sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Yes - "Close To The Edge"


Yes
"Close To The Edge"
Atlantic
1972

Jon Anderson - vocals
Steve Howe - guitar, vocals.
Rick Wakeman - keyboards.
Chris Squire - bass, vocals.
Bill Bruford - percussion.

Yes

Nesse ano de 1972 os Yes iriam ver o seu nome fixado para sempre por uma geração, que ficou fascinada com as célebres viagens deste rock progressivo, a que muitos até chegaram a denominar de rock sinfónico fruto não só do trabalho de Rick Wakeman, mas também da célebre estrutura de um tema preencher um dos lados do LP, como sucede com "Close to The Edge". Por outro lado nunca nos poderemos esquecer desse poeta chamado Jon Anderson, o vocalista da banda, que nos ofereceu da melhor poesia de que há memória no rock, para além de possuir uma voz inconfundível!

Rui Luís Lima

Yes
"You and I"

Emir Kusturica - “Underground – Era Uma Vez Um País” / “Underground”


Emir Kusturica
“Underground – Era Uma Vez Um País” / “Underground”
(França/Jugoslávia/Alemanha/Hungria – 1995) – (192 min. / Cor)
Mimi Manojlovic, Mirjana Jokovic, Lazar Distovoki, Salvko Stimac, Ernst Stotzner.

Durante largos anos o cinema produzido na ex-Jugoslávia, nesses tempos em que imperava o Marechal Tito, a denominada guerra de libertação era o tema mais comum nos filmes distribuídos no Ocidente, mas quando surgiu “Lembras-te de Dolly Bell?” / “Specas li se Dolly Bell?”, nascia pela mão de Emir Kusturica, um cinema com a temática centrada no quotidiano, e com a feitura em 1985 de “O Pai foi em Viagem de Negócios” / “Otac na sluzbenon putu”, muitos perceberam que tinha nascido um cineasta. Já em “O Tempo dos Ciganos” / “Dom za vesanje”, este bósnio nos revelava um universo até então ausente do cinema, onde a magia e as tradições andavam de mãos dadas e como não podia deixar de ser Emir Kusturica acabaria por fazer o seu filme americano, “Arizona” / “Arizona Dream”, com um regressado Jerry Lewis no protagonista, ao lado de Johnny Depp, Vincent Gallo e Faye Dunaway.


Quando nos écrans de todo mundo se estreou “Underground – Era Uma Vez um País” de imediato foram inúmeras as leituras políticas feitas da película, chegando alguns a acusar o filme de ser pró-sérvio, numa época em que a ex-Jugoslavia entrava em implosão dando origem a uma luta fratricida entre as diversas etnias, que mais tarde irá dar origem as nascimento de diversas nações, como muitos estão recordados.


No entanto o filme de Emir Kusturica, profundamente político, tocava com o dedo na ferida, ao contar-nos uma história verdadeiramente surrealista e ideológica, em que um grupo de homens, contrabandistas, que lutavam contra a opressão nazi, durante a Segunda Grande Guerra, irão permanecer após o fim do conflito a viverem e a fabricar munições, escondidos em subterrâneos, julgando que a guerra continua e sempre que voltavam à superfície era de imediato criado o cenário necessário para eles pensarem que o conflito permanecia, numa guerra infinita


Esta história de um homem que engana o seu melhor amigo, roubando-lhe a namorada e de certa forma a vida, poderá ser objecto das mais diversas leituras, mas Emir Kusturica em “Underground –Era Uma Vez um País”, filme vencedor da Palma e Ouro no Festival de Cannes, oferece-nos um retrato corrosivo do país em que nasceu. E ao revermos “Underground – Era Uma Vez um País” é inevitável lermos nas entrelinhas ou vermos nos fotogramas, memórias de um passado, que permanece incómodo para muita boa gente.

