com excepção da carta que lê onde lhe é comunicada a sua destituição do lugar que ocupou até então na hierarquia do hotel, passando a ser o responsável pelos lavabos do hotel.


Já agora convém referir que existem duas versões: uma em que o filme termina com ele reduzido a um estado de perfeita perdição, depois de ter perdido o seu belo casaco, símbolo perfeito da sua importância perante o olhar alheio, ficando para sempre confinado a essa cave onde se situam os lavabos onde irá morrer, intitulada "Der Letzte Mann"; e uma outra versão em que um multimilionário excêntrico lhe deixa a sua fortuna, porque ele foi o último homem a vê-lo vivo, resgatando-o do inferno e tornando-o um homem respeitado e venerado, fruto do dinheiro que possui, intitulada "The Last Laugh".


Esta segunda versão, a existente no dvd “German Silent Masterworks”, terá sido filmada por imposição do protagonista Emil Jannings (o célebre Professor Unrat de “O Anjo Azul” de Joseph von Sternberg) e do produtor Erich Pommer, após a recepção negativa ao filme, na noite de estreia.


Mais uma vez F. W. Murnau nos oferece uma obra-prima do cinema ao realizar esta película, onde a luz da sua Arte consegue verdadeiros milagres, narrando a vida de um homem que, fruto da sua profissão de porteiro do Hotel, é venerado e respeitado por todos os que o conhecem, até à chegada dessa noite de chuva em que a idade o irá trair, quando o gerente do Hotel o encontra sentado na recepção a beber um copo de água e a descansar devido ao esforço despendido no transporte de uma mala enorme de uma cliente, debaixo de chuva.


Essa falta será devidamente anotada e no dia seguinte, quando ele se dirige para o Hotel, irá descobrir que o seu lugar já fora ocupado por alguém mais novo, ostentando um porte distinto. A partir desse dia será o responsável dos lavabos, perdendo o direito a ostentar esse enorme casaco de porteiro, sinónimo de divisas perdidas na guerra da vida. Ele irá por todos os meios esconder a sua nova condição dos que lhe são próximos, até chegar esse momento fatal em que a verdade surge de forma abrupta, transportando no seu interior a mesquinhez humana, tão bem retratada no comportamento de todos os que o rodeiam.


A forma como F. W. Murnau e o seu operador, o genial director de fotografia Karl Freund nos oferecem o quotidiano banal deste homem, focalizando a acção no Hotel, onde o movimento incessante das portas, a abrir e a fechar, são como caminhos que se abrem e fecham consoante os seus protagonistas. Por outro lado oferece-nos o respirar das ruas dessa Berlin, ao mesmo tempo que nos convida a entrar no bairro onde o porteiro do Hotel habita, retratando em traços precisos o rosto da Alemanha desses anos.


Seja qual for o final escolhido, teremos sempre em “O Último dos Homens” uma das obras mais importantes da filmografia de F. W. Murnau, para além de mais uma espantosa interpretação desse gigante da 7ª Arte chamado Emil Jannings.

Rui Luís Lima

"Humpá-Pá – O Pele-Vermelha” / ”Oumpah-Pah, Le Peau-Rouge” - René Goscinny


Humpá-Pá
"Humpá-Pá – O Pele-Vermelha” / ”Oumpah-Pah, Le Peau-Rouge”
Argumento: René Goscinny
Arte: Albert Uderzo
Páginas: 48
Asa

Esta aventura do famoso índio Humpá-Pá surgiu publicada em álbum pela Editorial Ibis em 1965 mas foi na Revista Tintin (portuguesa) que li pela primeira vez as aventuras deste Pele-Vermelha chamado Humpá-Pá, que irá estabelecer com o militar inglês casaca-vermelha Humberto da Massa-Folhada uma bela amizade, sendo a sua luta contra o temível Maus-Fígados a primeira aventura que li deste herói criado por René Goscinny e desenhado por Albert Uderzo, para as páginas da Revista Pilote.

René Goscinny e Albert Uderzo

No entanto, a pouca popularidade atingida por Humpá-Pá junto dos leitores franceses ficou bem visível após um inquérito ou sondagem, se preferirem este termo, da revista dirigida por René Goscinny, tendo os célebres criadores de Astérix abandonado, infelizmente, um dos meus personagens favoritos da banda desenhada franco-belga.


