quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Conto - "Happy New Year Viktor Navorski!"


Conto!

"Happy New Year Viktor Navorski!"

Estava eu na companhia da minha Princesa a comemorar a entrada no Novo Ano em Times Square, quando uma das milhares de pessoas que ali se encontravam me deu uma palmada nas costas muito ao de leve, tão ao de leve que nem me voltei, tais eram os encontrões que levávamos, fruto dos saltos dados pela multidão mas, como a palmadinha se repetiu, decidi olhar para trás e, quando menos esperava, dou de caras com o Viktor Navorski. Nem queria acreditar que era ele em pessoa e como não podia deixar de ser nasceu aquele abraço fraterno.


O barulho feito pela multidão que ali se encontrava era tanto que mal conseguia ouvir as palavras que ele me dizia, mas minutos depois de passar a euforia do momento, lá o consegui escutar. Tinha chegado nessa manhã à Big Apple e passara o início da noite num clube de jazz, onde um trio de velhos músicos tocava os inevitáveis “standards” do American Songbook de que ele tanto gostava. Ao ouvi-los, como não podia deixar de ser, recordou-se do pai e quando faltava meia-hora para chegar a hora da despedida do Ano Velho decidiu ir, como nós, até Times Square saudar a chegada do Novo Ano.


Fiquei a saber que continuava solteiro e a viver na sua Krapozia; depois percebi a razão por que ele não tirava os olhos da minha Princesa, ela na verdade fazia-lhe recordar a sua amiga Amélia; como o frio apertava convidei-o para ir beber um copo connosco a um bar próximo, que se encontrava aberto. Após nos sentarmos pedi um Glenlivet e a minha Princesa o seu Marie Brizard, já o Viktor ficou indeciso, até que pediu o velho malte também para ele.


A Princesa, que sabia da sua história no JFK, perguntou-lhe se desta vez não tinha ficado retido. Ele não conseguiu conter a gargalhada alta e sonora que se fez ouvir no pequeno clube, apesar do ruído que se fazia sentir, mas depois ficou muito sério e contou-nos uma história que nos deixou perfeitamente perplexos. Em Krapozia, como sucede em muitos países do mundo, as autoridades andam muito preocupadas com os atentados, tendo aumentado a segurança nos aeroportos e por essa mesma razão os serviços secretos decidiram fazer um teste à segurança e colocaram na bagagem de nove passageiros, sem estes terem conhecimento, material explosivo, para verem os índices de segurança no aeroporto e os resultados obtidos deixaram-nos numa situação extremamente delicada.


Oito dos passageiros foram detectados e detidos, sendo informados do teste de segurança, enquanto um deles passou pela segurança, sem saber o que transportava na mala, seguindo para o seu destino tranquilamente. Sem saberem o que fazer, os serviços secretos meditaram na resolução do problema durante três longos dias, que lhes pareceram uma verdadeira eternidade até que, por fim, decidiram avisar as autoridades do país para onde seguira o incauto passageiro. E só depois deste se encontrar preso e a “usufruir” dum rigoroso interrogatório, os Serviços Secretos de Krapozia, que não são famosos pela sua eficiência, perceberam que se tinham esquecido de informar a sua congénere secreta de que o passageiro tinha servido como cobaia e desconhecia o que transportava na mala.


Ao ouvir isto, não resisti a confessar-lhe que uma situação dessas só poderia acontecer na Krapozia e Viktor deu novamente outra enorme gargalhada, seguida de um poderoso ataque de riso, que nos deixou perplexos. Pedi para ele se acalmar e só depois de beber mais um trago do delicioso malte, ele decidiu contar-nos a verdade dos factos. A história era verdadeira, mas não se passara na Krapozia.


Uns dias depois, andava eu a fazer compras com a Princesa no Macys e encontrámos novamente o nosso velho amigo Viktor Navorsky na companhia da bela Amélia, da agente Torres, do Enrique e do velho Kupta, que entretanto regressara da Índia. Tinham-se encontrado todos nessa manhã para irem ao casamento do Frank Dixon e decidiram, ali mesmo, que não podiam ir sem nós. Como não podia deixar de ser aceitámos o convite e foi com grande alegria que revimos o velho Frank, um pouco mais calvo é certo, mas sempre com aquele coração de manteiga, que continua a surpreender quem não o conhece.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. Um conto escrito após ter visto no cinema o filme de Steven Spielberg - "Terminal de Aeoporto".
    Bom Ano 2025!

    ResponderEliminar