Anjelica Huston - Filha de Peixe Sabe Nadar!
1 - Após o nascimento de “A Honra dos Padrinhos”/ ”Prizzi’s Honor”, o nome de Anjelica Huston saltou decididamente para a ribalta ou seja ganhou aquele Óscar que transforma decididamente a carreira de uma actriz, a sua interpretação da figura de Maerose é na verdade inesquecível; no entanto a sua carreira começou bastante antes: quem se lembra dela em 1964 no filme “Entre o Amor e a Morte ”/”A Walk With Love and Death” realizado pelo seu pai John Huston e que por terras lusas passou pelo cinema Satélite, a sala estúdio do saudoso cinema Monumental?
"Entre o Amor e a Morte"
A actriz nasceu quando o pai trabalhava em “A Rainha Africana” / “The African Queen”, com Humphrey Bogart e Katherine Hepburn (uma das vedetas que Anjelica Huston admirou durante a adolescência), em 1951. Dois anos mais tarde, quando a mão pesada e perseguidora do senador McCarthy já se fazia sentir nos meios cinematográficos norte-americanos, John Huston decidiu trocar o Novo Mundo pela Irlanda, tendo sido esses famosos campos verdejantes a acolher Anjelica durante a sua infância, passada praticamente com a mãe, pois só via o pai quando ele ia descansar nos intervalos entre duas películas. Aliás foi a mãe, antiga bailarina, que lhe introduziu nas veias o amor pelo teatro e a representação. No entanto, não seria no teatro que ela teria o seu baptismo de fogo, mas sim no cinema, sendo a figura feminina de “Entre o Amor e a Morte” / “A Walk With Love and Death”, considerado por muitos o “Love Story” da Idade Média, tendo em conta que no final os dois amantes, fartos de fugir, decidem permanecer no convento que os acolhe, aguardando serenamente a chegada dos seus perseguidores.
"A Honra dos Padrinhos"
Anjelica Huston tinha apenas quinze anos quando este filme foi produzido e no ano seguinte seria, enfim, a tão desejada estreia teatral com o “Hamlet” encenado por Tony Richardson (um dos nomes do “Free Cinema” Britânico). Foi durante as representações da peça em Londres que Anjelica Huston teve conhecimento da morte da mãe, provocando-lhe o maior desgosto da sua vida, dando origem à sua partida para a América com a companhia de Teatro, decisão que anteriormente não estava nos seus planos. Nova Iorque e a Broadway foram o seu primeiro lar, mas depois seguiu para Este, iniciando a sua conhecida carreira de modelo.
A actividade de modelo não lhe fez esquecer o amor pelo cinema, acabando por desistir das passerelles. Começou então a trabalhar nos dois écrans: séries na televisão e alguns papéis secundários em filmes como “O Grande Magnata” / The Last Tycoon”de Elia Kazan e “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes” / “The Postman Always Ring Twice” de Bob Rafelson.
A noite dos Oscars!
Quando John Huston nos ofereceu “A Honra dos Padrinhos” / “Prizzi’s Honor”, muitos se interrogaram acerca da identidade daquela Maerose diabólica, que embora fosse a vítima privilegiada da família Prizzi, devido à sua maneira de ser, acaba por se transformar numa siciliana muito digna para a família, sempre vestida de preto, simulando a tristeza e o arrependimento enquanto preparava a sua vingança. Maerose é, evidentemente, Anjelica Huston como já todos sabemos e o que ela andou a fazer até aqui, embora tenha passado despercebido de muitos, chamou a atenção de um senhor chamado Jack Nicholson, seu companheiro durante muitos anos.
Jack Nicholson & Anjelica Huston
Para Anjelica Huston “A Honra dos Padrinhos” / “Prizzi’s Honor” foi uma experiência inesquecível, como ela referiu na noite dos Oscars em que recebeu o troféu e Jack Nicholson revelava-se o companheiro ideal da actriz. Mas a rodagem de “A Difícil Arte de Amar” / “Heartburn” com Jack Nicholson e Meryl Streep nos protagonistas, iria mudar decididamente a vida sentimental de um casal que surgia aos olhos de muitos como o par perfeito.
"Jardins de Pedra"
2. - Em 1987 Francis Ford Coppola realiza um dos seus melhores filmes “Gardens of Stone” / ”Jardins de Pedra”, em que a visão do Vietname já não nos chega da linha da frente, como sucedia em “Apocalipse Now”, mas sim da rectaguarda e da sua Guarda Nacional. James Caan interpreta a figura de um sargento veterano que não esquece o horror da guerra e Anjelica Huston é uma jornalista liberal que “olha de lado” os “valores” contidos na arte da guerra, como em tempos lhe chamou o célebre Clausewitz. Apesar de ambos terem visões opostas sobre o conflito que dilacerava a América, o romance entre os dois acontece e Francis Ford Coppola oferece-nos uma das mais belas homenagens de sempre ao Cinema Clássico.