O primeiro volume reeditado pela Asa, intitulado “Humpá-Pá – O Pele Vermelha”, para além de nos oferecer a primeira aventura (30 pranchas), possui uma apresentação de Humpá-Pá feita pelo próprio Astérix, que nos narra como tudo começou, ao mesmo tempo que temos as primeiras tiras, surgidas em 1951 e o seu nascimento oficial em 1958, tornando-se este volume uma verdadeira preciosidade para os fans da célebre 9ª Arte!

Rui Luís Lima

Gustave Caillebotte - "Un balcon, boulevard Haussmann"


Gustave Caillebotte
"Un balcon, boulevard Haussmann"
Óleo sobre tela
69 x 62 cm.
Ano: 1880

Ken Hyder’s Talisker - “Land of Stone”


Ken Hyder’s Talisker
“Land of Stone”
JAPO 60018
JAPO Records
1977

Ken Hyder – drums.
John Lawrence – bass.
Marcio Mattos – bass.
David Webster – alto saxophone.
John Rangecroft – tenor saxophone, clarinet.
Ricardo Mattos – soprano saxophone, tenor saxophone, flute.
Brian Eloy – vocals.
Frankie Armstrong – vocals.
Phil Minton – vocals.
Maggie Nichols – vocals.

1 – The Strathspey King / The Men of Barra Know How To Drink, But The Woman Know How To Sing – 8:38
2 – Close The Window and Keep It Down – 3:34
3 – See You At The Mission, Eh, If It’s Nofull – 6:16
4 – Derek Was Only a Barris – 5:43
5 – Pibroch in Three Parts – 19:20
A – For the Mac Crimmons.
B – For John Coltrane.
C – For Albert Ayler.


Ken Hyder é um baterista escocês que teve a particularidade de fundir a música tradicional com o jazz, algo que o saxofonista Jan Garbarek também já fez com resultados brilhantes, e no caso de Ken Hyder, que na década de setenta do século passado fundou a banda Talisker, os resultados foram surpreendentes, como se poderá verificar ao escutarem este álbum intitulado "Land of Stone".

Gravado em Abril de 1977 em Londres e Misturado no Tonstudio Bauer, Ludwigsburg por Martin Wieland. Layout de Dieter Bonhorst. Fotografia de Lajos Keresztes. Produção de Thomas Stowsand.

Todos os temas foram compostos por Ken Hyder.

Rui Luís Lima

Albert Finney - (1936 - 2019) - O Actor Perfeito!


Albert Finney - O Actor Perfeito!

Antes de nos ter deixado a 8 de Fevereiro de 2019, Albert Finney, foi dado como morto por diversas vezes, em diversos twitters e múltiplas páginas no Facebook, “lamentando o sucedido”. Três anos depois quantos se recordam desse maravilhoso actor chamado Albert Finney?

Albert Finney & Audrey Hepburn

Como muitos actores ingleses, Albert Finney iniciou a sua carreira no Teatro, com enorme sucesso, ao mesmo tempo que surgia em diversos telefilmes e na série televisiva “Emergency Ward 10”, estreando-se no grande écran com a película de Tony Richardson “The Entertainer” / “O Comediante”, estávamos em 1960 e rapidamente Albert Finney se tornou num nome incontornável da Sétima Arte e seria precisamente sobre a direcção de Tony Richardson que o então jovem actor irá ser nomeado para o Oscar de Melhor Actor, devido ao seu deslumbrante trabalho em “Tom Jones”.

Mas para muitos a sua imagem mais famosa surge quando veste a pele do famoso detective Hercule Poirot, criado por Agatha Christie, em “Crime no Expresso do Oriente”, sobre a magnifica realização e direcção de actores de Sidney Lumet, recordo que o filme possui um elenco de estrelas bem difícil de reunir e é inesquecível, porque nem o inigualável David Suchet, me fez esquecer a interpretação de Albert Finney, tendo sido indigitado para o Oscar.

O mais perfeito Hercule Poirot!