Rui Luís Lima

Paul Auster - “O Livro das Ilusões” / "The Book of Illusions"


Paul Auster
“O Livro das Ilusões” / "The Book of Illusions"
Páginas: 272
Asa

Paul Auster, ao longo dos anos, construiu um edifício Literário em que personagens nascidos da sua escrita inimitável são imediatamente reconhecidos como seus, tendo sempre em conta essa solidão que habita nos seus corpos. Hector Mann, uma estrela esquecida e dada como morta do período do cinema mudo, é o fio condutor desta história, que irá conduzir o solitário e enlutado David Zimmer (um professor de Literatura de Vermont, que perdeu a mulher e os filhos num desastre de avião) a conhecer essa estrela do cinema mudo, que se retirou no auge da fama, levado pela mão de uma mulher enigmática chamada Alma Grund, até aos confins do Novo México.

Ao longo daquele que será, possivelmente, o mais belo romance de Paul Auster, mergulhamos não só no interior da sua escrita como no do próprio cinema nessa longínqua época em que o som estava ainda ausente e os intertítulos surgiam no écran a complementar as imagens. Curiosamente numa das noites em que relíamos “O Livro das Ilusões”, recordámo-nos a dado passo de “O País das Últimas Coisas”.

Rui Luís Lima


«O telefone da casinha de Alma era temperamental e eu nem sempre conseguia apanhá-la. Instalação defeituosa, disse-me ela, um qualquer elo do sistema que por vezes falhava, o que significava que, mesmo depois de ligado o número e ouvido os rápidos cliques e bipes que sugeriam que a chamada estava a ser feita, o telefone dela não tocava. Em contrapartida Alma conseguia chamadas a maior parte das vezes. No dia em que regressei a Vermont, fiz várias tentativas infrutíferas para falar com ela, e, quando Alma finalmente me ligou às onze horas (nove horas, tempo da montanha), decidimos que seria melhor ela telefonar-me, em vez de eu passar um tempo infindo às voltas com a ligação. Depois disso, sempre que falávamos, terminávamos a nossa conversa fixando a hora da chamada seguinte e, por três noites consecutivas, o esquema funcionou tão bem como um truque num espectáculo de magia. Dizíamos sete horas por exemplo, e, às sete menos dez, eu instalava-me na cozinha, servia-me uma pequena dose de tequila pura (continuávamos beber tequila juntos apesar de tão distantes) e, às sete em ponto, no exacto momento em que o ponteiro dos segundos do relógio de parede atingia o topo do círculo para marcar a hora, o meu telefone tocava. Acabei por confiar absolutamente na precisão dessas chamadas. A pontualidade de Alma era um sinal de fé, um total apego ao princípio segundo o qual duas pessoas, embora vivendo em dois locais diferentes do mundo, podiam estar em absoluta sintonia relativamente a quase tudo.»

Paul Auster
in "O Livro das Ilusões"

Robert Wise - “Música no Coração” / “The Sound of Music”


Robert Wise
“Música no Coração” / “The Sound of Music”
(EUA – 1965) – (174 min. / Cor)
Christopher Plummer, Julie Andrews, Eleanor Parker, Richard Haydn.

“Música no Coração” é aquele musical que todos nós já vimos quando éramos crianças, quanto a mim fiquei perfeitamente emocionado pela história da família do Capitão Von Trapp, na época as sessões esgotavam e o êxito foi enorme como todos sabemos.


“The Sound of Music” tinha a dirigi-lo um homem que andou uma vida de mãos dadas com a Indústria, Robert Wise, já com um célebre musical no curriculum, “West Side Story” / "Amor Sem Barreiras" e mais uma vez ele veria o seu esforço reconhecido através dos Oscars, mas em “Música no Coração” temos o encanto e a frescura de Julie Andrews, a inglesa que fora estrela em “Mary Poppins” de Walt Disney, que lhe ofereceu a oportunidade tão desejada pela actriz depois de ela ter sido recusada para o papel de “My Fair Lady”, porque os Estúdios pretendiam um nome seguro chamado Audrey Hepburn. Julie Andrews não deixou fugir esta oportunidade e depois a história é conhecida de todos, embora no ano seguinte Alfred Hitchcock tenha lamentado o seu cachet altíssimo em “Cortina Rasgada” / “Torn Curtain”. Ao lado de Julie Andrews em Música no Coração” temos Christopher Plummer já com uma carreira segura no cinema e na televisão e a bela Eleanor Parker (Baronesa Elsa Schraeder), que ficou um pouco esquecida neste filme devido à personagem que interpreta, rival de Maria na luta pela posse do capitão Von Trapp.


