Anthony Asquith
“A Importância de se Chamar Ernesto” / “The Importance of Being Earnest”
(Grã-Bretanha – 1952) – (95 min. / Cor)
Michael Redgrave, Michael Denison, Joan Greenwood, Dorothy Tutin, Edith Evans.
Anthony Asquith desde muito cedo se interessou pelo cinema, tendo em 1925 criado com a colaboração de Bernard Shaw, H. G. Welles e Julien Huxley, a “Film Society” com o intuito de divulgar a Sétima Arte, tendo depois decidido partir para Hollywood, para aprender o ofício.
Durante um ano por lá andou, sempre atento a tudo o que se passava, recorde-se que então o cinema mudo tinha atingido o seu ponto mais alto. Ao regressar a Londres fez a tarimba habitual, passando pelas áreas de argumentista, montagem e assistente de realização, tendo dirigido o seu primeiro filme intitulado “Shooting Stars” / “Nos Bastidores do Cinema” em 1928, iniciando assim uma carreira imparável onde pontificaram as adaptações cinematográficas de peças bem famosas.
Como não podia deixar de ser, as suas qualidades artísticas chamaram a atenção dos produtores Michael Bacon (que descobriu Alfred Hitchcock) e Alexander Korda, que lhe ofereceram os meios necessários para ele atingir a fama. O famoso “Pigmalião” baseado na obra de Bernard Shaw, fez o seu nome ultrapassar as fronteiras da famosa ilha, tornando-o num dos nomes sonantes da indústria cinematográfica britânica.
Quando em 1952 Anthony Asquith decidiu levar ao grande écran, a famosa peça de Oscar Wilde, “A Importância de se Chamar Ernesto” / “The Importance of Being Earnest”, decidiu apresentá-la como uma peça teatral em que vimos os espectadores na sala e quando o pano de cena se abre, entramos no universo cinematográfico, para descobrirmos o espantoso Michael Redgrave (Jack Worthing), a vestir a falsa identidade de Earnest, assumida por ele sempre que visita Londres, estando perdidamente apaixonado pela bela Gwendolin Fairfax (Joan Greenwood).
Estamos na sequência inicial, ou se preferirem no primeiro acto da peça, na residência do esperto Algernon Moncrieff (Michael Denison), primo de Gwendolin, mas quando tudo parece bem encaminhado após a jovem confessar nutrir o mesmo amor por ele, o falso Earnest irá sofrer um terrível interrogatório por parte da sua futura sogra, Lady Augusta Brackwell, que ao saber as suas origens, um órfão encontrado no interior de uma mala, numa estação ferroviária, decide de imediato riscá-lo da lista dos pretendentes da filha.
Por outro lado a jovem Gwendolin, que não esconde o que sente por ele, confessa-lhe como é importante para ela o facto de ele se chamar Earnest, ela nunca conseguiria amar alguém que não se chamasse Earnest, encontrando-se o pobre John Worthing inibido de lhe confessar o seu verdadeiro nome, porque de imediato iria perder o seu amor.
No segundo acto da peça a bela infanta Cecily Cardew (Dorothy Tutin) de quem John Worthing é Tutor e que vive na sua propriedade irá cruzar-se com o esperto Algernon Moncrieff, que pretende descobrir a sua identidade, após ter encontrado na cigarreira de John uma dedicatória dela, que lhe despertou a curiosidade, ficando de imediato fascinado pela jovem, apresentando-se na propriedade como o irmão mal comportado de John, o famoso Earnest, personagem de ficção criada por John, para justificar as suas idas a Londres, para se divertir e escapar ao ambiente bucólico do campo.
O humor e a Arte de Oscar Wilde que tão bem conhecia a alta sociedade inglesa e que tão bem a caracterizou nas suas obras, oferece-nos um texto de um humor profundamente irreverente, onde a identidade de uma personagem inexistente irá originar um conjunto de equívocos perfeitamente maravilhosos, sendo a importância de se chamar Earnest fundamental para o coração das duas jovens, já que tanto Cecily como Gwendolin se encontram ambas apaixonadas pelo nome, desconhecendo que os dois homens possuem nomes de baptismo bem diferentes. A direcção de actores de Anthony Asquith é irrepreensível, destacando-se entre todos Michael Redgrave numa interpretação memorável.
“A Importância de se Chamar Ernesto” é um verdadeiro convite cinematográfico para conhecermos o universo dramatúrgico de Oscar Wilde, tantas vezes adaptado ao cinema, ao longo dos anos, sempre com enorme sucesso. Ainda recentemente Oliver Parker nos ofereceu uma nova versão contando como protagonistas Colin Firth, Rupert Everett, Reese Witherspoon e Judi Dench entre outros, demonstrando mais uma vez a grandeza e genialidade de Oscar Wilde.
Rui Luís Lima
Anthony Asquith - (1902 - 1968)
ResponderEliminarClassificação: 4 estrelas (****)
Estreia em Portugal: 20 de Novembro de 1952.