Por mais duas vezes Albert Finney irá ser nomeado para o Oscar do Melhor Actor, em 1983 e 1984, pelos filmes "Debaixo do Vulcão"/"Under the Volcano" de John Huston e "O Companheiro"/"The Dresser" de Peter Yates, duas películas que se encontram infelizmente um pouco esquecidas neste século XXI e que bem merecem ser recordadas, pelas extraordinárias interpretações deste magnifico actor chamado Albert Finney.

"Debaixo do Vulcão", adaptação ao celulóide da famosa obra literária de Malcolm Lowry (*), onde a vida de um homem, o ex-consul, apresenta as marcas do deserto, sendo a luz partícula integrante de um fim que se anuncia desde o início, com a célebre festa dos mortos mexicana, luz essa não revigorada pela presença da mulher (uma Jacqueline Bisset deslumbrante), que ainda ama.


“The Dresser" / “O Companheiro” vive, e muito bem, de uma soberba interpretação de Albert Finney, onde o Teatro em si mesmo, que ele tão bem conhece, resiste e luta com a vida, nesse dilema insolúvel do universo, cujo final se anuncia discreto e violento desde os primeiros fotogramas, e onde o actor Tom Courtenay, na figura do assistente do grande actor e Albert Finney, compõem uma das mais belas sinfonias de amor e indiferença que até hoje nos foi possível observar. A realização de Peter Yates e a sua direcção de actores é uma verdadeira surpresa! E mais uma vez a Academia se esqueceu de Albert Finney.

Se fossemos escrever aqui sobre todos filmes em que Albert Finney é surpreendente e inesquecível, seria forçoso falar de muito mais películas a que ele deu vida e até me estou a recordar desse filme que adoro intitulado “Two For the Road” / “Dois Para o Caminho” em que ele e Audrey Hepburn nos narram o seu amor ao longo da vida num dos maiores e mais deliciosos “flashback “do cinema criado pela mão genial e inconfundível de Stanley Donen.

Albert Finney
(1936 - 2019)

E quando a Academia de Hollywood decidiu nomeá-lo e bem para o Melhor Actor Secundário pela sua interpretação em “Erin Brockovich” de Steven Soderbergh, todos pensámos que finalmente o bom senso tinha chegado à célebre cerimónia da atribuição dos Oscars, mas afinal estávamos redondamente enganados.

A Arte de Albert Finney permanece bem viva no cinema e quando passam dois anos sobre a sua partida, sugerimos que re(veja) alguns dos filmes que referimos para recordar o enorme talento deste actor britânico descendente de irlandeses.

Rui Luís Lima

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Laraaji - "Day of Radiance" - (Ambient 3)


Laraaji
"Day of Radiance" - (Ambient 3)
Editions EG
1980

Laraaji – zither, dulcimer, synthesizer, bells.

1 – The Dance # 1 – 9:06
2 – The Dance # 2 – 9:39
3 – The Dance # 3 – 3:15
4 – Meditation # 1 – 18:42
5 – Meditation # 2 – 7:50

O nome deste extraordinário músico, nascido em Filadélfia, é na verdade Edward Larry Gordon, mas adoptou o nome artístico de Laraaji; após estudos musicais, decidiu partir para essa grande Metrópole chamada New York e depois de comprar uma cítara, de que gostou muito, numa loja de penhores, desenvolveu diversas experiências musicais com este instrumento e começou a tocar nas ruas e parques da Big Apple e seria precisamente desta forma que Brian Eno, que na época vivia em New York, o irá descobrir num desses concertos ao ar livre para esse pequeno auditório que por ali ía passando e após escutar a sua música, Brian Eno deixou o seu cartão no estojo do instrumento que se encontrava no chão (outras versões referem que foi no chapéu de Laraaji), esperando por esses pequenos valores monetários que aquecem a vida.

Laraaji
(Edward Larry Cohen)
(1943)

Deste encontro entre os dois músicos irá nascer o hipnótico álbum “Day of Radiance” – Ambient 3, produzido por Brian Eno, que será dividido em duas partes bem distintas.

No lado A (estamos na época do vinil – 1980) surge o ciclo “The Dance” composto de três temas, em que a cítara de Laraaji é trabalhada em Estúdio por Eno, conduzindo-nos por diversos movimentos rítmicos sobrepostos de grande intensidade e beleza.