Maria é uma daquelas raparigas que tem jeito para tudo menos para estar num Convento e como ainda é noviça e se porta muito mal no seu interior, fugindo dele “a sete pés” correndo pelos campos a cantar em vez de se dedicar à oração, a Madre Superiora decide encarregá-la de uma missão, ser a ama dos filhos do Capitão Von Trapp, só que as crianças, Liesl, Friedrich, Louisa, Kurt, Brigitta, Marta e Grett, decidem fazer-lhe a vida negra e quando são sete a tarefa é mesmo difícil, mas Maria a pouco e pouco consegue entrar no coração das crianças e mais tarde há-de chegar a vez do rígido e militar Capitão Von Trapp, para grande alegria das crianças e tristeza da Baronesa. Tudo parece encaminhar-se para aquele “mar de rosas” mas a história, com a chegada dos nazis ao poder na Áustria, provoca profundas alterações na família e no patriotismo do Capitão que não vê com bons olhos a bandeira da cruz suástica ao vento na entrada de sua casa, originando um conflito com a autoridade vigente e aqui só lhe resta aceitar um cargo na Marinha do Terceiro Reich ou pôr-se em fuga, ainda por cima com a filha mais velha apaixonada por um jovem militar hitleriano. Somos obrigados a reconhecer que o argumento de Ernest Lehman, colaborador de Hitchcock, está carpinteirado de forma soberba, apesar de baseado numa história real.


Robert Wise, o homem que aceitou a ordem dos Estúdios para refazer a segunda obra de Orson Welles, “O Quarto Mandamento” / “The Magnificent Ambersons”, dando desta forma o primeiro tiro no Génio, construiu uma obra que irá ficar para sempre na memória de todos. Aliás, temos que reconhecer o seu trabalho de montagem em “Citizen Kane” / "O Mundo a Seus Pés" e depois até como cineasta subiu a escada a pulso, aprendendo todos os passos da arte cinematográfica, embora, apesar de todos os sucessos, na memória dos cinéfilos ele seja sempre recordado como o autor do “happy-end” forçado de “O Quarto Mandamento”. Deixando de parte esta questão somos obrigados a reconhecer que “Música no Coração” é um dos mais belos musicais da História do Cinema, o filme que encheu de dinheiro os bolsos dos produtores e fez a delícia das plateias. Por outro lado convém referir um caso curioso passado na idade do vídeo, quando a película foi lançada na célebre cassete, usando o famoso “pan and scan” para encher o écran do televisor, todos descobrimos como algo de errado estava no processo, dos sete filhos do capitão Trapp, muitas vezes víamos quatro e meio e por aí fora, depois com o nascimento do dvd, esse aspecto foi corrigido e assim podemos usufruir em toda a sua plenitude a película e as suas canções inesquecíveis.


Recordar hoje “Música no Coração” sem "complexos cinéfilos" é um dever, porque estamos perante um musical inesquecível e como iniciámos esta crónica com memórias de infância, terminamos com outra memória já do nosso período cinéfilo, a forma mordaz como Blake Edwards (marido de Julie Andrews) nos ofereceu a visão do início da película no célebre "cartoon" da Pantera cor-de-rosa, a anteceder mais uma aventura do “brilhante” inspector Clouseau, vale a pena ver. Revisionismos à parte, somos obrigados a reconhecer que “The Sound of Music” perdura na memória de todos os cinéfilos, como um musical inesquecível.

