quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

John Frankenheimer - “Uma Segunda Vida” / “Seconds”


John Frankenheimer
“Uma Segunda Vida” / “Seconds”
(EUA – 1966) – (110 min. – P/B)
Rock Hudson, Salome Jens, John Randolph, Murray Hamilton.

John Frankenheimer na juventude frequentou a Academia Militar de La Salle, sendo depois incorporado nas Forças Armadas Americanas, que partiram para a Guerra da Coreia e será durante o período de 1951-53, que o futuro cineasta irá descobrir o cinema ao pedir para ser incorporado na secção de Cinema da Força Aérea Americana.


Ao regressar à pátria tenta uma carreira em Hollywood como actor, mas sem sucesso, terminando por ingressar nos quadros da televisão, onde irá aprender a lidar com o material cinematográfico. De 1956 a 1961 irá assinar 27 filmes para o pequeno écran, tornando-se um nome conhecido, sendo com naturalidade que iremos assistir à sua passagem para o grande écran, onde irá dar nas vistas ao realizar “O Candidato da Manchúria” / “The Manchurian Candidate”, (do qual o cineasta Jonathan Demme irá fazer um “remake”, muitos anos depois, com Denzel Washington e Meryl Streep nos protagonistas), uma película que conduziu John Frankenheimer até ao famoso estatuto de cineasta e autor.


Em 1966 John Frankenheimer irá assinar uma das películas mais perturbadoras desse ano, ao realizar “Uma Segunda Vida” / “Seconds”, onde irá oferecer a Rock Hudson um dos maiores papéis da sua carreira cinematográfica.

Logo no genérico inicial, da responsabilidade de Saul Bass, autor de alguns dos genéricos mais célebres de Alfred Hitchcock (“Vertigo”), ficamos de imediato absorvidos pelas imagens, para depois sermos positivamente contaminados pela fotografia genial de James Wong Howe, seguindo esse estranho homem chamado Arthur Hamilton (John Randolph), a caminho de casa, depois de um dia de trabalho no Banco, percebendo-se de imediato como ele se encontra perturbado, porque na véspera recebera um telefonema do seu melhor amigo, que se encontrava morto, já lá iam 25 anos, pedindo-lhe para ele se dirigir a uma morada e se apresentar como Anthony Wilson.


Entramos assim pela porta grande, num poderoso mistério, que nos é oferecido através de diversos planos, que furam todas as regras de continuidade, reflexo do estado mental do protagonista, que se encontra perante um poderoso dilema, terminando Arthur Hamilton (John Randolph) por aceitar o desafio e ir à morada para descobrir aí uma Firma que oferece uma nova oportunidade de vida aos seus accionistas, tendo o seu amigo morto, Charles Evans (Murray Hamilton), pago a sua nova oportunidade de renascer.


Essa Sociedade irá então simular a sua morte num incêndio, usando um outro corpo, ao mesmo tempo que lhe fornece uma nova identidade e lhe faz uma profunda operação ao seu corpo, rejuvenescendo-o, assim como a respectiva operação plástica para lhe mudar o rosto, nascendo assim Anthony Wilson (Rock Hudson), que irá escolher a profissão de pintor, partindo depois para a sua nova residência em Malibu, ao mesmo tempo que a dita firma lhe faculta uma espécie de assessor, na figura do mordomo, que tudo fará para ele se sentir bem na sua nova identidade.


Mas Tony Wilson (Rock Hudson) começa a ser consumido pelas memórias desejando saber como era a sua vida anterior e apesar de a Firma lhe oferecer a companhia de uma funcionária, a jovem e bela Nora Marcus (Salomé Jens), que lhe irá proporcionar “o sal e a pimenta” da vida, Tony Wilson continua a desejar saber quem foi na realidade, não conseguindo adaptar-se à nova identidade que lhe foi oferecida pelo amigo, que ele supunha morto.


E após ter-se encontrado com a sua mulher, percebe que era um homem taciturno e solitário, esquecido rapidamente pela esposa, que ao tomar conhecimento da sua morte, se livrou de tudo o que lhe fizesse recordar o marido, que vivia só para o trabalho na Instituição Bancária. Ao rever desta forma brutal o seu passado, Tony Wilson (Rock Hudson) decide regressar à Firma e pedir, que lhe seja oferecida uma nova identidade porque não se adaptava à personagem que lhe deram, desconhecendo que naquela estranha Sociedade, não existiam terceiras oportunidades.


John Frankenheimer em “Uma Segunda Vida” / “Seconds”, constrói uma obra poderosa e inesquecível, sobre a perda de oportunidades na vida, numa película que navega pelos mais diversos géneros, usando a espantosa fotografia, a preto e branco, de James Wong Howe, para realçar ainda mais esses mesmos aspectos, ao mesmo tempo que Rock Hudson veste de forma perfeita a personagem oferecendo-nos as suas angustias e desejos, numa luta impossível, para esquecer o passado e viver o presente, desconhecendo que ao desistir dessa segunda oportunidade, iria perder o futuro para sempre.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. Esteia em Portugal: 18 Setembro 1967.
    Classificação: 4 estrelas (****)
    John Frankenheimer - (1930-2002)

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