Já no lado B de “Day of Radiance” surge o ciclo “Meditation”, composto de dois andamentos ou faixas, se preferirem, uma delas bastante longa, em que somos conduzidos precisamente a essa meditação, que irá celebrizar os futuros trabalhos do músico, através da combinação de diversas sonoridades nascidas de um conjunto de instrumentos como sintetizadores, cítara, precursão e guitarra, que nos irão levar a esse território denominado hoje em dia por “New Age”, e do qual Laraaji e Brian Eno com o álbum “Day of Radiance” – Ambient 3, foram os verdadeiros percursores deste género musical, tão do agrado de uma determinada geração.

Rui Luís Lima

Laraaji
"Meditation # 1"

Mario Vargas Llosa - "A Tia Júlia e o Escrevedor" / "La tia julia y el escribador"


Mario Vargas Llosa
"A Tia Júlia e o Escrevedor" / "La tia julia y el escribador"
Colecção: Ficção Universal nº.40
Páginas: 348
Dom Quixote

O nome de Mario Vargas Llosa, nascido no Peru em 1936, é por demais conhecido em todo o mundo e a sua escrita, uma das mais geniais oriundas da América Latina, irá receber muitos anos depois o Prémio Nobel da Literatura, essa distinção máxima a que um escritor pode aspirar.

No interior da sua obra literária há um romance que deu brado e se tornou um verdadeiro livro de culto, por ser autobiográfico, já que o herói masculino de “A Tia Júlia e o Escrevedor” é o próprio Vargas Llosa, que a sua tia Julia Urquidi Illanes trata por Vargitas, dada não só a diferença de idades, mas também por esses laços familiares que os ligam.

Mario Vargas Llosa e Julia Urquidi Illanes
(a tia Júlia)

Na época retratada no romance, Mario Vargas Llosa andava a terminar Direito e era também responsável pelos serviços noticiosos de uma rádio, já a sua querida tia Júlia, recém-divorciada tinha regressado da Bolívia, respirando sensualidade e desgosto.

Será precisamente na Radio Central de Lima que Mario Vargas Llosa irá conhecer um colega jornalista chamado Pedro Camacho, que nutre uma profunda antipatia pelos argentinos, criando histórias para a rádio, os famosos folhetins radiofónicos, em que estes são os célebre protagonistas sempre crivados pelas balas satíricas de Pedro Camacho, que os ridiculariza de “fio a pavio”.

O leitor de “A Tia Júlia e o Escrevedor”, ao ler os capítulos em que possuem os relatos de Pedro Camacho, não consegue conter o sorriso para não dizer a gargalhada, tal é a verve humorística do escritor peruano. Por outro lado irá acompanhar o romance clandestino entre Vargas e a sua Tia Júlia, que traz a família em sobressalto, porque qualquer um percebia o que se estava a passar e como não podia deixar de ser o escândalo surge quando Vargitas e a Tia Júlia, consumidos pela paixão, decidem fugir e casar, mas o melhor é dar voz ao próprio escritor:

Mario Vargas Llosa

«Saímos de Lima às nove da manhã, numa camioneta que apanhámos no Parque Universitário. A tia Júlia tinha saído de casa dos meus tios com o pretexto de fazer as últimas compras antes da viagem, e eu, da dos meus avós, como se fosse trabalhar para a rádio. Ela metera num saco uma camisa de dormir e uma muda de roupa interior; eu levava, nos bolsos, a minha escova de dentes e uma máquina de barbear (que na verdade, ainda não me servia de grande coisa).»

“A Tia Júlia e o Escrevedor” revela-se um fabuloso romance autobiográfico que nos proporciona um maravilhoso encontro com o sorriso literário desse fabuloso escritor peruano chamado Mario Vargas Llosa.

Rui Luís Lima

Buster Keaton - "Sherlock Holmes Jr." / "Sherlock Jr."


Buster Keaton
"Sherlock Holmes Jr." / "Sherlock Jr."
(EUA – 1924) – (45 min. - P/B - Mudo)
Buster Keaton, Kathryn McGuire, Joe Keaton, Erwin Connely, Ward Crane.

Como todos devem estar recordados, Buster Keaton é o homem que nunca se riu nos filmes que realizou e interpretou e, desde muito cedo, foram muitos os que tentaram comparar as películas dirigidas por ele com as de Charlie Chaplin, em virtude de ambos representarem dois dos nomes mais importantes do cinema mudo. No entanto, a forma como eles sempre olharam o cinema é demasiado diferente, procurando cada um deles criar o seu próprio universo.