Rui Luís Lima

"Tintin na América" / "Tintin en Amérique" - Hergé


Tintin
"Tintin na América" / "Tintin en Amérique"
Arte: Hergé
Argumento: Hergé
Páginas:64
Verbo


"Tintin na América" foi publicado pela primeira vez em "Le Petit Vingtième" de 3 de Setembro de 1931 a 20 de Outubro de 1932, no sistema "em continuação", a preto e branco. Hergé em 1945 irá criar uma versão a cores, que se irá tornar a mais conhecida, embora presentemente estejam disponíveis as duas versões em álbum.

Rui Luís Lima

Luigi Loir - "Scène de rue"


Luigi Loir
"Scène de rue"
Óleo sobre tela
Ano: s/data.

Double Image - “Dawn”


Double Image
“Dawn”
ECM 1146
ECM Records
1979

David Samuels – vibraharp, marimba.
David Friedman – vibraharp, marimba.
Harvie Swartz – bass.
Michael DiPasqua – drums, percussion.

1 - Passage (Harvie Swartz) – 14:12
2 - The Next Event (David Friedman) – 9:02
3 - Sunset Glow (David Samuels) – 11:32
4 - Crossing (David Samuels) – 8:13

David Friedman & David Samuels

O quarteto de jazz Double Image, liderado por David Samuels e David Friedman, assina com este álbum, o segundo da banda, intitulado "Dawn", um belo e inesquecível amanhecer musical, onde a Arte destes dois vibrafonistas, que aqui tocam marimba e vibraharpa, nos transmitem momentos verdadeiramente celestiais.

No tema “The Next Event” David Friedman toca vibraharp e David Samuels toca Marimba. Vale a pena descobrirem esta pérola da música contemporânea!

Gravado em Outubro de 1978 no Talent Studio, Oslo, por Jan Erik Kongshaug. Design de Barbara Wojirsch. Fotografia da capa do álbum de Christian Vogt. Fotografia de Roberto Masotti. Produção de Manfred Eicher.

Rui Luís Lima

John Ford - “O Denunciante” / “The Informer”


John Ford
“O Denunciante” / “The Informer”
(EUA – 1935) – (91 min. – P/B)
Victor McLaglen, Heather Angel, Preston Foster.


Qualquer amante da Sétima Arte, quando decide re(ver) alguns filmes do cinema expressionista, mergulha de imediato no cinema alemão, mas irá terminar sempre por ir ver este filme de John Ford, que possui na fotografia de Joseph H. August alguns dos momentos mais belos do expressionismo no cinema.


Em “O Denunciante” / “The Informer” acompanhamos o calvário desse gigante chamado Gypo Nolan (extraordinário e inesquecível Victor McLaglen), que irá denunciar o chefe do IRA local às autoridades britânicas para receber o prémio da delação e com esse dinheiro partir com a sua amada para a América.


Baseado no livro de Liam O’Flaherty, do qual Dudley Nichols criou um poderoso argumento, que irá prender o espectador do primeiro ao último fotograma, com essa redenção na igreja do protagonista no final da película.


“O Denunciante” / “The Informer”, de John Ford, conquistou quatro Oscars: Melhor Actor: Victor McLaglen; Melhor Realizador: John Ford; Melhor Argumento: Dudley Nichols e Melhor Banda Sonora: Max Steiner.

Rui Luís Lima

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Cluster - “Sowiesoso”


Cluster
“Sowiesoso”
Sky Records
1976

Hans-Joachim Roedelius 
Dieter Moebius 

1- Sowiesoso - 8:10
2 - Halwa - 2:45
3 - Dem Wanderer - 3:50
4 - Umleitung - 3:25
5 - Zum Wohl - 6:50
6 - Es War Einmal - 5:25
7 - En - Ewigkert - 7:10

Cluster

Os Cluster de Dieter Moebius e Hans-Joachim Rodelius desenvolveram uma discografia de uma beleza absoluta ao longo do tempo, sendo o trabalho do produtor Conny Plank demasiado importante para nos esquecermos dele.

