Ernst Lubitsch
“A Viúva Alegre” / “”The Merry Widow”
(EUA-1934) – (97 min. - P/B)
Jeanette MacDonald, Maurice Chevalier, Edward Everett Horton, Una Merkel, George Barbier
Já por aqui escrevemos, por diversas vezes, que a comédia é um dos géneros mais difíceis do cinema e quando se fala nos seus grandes Mestres, sobressai de imediato um dos seus nomes maiores, o alemão Ernst Lubitsch, que um dia trocou a sua terra natal pelo novo mundo.
Por outro lado, quando alguém me fala em Lubitsch, vem-me de imediato à memória essa obra intitulada “To Be or Not To Be” / “Ser ou Não Ser” que o cineasta realizou em 1942, centrando a acção na Varsóvia de 1939, em plena invasão alemã, tendo até sido escrito na Imprensa da época que se Hitler tivesse visto o filme nunca teria dado início à Segunda Guerra Mundial, invadindo a Polónia, tal é o humor corrosivo com que são retratados os invasores alemães.
Mas também há essa inesquecível obra em que Greta Garbo brilhou pela última vez na nossa memória, o célebre “Ninotchka”, em que o alvo da sua arte era a ideologia comunista na terra da perdição do capitalismo e na mais bela cidade do mundo, essa Paris que irá mudar para sempre, a visão da célebre comissária soviética Ninotchka.
Por outro lado temos essa maravilhosa comédia romântica, uma obra-prima do género, intitulada “A Loja da Esquina” / “The Shop Around the Corner”, que até já teve um “remake” bem conhecido da “geração net” intitulado “Você Tem uma Mensagem” / “You’ve Got Mail” com o Tom Hanks e a Meg Ryan nos protagonistas. E se continuarmos por aqui fora a falar dos filmes de Lubitsch, começaremos a falar de “Design for Living” / “Uma Mulher Para Dois” esse filme que quebra todas as barreiras da censura com o célebre “Lubitsch Touch”.
O leitor já está perfeitamente situado, porque conhece certamente um destes delirantes filmes e assim poderemos começar a falar deste cineasta, que se iniciou na profissão de actor pela mão do famoso Max Reinhardt, tendo na época como colegas Emil Jannings (o professor de “O Anjo Azul” de Josef Sternberg) e Conrad Veidt (quem não se lembra dele, na figura do coronel alemão no filme de Michael Curtis “Casablanca”).
Ernst Lubitsch, depois de ter feito a tarimba na Alemanha, de actor passou a argumentista, dando de seguida o inevitável salto para a realização. Em 1922, a convite da então mais que famosa Mary Pickford (conhecida como a namorada da América), partiu para terras americanas sendo a sua primeira obra sonora “The Love Parade”, que lançava um par que se tornaria famoso, formado por Maurice Chevalier e Jeanette MacDonald, par esse que iremos reencontrar precisamente em “A Viúva Alegre” / “The Merry Widow”, uma adaptação ao cinema da famosa opereta de Franz Leahr que já teve, desde a sua criação, mais três adaptações ao grande écran (os outros responsáveis são Erich Von Stroheim, Ludwig Berger e Curtis Bernhardt).
Se o leitor não viu o filme, pode já ficar a saber que existiu um reino, na Europa Central, chamado Marshovia, governado pelo famoso Rei Achmed (George Barbier) que lá vai dirigindo o pais como pode, mas tendo sempre um problema económico que terá que gerir com todo o seu saber, porque metade do seu reino pertence a uma viúva riquíssima chamada Sónia, que não mostra a cara a ninguém desde que o marido faleceu e anda sempre vestida de preto, com o seu véu cobrindo-lhe o rosto.
Ora com um problema destes sempre na mente, o rei não se apercebe das traições da Rainha Dolores (Una Merkel) com o Conde Danilo (Maurice Chevalier), mas o Conde é um conquistador que não tem mãos a medir e decide um dia invadir o jardim da casa da célebre viúva no intuito de lhe ver o rosto e fazer a consequente corte. Perante os avanços do Conde, esta decide partir para Paris para viver a vida, mas o medo de o Reino cair em mãos pouco recomendáveis leva o Rei Achmed a dar a Danilo a “terrível” missão de se casar com a famosa viúva. Chegado a Paris, Danilo, em vez de ir ter com o embaixador Popoff (Edward Horton perfeitamente hilariante), decide ir até ao célebre “Maxim’s” onde o esperam as famosas meninas que não se esqueceram do galante conquistador. Mas, nessa mesma noite, Sónia também decide ir até lá para conhecer o mais famoso cabaret da “cidade das luzes”. Quando entra é confundida com mais uma caçadora de fortunas a fazer pela vida. E, como não podia deixar de ser, acaba por se cruzar com o Conde Danilo que, desconhecendo a sua identidade, não a perde de vista e se apaixona por ela e após demasiadas taças de champanhe acaba por lhe revelar a sua terrível missão.
Quando se voltam a encontrar no baile preparado pelo Embaixador, Sónia decide ajustar contas com aquele oficial atrevido de sua Majestade, para grande surpresa do Embaixador Popoff, que desconhece o encontro havido. Tudo acabará mais tarde por terminar bem, apesar de Danilo ser condenado à morte por ter falhado na sua importante missão, porque o amor falara mais alto.
Ao longo do filme, Ernst Lubitsch constrói diálogos e situações que nos levam a eleger esta comédia como uma das mais brilhantes da sua carreira cinematográfica, contornando com enorme perícia as célebres imposições do célebre Código Hays (a censura que na época vigorava), tanto na sequência no Maxim’s, como nessa outra sequência em que o Rei Achmed o apanha na cama com a Rainha. Por outro lado, o diálogo construído durante o encontro do par na embaixada com um Popoff a assistir, sem perceber “patavina” do que se passa, é perfeitamente hilariante. Depois a forma como nos é oferecido o quotidiano nesse Reino chamado Marshovia, em que as trocas comerciais se encontram na forma mais “primitiva”, leva-nos a equacionar, com um sorriso nos lábios, as regras porque se rege a economia no mundo contemporâneo.
Ernst Lubitsch soube, como ninguém, tornar a comédia uma forma de Arte em que a palavra tem um papel fundamental e curiosamente teve um herdeiro, no verdadeiro sentido da palavra, em Billy Wilder que seguiu o caminho inaugurado por ele. Mas o célebre “Lubitsch Touch” só a ele lhe pertence. Basta ver ou rever “The Merry Widow”/ “A Viúva Alegre” ou um dos filmes acima referidos para descobrimos que a comédia também possui as suas obras-primas no interior da Sétima Arte.
Rui Luís Lima
O célebre Maurice Chevalier teve uma carreira bem marcante no cinema em terras americanas, aqui dirigido por Ernst Lubtisch, numa comédia marcante na época.
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