“Sherlock Holmes Jr” / “Sherlock Jr.” é, apesar da sua reduzida metragem, uma película empolgante e genuína, que nos convida a olhar o cinema do seu próprio interior, já que o personagem interpretado por Buster Keaton, um projeccionista de cinema que anseia ser detective, curiosa a sequência em que lê um livro intitulado “How to be a detective” com a lupa na mão, irá adormecer na cabine de projecção da sala de cinema onde trabalha e quando o sonho toma conta dele, irá mergulhar no interior do écran, entrando no filme que está a ser projectado na sala, tornando-se numa das personagens da história.


Ao vermos isto, de imediato nos recordamos de “A Rosa Púrpura do Cairo” / “The Purple Rose of Cairo” e percebemos que, afinal, Woody Allen ao criar esse argumento maravilhoso, que deu origem a um dos filmes mais originais da sua filmografia, foi beber um pouco da sua genialidade precisamente a este filme de Buster Keaton.


Mas regressando ao início da película, iremos encontrar Buster Keaton a namorar com uma rapariga (Kathryn McGuire) em casa dela, mas como existe um pretendente à mão da jovem muito mais esperto do que ele, o vilão do filme (Ward Crane) irá roubar um relógio, caindo as culpas sobre Buster Keaton, que será expulso da casa pelo pai da jovem (Joe Keaton). Ao ver-se impedido de rever a mulher que ama, o nosso herói regressa desalentado ao cinema onde trabalha como projeccionista, terminando por adormecer na cabine, enquanto o filme é projectado no écran.


Curiosamente, a entrada de Buster Keaton no interior da película irá ser problemática, porque ela própria o irá tentar expulsar da tela, alterando radicalmente os acontecimentos que vamos vendo: num momento o nosso herói está no alto mar e, repentinamente, no segundo seguinte encontra-se numa montanha, debaixo de um terrível nevão, mas Keaton, o Mestre das geniais “tropelias”, irá saltar de um lado para o outro, oferecendo-nos “gags” memoráveis, sempre sem duplos e por vezes a correr risco de vida, como tantas vezes nos habituou, conseguindo sair ileso das perigosas situações em que se encontra, sempre em luta com o vilão do filme projectado no écran, a fim de reconquistar o amor da jovem amada.


“Sherlock Jr.” revela-se, assim, uma verdadeira pérola da 7ª Arte para quem descobre este filme, infelizmente um pouco esquecido, obrigando-nos decididamente a pensar como o cinema contemporâneo vai beber muita da sua magia aos grandes Mestres do Cinema Mudo, entre os quais se encontra o genial Buster Keaton.

Rui Luís Liam

Stephan Micus - “Implosions”


Stephan Micus
“Implosions”
JAPO 60017
JAPO Records
1977

Stephan Micus – sitar, acoustic guitar, vocal. bavarian zither, shakuhachi, sho, thai flute, rabab.

1 – As I Crossed a Bridge of Dreams – 20:53
2 – Borkenkind – 6:45
3 – Amarchaj – 5:18
4 – For The Beautiful Charging Child – 3:40
5 – For M’schr and Djingis Khan – 6:24

Stephan Micus

O terceiro álbum de originais de Stephan Micus, irá marcar decididamente toda a sua carreira futura no universo musical, porque foi com ele que a sua surpreendente música começou a ser divulgada de forma consistente começando a nascerem os seus fans, numa época em que a célebre designação de New Age ainda não tinha nascido.

Gravado em Março de 1977 no Tonstudio Bauer, Ludwigsburg por Martin Wieland. Masterizado por Henri Riedel. Fotografia da capa do álbum de Dietmar Werle. Layout de Dieter Bonhorst. Produção de Manfred Eicher.

Todos os temas foram compostos e tocados por Stephan Micus. Com mais de 20 álbuns gravados para a ECM Records, por este músico intemporal chamado Stephan Micus, decidimos transcrever a nota que foi incluída por ele na edição do álbum “Implosions”, como uma espécie de definição da sua música, caso isso fosse possível:

«The Music on this álbum is not Japanese, Indian, Afghani… not Bavarian… it is not traditional music… call it that you will. There has been the sincere desire to understand the essence of these cultures.»