Quando escutamos os seus álbuns, “After the Heat” e “Cluster & Eno”, “Sowiesoso”, o genial quarto álbum da banda, ou o inesquecível “Zuckerzeit”, os dois primeiros em colaboração com esse mago da música ambiental chamado Brian Eno, descobrimos na música criada pelos Cluster, no seu célebre Estúdio, situado na famosa Floresta Negra, um universo mágico e transcendental que nos convidam à meditação, tal como sucedia quando estes dois músicos faziam parte dos “Harmonia”, na companhia do guitarrista Michael Rother, que viria a optar por uma carreira a solo.

Rui Luís Lima

Cluster
"Sowiesoso"

John Dahl - “A Última Sedução” / “The Last Seduction”


John Dahl
“A Última Sedução” / “The Last Seduction”
(EUA – 1994) – (110 min. / Cor)
Linda Fiorentino, Peter Berg, Bill Pullman, J. T. Walsh.

John Dahl deu nas vistas quando realizou “Delito em Red Rock West” / “Red Rock West”, a história de um homem que apenas pretende um emprego numa "little town" e se vê envolvido numa trama de enganos, quando é confundido com um assassino contratado e que tudo fará para o evitar, incluindo denunciando a situação à polícia local, para descobrir que foi o próprio xerife (J. T. Walsh), que contratou o assassino (Dennis Hopper), para matar a sua própria mulher.


A razão desta sinopse prende-se pelo facto de John Dahl gostar de ambientar os seus filmes nas “little town”, oferecendo-nos de forma perfeita o microcosmos de uma América profunda, por vezes muito desconhecida de todos nós. E será isso mesmo que fará no seu filme seguinte intitulado “A Última Sedução” / “The Last Seduction”, onde nos oferece o retrato de uma “Femme Fatale”, que nos irá cativar ao longo da película. A escolhida para a protagonista foi Linda Fiorentino que, como devem estar recordados, descobrimos todos nesse filme nocturno de Martin Scorsese “After Hours”, então de cabelo curtinho na figura da escultora. Mas aqui ela é uma mulher impiedosa, que gosta de manipular o marido (Bill Pullman), nunca olhando a meios para atingir os seus fins, porque ela simplesmente adora dinheiro.


Logo no início do filme, ao vermos a forma como ela controla os vendedores que se encontram debaixo da sua alçada percebemos como ela é vil e feroz, arrastando uma perigosa sensualidade no interior do seu corpo. E após o marido ter feito um negócio com uns "dealers", que lhe rende uma quantia de 700.000 dollars, ela não resiste a fugir com o dinheiro.


Deixa assim em fuga a grande cidade e vai estrada fora, terminando por parar numa povoação longe de tudo e de todos e, mal entra no bar da pequena povoação, de imediato desperta as atenções dos presentes, mas será o inocente Mike Swale (Peter Berg, cuja carreira se estendeu depois à realização e argumento), a cair nas suas “boas graças”, que irá ser manipulado a seu prazer, porque de certa forma irá tornar-se seu escravo sexual, depois de ela decidir permanecer na pequena povoação, arranjando de imediato emprego (na empresa onde Mike trabalha), para assim começar a delinear o seu plano perfeito.

Clay Gregory, o marido (Bill Pullman), que é vítima da perseguição de um agiota, decide contratar um detective para a encontrar e reaver o dinheiro mas ela, a mulher fatal, irá saber lidar com a situação quando é localizada. E aqui John Dahl oferece-nos um retrato perfeito da América profunda. Lentamente Mike vai ficando refém nas mãos de Bridget Gregory (Linda Fiorentino), desconhecendo a existência do dinheiro ilícito. Ela decide então saber mais sobre o passado do seu amante divorciado, que poucos dias depois de se casar pedira o divórcio e regressara à povoação que o vira crescer.


Na verdade Mike possui um enorme “esqueleto no armário”, sexualmente falando e quando Bridget lhe conta o que sabe do seu passado, ele simplesmente fica aterrorizado e ela então decide fazer chantagem com ele, “convidando-o” a liquidar o marido.


