Yukio Mishima
"O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar" / "Gogo no-eiko"
Páginas: 168
Assírio & Alvim
Um dia, numa conversa num café à volta de livros e autores, alguém me perguntou se tinha algum personagem literário que gostaria que tivesse ficado esquecido pelo seu criador? E de imediato me veio à memória esse genial escritor japonês chamado Yukio Mishima, de cuja obra literária sou admirador. Recorde-se que Yukio Mishima é um dos mais importantes escritores japoneses do século XX e o mais célebre no mundo ocidental, tendo até Margueritte Yourcenar escrito um belo ensaio sobra a sua vida e obra.
Ao longo da sua extensa obra literária, Yukio Mishima aliou o erotismo com a crueldade, criando um universo extremamente sedutor, mas a sua vida era o espelho da sua obra e a sua obra o reflexo da sua vida.
O nacionalismo e a honra que defendia eram a memória dos velhos samurais, essa mesma memória de que Akira Kurosawa nos falou um dia, perdida para sempre num Japão industrializado e em muitos aspectos ocidentalizado, fruto da ocupação americana, após o final da 2ª Grande Guerra Mundial.
Foi o amor de Yukio Mishima pela escrita do sangue que o irá conduzir através dessa estrada sem retorno e sem paragem na famosa encruzilhada, que nos convida sempre a meditar sobre a decisão por ele tomada. A 25 de Novembro de 1970 decide, com quatro alunos das suas Forças, tentar um golpe de estado que sabia votado ao fracasso, para repor a Ordem Imperial. Na véspera enviara para o editor "O Mar da Fertilidade", a sua última obra, composta por quatro volumes, verdadeiro Testamento Literário e uma obra incontornável de um dos maiores escritores do século xx. Vivendo numa sociedade virada para o futuro e para o consumo e querendo impor o amor pelo passado e pela tradição, Yukio Mishima faz o "hara-kiri" perante uma multidão de soldados e jornalistas que, incrédulos, assistem à partida do Último dos Samurais.
Em “O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar”, primeiro livro de Yukio Mishima a ser publicado em Portugal, é-nos oferecida uma personagem que até gostaríamos que não tivesse sido criada pelo genial escritor japonês. Trata-se de Noburo, uma criança cruel, que no final do livro irá dar-nos a conhecer o verdadeiro sentido da palavra, mas que Yukio Mishima nos oferece com essa rara delicadeza que sempre caracterizou a sua escrita.
Descobrir este fabuloso livro de Yukio Mishima é a nossa sugestão de hoje e, se desejarem, podem sempre procurar no livro de António Mega Ferreira, que reúne diversas crónicas do autor, intitulado “A Borboleta de Nabukov” o magnifico texto que ele escreveu para o Jornal de Letras, aquando da primeira edição de “O Marinheiro Que Perdeu as Graças do Mar” e também nunca é demais recomendar a leitura do livro de Margueritte Yourcenar sobre Yukio Mishima.
Rui Luís Lima
Foi através da publicação do livro "O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar" que uma geração de leitores descobriu o escritor Yukio Mishima, passando depois a sua obra a ser editada no nosso país.
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