Rui Luís Lima

Blueberry - "Forte Navajo" / "Fort Navajo" - Jean-Michel Charlier / Jean Giraud


Blueberry
"Forte Navajo" / "Fort Navajo"
Arte:Jean Giraud
Argumento: Jean-Michel Charlier
Pranchas: 46
Álbum: Asa/Público

Blueberry é uma das minhas personagens favoritas da banda desenhada franco-belga, durante o período em que o argumentista desta banda desenhada se chamou Jean-Michel Charlier ela fez as minhas delícias, possivelmente porque Charlier teve o condão de envelhecer a personagem e também pela forma detalhada com que escrevia os argumentos, algo que se lerem os seus originais ficam perfeitamente deslumbrados, tudo o que encontramos nos desenhos de Jean Giraud, foi escrito de forma pormenorizada por Jean-Michel Charlier. E para aqueles que desconhecem o nome completo do Tenente Mike S. Blueberry, o herói que vai envelhecendo ao longo das histórias aqui vos deixo: Michael Steven Blueberry.


Blueberry foi publicado originalmente na revista "Pilote" concorrente do "Tintin", mas em Portugal o Tintin português, publicava bandas desenhadas oriundas de ambas as revistas o que o tornava ainda mais aliciante!

Rui Luís Lima

Camille Pissarro - "Le Boulevard Montmartre de nuit"


 Camille Pissarro
"Le Boulevard Montmartre de nuit"
Óleo sobre tela
53,3 x 64,8 cm.
Ano: 1897
National Gallery, Londres.

Orson Welles e "A Guerra dos Mundos" / "The War of The Worlds"


Orson Welles e "A Guerra dos Mundos" / "The War of The Worls"

A verdade dos factos do dia 30 de Outubro de 1938!

A data escolhida para a emissão foi o dia 30 de Outubro de 1938. A América estava cada vez mais preocupada com a Europa, perante o renascimento da Alemanha, que com a sua máquina de Guerra ameaçava tudo e todos. Como sabemos, a Guerra Civil de Espanha tinha servido para testar a eficácia do armamento alemão, mas os americanos também estavam cada vez mais preocupados com os discos voadores.


O Planeta Marte aterrorizava o cidadão comum, não eram só os filmes de série-B que cada vez mais se centravam na temática marciana com uma invasão da terra, mas também eram cada vez mais os cidadãos que diziam ter avistado disco voadores no céu, alguns até afirmavam ter sido raptados por extra-terrestres, mas depois de libertados a maioria não se recordava de nada do que se passara, embora alguns ainda tivessem as forças suficientes para descreverem pormenorizadamente esses seres malignos que pretendiam conquistar o nosso planeta.


Foi neste clima de medo que Orson Welles e a sua equipa habitual do “Mercury Theatre”, anunciou na rádio que iria transmitir uma peça intitulada “A Guerra dos Mundos”, adaptada ao tempo presente e baseada no famoso romance de H.G.Wells.

No entanto todas as pessoas que ligaram os rádios depois das 20 horas já não tiveram oportunidade de escutar o aviso de Orson Welles, não nos esqueçamos que na época se viviam os famosos dias da rádio, tão bem retratados no filme de Woody Allen.


Após o início da peça, o jovem Orson Welles, desconhecendo que acabara de entrar para a História, sentou-se na sua cadeira e acompanhou calmamente a emissão, como fazia habitualmente.

A emissão começou para cerca de 32 milhões de ouvintes e o locutor anunciou que um meteorito vindo do planeta Marte tinha caído em New Jersey, dele estavam a sair tropas marcianas que possuíam o raio da morte que iria aniquilar a humanidade. O relato do avanço das tropas marcianas na América continuou, até que um comunicado do Ministério do Interior foi emitido a aconselhar a calma à população norte-americana, recomendando determinadas medidas, para se salvaguardarem dessas terríveis criaturas, que tinham invadido o planeta.


New Jersey estava praticamente devastada e a superioridade das armas marcianas era de tal ordem que não se encontrava forma de deter o seu avanço, ao mesmo tempo eram anunciadas quedas de outros meteoritos de onde desembarcavam cada vez mais tropas marcianas. A América estava perdida!