Swale (Peter Berg) sabe que a divulgação do seu segredo lhe irá arruinar a vida e decidi aceitar a proposta mas, ao chegar a casa de Clay Gregory, tudo lhe sai mal e termina a ser confrontado pelo marido. No entanto Bridget Gregory, a perfeita “Femme Fatale”, tem um plano alternativo e decide agir por sua conta e risco.


Linda Fiorentino possui aqui a sua melhor interpretação de sempre e com a sua voz rouca e sensual e sem complexos, constrói uma personagem que nos deixa perfeitamente, atónitos. Por outro lado John Dahl cria um “suspense” que nos agarra até ao último minuto do filme, porque estamos sempre a ser surpreendidos pelo desenrolar do argumento. Aliás por sinal muito bem carpinteirado, dando sempre uma atenção muito especial aos pormenores, que retratam a localidade onde se passa parte da acção, basta ver a forma como ele nos mostra o racismo subterrâneo que vive nos habitantes daquela cidade, ao verem a cor do detective que segue Bridget.


“A Última Sedução” surge assim como uma obra plena de erotismo e suspense, possuidora de um olhar perfeito sobre a América profunda e onde a direcção de actores é na verdade de primeira água, sendo sempre de destacar o desempenho de Linda Fiorentino, porque na verdade nunca poderemos imaginar este filme com outra actriz.

Rui Luís Lima

William Faulkner - "O Som e a Fúria" / "The sound and the fury"


William Faulkner
"O Som e a Fúria" / "The sound and the fury"
Páginas: 312
Livros Unibolso nº.15
Editores Associados

A escrita de William Faulkner é bem original e basta lermos a forma como nos é apresentado este "O Som e a Fúria" e fica logo tudo dito, porque lentamente, ao virar de cada página, vamos conhecendo cada um dos personagens, mas se o leitor fora apressado pode sempre ir ao final do livro e inteirar-se de quem é quem neste fabuloso romance, que nos fica na memória para sempre.

William Faulkner
(1897 - 1962)

Eram assim os livros de Bolso e como este volume era duplo, custava 25$00 (vinte e cinco escudos). Bons tempos esses em que as editoras sabiam como fazer livros de bolso legíveis e não como alguns poupadinhos fazem hoje em dia, neste século XXI, em que não se consegue ler os livros de bolso, porque os textos ficam coladinho às lombadas, para poupar papel, tristes tempos estes!

Rui Luís Lima

Ingmar Bergman - "A Força do Sexo Fraco" / “For Att Inte Tala Om Alla Dessa Kvinor”


Ingmar Bergman
"A Força do Sexo Fraco" / “For Att Inte Tala Om Alla Dessa Kvinor”
(Suécia – 1964) – (80 min. / Cor)
Jarl Kulle, Eva Dahlbeck, Bibi Andersson, Harriet Anderson.

Quando vimos pela primeira vez este filme de Bergman, ficámos na verdade surpreendidos, nessa época em que nos cinemas de Lisboa tínhamos quatro a cinco filmes do cineasta todos os anos (entre estreias e reposições). Falamos, claro, desses anos setenta, em que a cinéfilia vivia nas salas e fora delas, com intermináveis discussões nos cafés, após as sessões.


Muitos anos depois, ao revermos “A Força do Sexo Fraco” / “For Att Inte Tala Om Alla Dessa Kvinor” em dvd, voltámos a sentir essa mesma surpresa, porque o cineasta nos oferece uma obra em que o burlesco está bem presente, basta reparar na banda sonora de certas sequências, ao mesmo tempo que descobrimos uma homenagem a esses tempos do cinema mudo.


Também é do conhecimento geral que Ingmar Bergman, nas suas memórias, demonstra não ter grande apreço pela obra, a qual foi um insucesso comercial e da crítica. Mas se olharmos bem para “A Força do Sexo Fraco” / “For Att Inte Tala Om Alla Dessa Kvinor”, iremos descobrir um filme que nos oferece momentos únicos, na obra do grande cineasta sueco.


Tudo começa no velório desse grande músico, mestre do violoncelo, que vivia recluso na sua casa acompanhado por sete mulheres, sendo Adelaide (Eva Dahlbeck) a oficial e as restantes, suas amantes, desde a pupila eleita e desprezada, até à criada (Harriet Andersen). Todas elas irão, no início do filme, prestar a sua homenagem ao falecido músico, pronunciando todas a mesma frase. Por seu lado o crítico musical Cornelius (Jarl Kulle, fabuloso) prepara-se para fazer o seu elogio fúnebre, ele que até pretendia ser o seu biógrafo oficial.


Surge então o flash-back, que nos irá contar os três dias que antecederam a tragédia. Iremos assim descobrir que o crítico visita o célebre músico com o pretexto de pretender escrever a sua biografia, embora a verdadeira razão seja convencê-lo a interpretar uma obra de sua autoria. Uma daquelas obras mais que menores, que caiem no esquecimento após a primeira audição. Cornelius inicia, durante esses três dias, uma longa caminhada para aceder a Félix, do qual nunca vimos o rosto, mesmo quando ele decide hipotecar a sua arte e interpretar a obra do crítico, morrendo nesse momento de ataque cardíaco, porque na verdade tinha decidido vender a sua genialidade e os Deuses não lhe perdoaram o gesto.


Ao longo desses dias, Cornelius irá descobrir o mundo em que Félix vive, à medida que vai conversando com as respectivas mulheres que habitam a casa, ou escondendo-se pela casa para escutar os seus segredos mais íntimos, que navegam pelos quartos e corredores daquela majestosa mansão, percebendo que estas musas inspiradoras existem apenas para oferecer os seus prazeres carnais. Mas o que lhe interessa verdadeiramente é que o músico interprete a sua pequena peça musical. Por outro lado, a figura do crítico surge aqui também como uma espécie de desmistificação dessa personagem que habita todas as Artes.


“A Força do Sexo Fraco” / “For Att Inte Tala Om Alla Dessa Kvinor” surge assim na obra de Ingmar Bergman como uma espécie de “ovni” recorde-se que o seu filme anterior foi “O Silêncio” / “Tystnaden” e o posterior essa obra-prima intitulada “Persona” / “A Máscara”, ao mesmo tempo que nos oferece uma meditação sobre o papel do crítico perante a Arte. Uma verdadeira lufada de ar fresco, com um sorriso nos lábios.

Rui Luís Lima

"Astérix O Gaulês" / "Asterix Le Gaulois" - René Goscinny / Albert Uderzo


Astérix
"Astérix O Gaulês" / "Asterix Le Gaulois"
Argumento: René Goscinny
Arte: Albert Uderzo
Páginas: 46
Asa


Foi a 10 de Novembro de 1966 que surgiu, na Revista Pilote, a primeira prancha de um herói de banda desenhada criado pela dupla René Goscinny (argumento) e Albert Uderzo (desenhador), dando-se assim início ao nascimento da mais célebre aldeia gaulesa na época áurea do Império Romano, onde pontificava Julius César, que irá descobrir que na Gália nem tudo era perfeito, para mal dos seus pecados, havia aquela poção mágica do druida e o outro que tinha caído em pequenino no caldeirão!.

Rui Luís Lima

Henri Le Sidaner - "Place de la Concorde"


Henri Le Sidaner
"Place de la Concorde"
Óleo sobre tela
97 x 147 cm.
Ano: 1909
Musée des Beaux-Arts, Tourcoing.

Gary Burton / Chick Corea - “Crystal Silence”


Gary Burton / Chick Corea
“Crystal Silence”
ECM 1024
ECM Records
1973

Gary Burton – Vibraphone.
Chick Corea – Piano.