O pânico instalou-se nas cidades e milhares de pessoas começaram a invadir as estradas e os campos, em fuga dessa estranha morte vinda do espaço. As ruas de New York começaram a ficar repletas de pessoas em perfeito estado de choque à espera do pior, entretanto a emissão radiofónica anunciava que os marcianos se aproximavam da Quinta Avenida enquanto o rio East já se encontrava repleto de cadáveres, ao mesmo tempo as igrejas começaram a albergar as muitas almas que ainda acreditavam que um milagre seria possível.


Orson Welles, Joseph Cotten e Ray Collins dão por terminada a emissão teatral dessa noite e só então se apercebem que tinham provocado o pânico generalizado “coast to coast” em toda a América.

Nos estúdios da CBS os telefones não paravam de tocar e a polícia na rua era forçada a recorrer à violência para impedir as pilhagens que já se tinham iniciado. Foi necessário que todas as estações de rádio começassem a emitir boletins noticiosos informando que nada se tinha passado, apenas se tratando da adaptação teatral de um famoso livro escrito por H. G. Wells e transposta com enorme realismo para esse memorável dia 30 de Outubro.


A celebridade de Orson Welles tinha acabado de nascer, o “wonder-boy” tinha colocado a América à beira de um ataque de nervos. Mas o autor do livro, o célebre H. G. Wells, enviou de Londres um telegrama a Orson Welles, discordando das “liberdades criativas” usadas por este na sua adaptação teatral para a rádio do conhecido livro, tendo o clima ficado de tal forma escaldante entre o escritor e o encenador, que H. G. Welles depois de saber em pormenor o sucedido na América instaurou um processo a Orson Welles. Recorde-se que no pânico generalizado, centenas de pessoas ficaram feridas ou foram agredidas e roubadas.


Orson Welles subiu ao trono e a RKO deu-lhe total liberdade criativa para ele fazer um filme, algo inédito nessa época em que os Grandes Estúdios reinavam e controlavam todas as fases de produção com mão de ferro. A película seria “Citizan Kane” / “O Mundo a Seus Pés” e a sua importância na História do Cinema é conhecida de todos, quanto ao romance de H. G. Wells, ele continua a ser uma das obras-primas da literatura de ficção-cientifica.

Mas o pânico que a emissão teatral de Orson Welles espalhou em toda a América nessa noite memorável, da qual hoje se comemora mais um aniversário, ficou para sempre na História da Rádio, haja ou não marcianos no Planeta Vermelho ou será que eles vieram para a Terra e todos nós somos seus descendentes?

A emissão de "A Guerra dos Mundos" de Orson Welles é a mais célebre da história da rádio!

Nota: Em Portugal, Matos Maia fez uma adaptação radiofónica deste livro de H. G. Wells.

Rui Luís Lima

Orson Welles
"The War of The Worlds"

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Joni Mitchell - “Court and Spark”


Joni Mitchell
“Court and Spark”
Asylum Records
1974

1 – Court and Spark
2 – Help Me
3 – Free Man in Paris
4 – People’s in Parties
5- The Same Situation
6 – Car on a Hill
7 – Down To You
8 – Just Like This Train
9 – Raised on Broadway
10 – Trouble Child
11 – Twisted


Nessa década de “todos os perigos” Joni Mitchell lança no mercado discográfico, aquele que será para mim o seu mais belo álbum de sempre e confesso que os tenho todos nos mais diversos formatos, sempre a fazerem-me companhia ao longo dos anos. Canções como “Help Me” e “Free Man in Paris”, tocavam no FM, dessa época, como verdadeiros hits, mas eles são muito mais do que isso, porque Joni Mitchell é uma excelente poetisa e compositora e na verdade “Court and Spark” vale pela sua totalidade.

Joni Mitchell

Todos os temas são de sua autoria, excepto o último e em “Court and Spark” iremos encontrar nomes como David Crosby, Graham Nash, Robbie Robertson, entre outros a darem-lhe uma “mãozinha” preciosa. Vale a pena descobrir “Court and Spark” de Joni Mitchell, ou recordar, se for esse o caso, porque este trabalho discográfico é intemporal!

Rui Luís Lima

Joni Mitchell
"Free Man in Paris"