1 – Señor Mouse (Chick Corea) – 6:16
2 – Arise, Her Eyes (Steve Swallow) – 5:05
3 – I’m Your Pal (Steve Swallow) – 4:00
4 – Desert Air (Chick Corea) – 6:23
5 – Crystal Silence (Chick Corea) – 9:01
6 – Falling Grace (Steve Swallow) – 2:37
7 – Feelings And Things Mike Gibbs) – 4:40
8 – Children’s Songs (Chick Corea) – 2:07
9 – What Game Shall We Play Today (Chick Corea) – 3:42


Para o amante do jazz, este álbum de duetos intitulado “Crystal Silence” revela-se como uma das obras-primas do universo musical, porque aqui estamos perante o mais belo encontro entre dois músicos de excepção, Chick Corea no piano e Gary Burton no vibrafone que, ao longo de 45 minutos, irão oferecer-nos o lirismo e a melodia através de sinuosos caminhos, criando atmosferas musicais cristalinas e verdadeiramente sublimes. “Crystal Silence” é um dos mais belos trabalhos discográficos do século xx!

Gary Burton & Chick Corea

Gravado a 6 de Novembro de 1972 no Arne Bendiksen Studio, Oslo por Jan Erik Kongshaug. Fotografia de Hans Paysan e Design de B & B Wojirsch. Produção de Manfred Eicher.

Rui Luís Lima

Frank Capra - "Uma Noite Aconteceu" / "It Happened One Night"


Frank Capra
"Uma Noite Aconteceu" / "It Happened One Night"
(EUA – 1934) - (105 min. - P/B)
Clark Gable, Claudette Colbert, Walter Connoly, Ward Bond.

Frank Capra, melhor do que ninguém, olhou durante anos a sociedade americana, rompendo das mais variadas formas as regras do jogo, sempre com uma visão mordaz e crítica sobre o célebre “american way of life”, que ainda hoje cativa as mais diversas gerações. No entanto, quando deixou de filmar, tornou-se um homem reticente perante os novos caminhos que a América então trilhava, aliás bem patente nessa obra monumental que é a sua autobiografia intitulada “O Nome Acima do Título” / “The Name Above the Title”, publicada em 1971.


Quando em 1934 foi lançado “Uma Noite Aconteceu” / “It Happened One Night”, poucos acreditavam no sucesso da película, apesar dos protagonistas serem Clark Gable e Claudette Colbert. E ao vermos este filme percebemos bem que ele tinha acabado de inaugurar um género que ainda se faz hoje em dia no cinema, o célebre “on the road”, tantas vezes revisitado ao longo dos anos.


Ellie Andrews (Claudette Colbert) é uma jovem herdeira, que decide virar as costas à fortuna e partir para essa grande metrópole que é New York, à boleia. A forma como ela foge do iate é simples e indicadora dos seus desejos. E, como não podia deixar de ser, torna-se de imediato notícia na Imprensa do país.


Nessa sua viagem pela estrada fora, irá cruzar-se com um jornalista (Clark Gable), que irá estar sempre em conflito perfeito com ela. Estamos assim decididamente no interior dessa guerra de sexos, que fez da “screwball comedy” um género delicioso.


Numa das sequências que ficaram famosas no filme, Clark Gable tenta pedir boleia e os automobilistas não param, mas quando a bela Claudette Colbert o substitui nessa “árdua tarefa”, decidindo usar os seus atributos físicos, mostrando as famosas pernas e respectiva liga, de imediato consegue atingir os seus objectivos.


Durante a viagem as peripécias são inúmeras, tal como as discussões constantes entre ambos, mas o amor espreita e quando nessa noite em que ela coloca um cobertor a dividir o quarto, que ambos vão partilhar, para salvaguardar o seu corpo do desejo que mora ao lado, ou seja do galante homem que a acompanha, percebemos que aqueles dois seres de classes antagónicas estão destinados um ao outro.


“It Happened One Night” / “Uma Noite Aconteceu” é uma das comédias mais delirantes que a Sétima Arte nos ofereceu, graças à sabedoria desse Mestre do Cinema chamado Frank Capra.

Rui Luís Lima