"Gente de Dublin"
Nesse mesmo ano em que o seu pai, já bastante debilitado na sua cadeira de rodas, continua a filmar. Anjelica surge como protagonista da obra póstuma de John Huston “The Dead” / ”Gente de Dublin”, baseada no último conto do livro de James Joyce, “Gente de Dublin”. O cineasta acabaria por falecer antes do filme estar concluído e seria o seu filho, Tony Huston, a concluir a película: um verdadeiro testamento cinematográfico do célebre cineasta e um dos melhores filmes da década.
"Mr North - Um Homem de Sonho"
Como os Huston são um verdadeiro clã cinematográfico, foi com naturalidade que encontramos Anjelica Huston no filme do seu irmão Danny Huston intitulado “Mr. North – Um Homem de Sorte”, com um Anthony Andrews fabuloso e um Robert Mitchum a mostrar que ainda poderia oferecer muito à Sétima Arte.
"Crimes e Escapadelas"
Woody Allen, quando terminou o argumento de “Crimes and Misdemeanors” / ”Crimes e Escapadelas”, verificou que a personagem de Dolores Paley, a amante de Judah Rosenthal (Martin Landau), só poderia ser interpretada por Anjelica Huston e na realidade essa mulher neurótica à beira do abismo, dedicada a um amante que não passa das promessas devido ao seu estatuto social, é na verdade extraordinária, revelando-se a personagem mais comovente desta tragédia mais que perfeita, realizada pelo cineasta de Manhattan.
"Anatomia do Golpe"
A filha do grande cineasta estava no apogeu da sua forma na arte de representar e quando Stephen Frears decidiu levar ao grande écran o romance de Jim Thompson, “The Grifters” / ”Anatomia do Golpe” e escolheu Anjelica Huston e Annette Bening para os principais papéis femininos, ofereceu-nos um dos mais belos duelos da década. Duelo pela posse do mesmo homem (John Cusak), sendo uma a mãe (Anjelica Huston) e a outra a amante (Annette Bening), mas também havia o outro interesse, quantas vezes primordial, o dinheiro.
As suas interpretações são de tal forma deslumbrantes que a própria Academia lhes reconheceu o valor, apesar do filme de Stephen Frears não estar muito bem posicionado naquilo que a conservadora Academia de Hollywood considera “os seus valores”. Como sempre, os Estúdios tiveram uma palavra a dizer e Anjelica Huston foi nomeada para Melhor Actriz Principal e Annette Bening para Melhor Actriz Secundária. O Óscar acabaria por fugir a ambas, mas a película será sempre uma das mais belas e inesquecíveis homenagens de todos os tempos ao “film noir”, sendo o seu produtor Martin Scorsese.
"A Família Addams"
3. - O reconhecimento do talento de Anjelica Huston cedo se revelou através da crítica e da cinéfilia, mas o do grande público também acabou por chegar, quando o antigo director de fotografia Barry Sonnenfeld decidiu levar ao grande écran a “Família Addams” / “The Addams Family”, que iria ter um sucesso estrondoso e daria origem a uma sequela. Anjelica Huston foi escolhida para vestir a pele de Morticia Addams, ao lado de um Raul Júlia inesquecível, na figura do celebérrimo Gomez Addams.
Esta película repleta de um bem doseado humor negro foi o primeiro grande sucesso de Anjelica Huston, para esse público que não fixa o nome dos actores até a personagem se lhes colar à pele, terminando por os imortalizar. Foi com naturalidade que encontrámos o público pré-adolescente, ao descobrir Anjelica Huston noutras películas, referir-se a ela como a Morticia da Família Addams, tal não foi o sucesso da película de Barry Sonnenfeld.
"O Misterioso Assassínio em Manhattan"
Como alguns sabem, Woody Allen nos seus filmes paga o mesmo salário a todos os intérpretes, sejam eles principais ou secundários, mas a realidade desmente de certa forma a questão de secundários e principais, pois eles são todos principais na intriga das suas histórias e sabemos também que existem determinados actores “repetentes” nas suas películas. Anjelica Huston regressa assim, com naturalidade, ao elenco de “Manhattan Murder Mistery” / “O Misterioso Assassínio em Manhattan”, ao lado de Diane Keaton, fazendo companhia ao sempre brilhante Alan Alda na intriga da história. A sequência da gravação do telefonema montado é profundamente hilariante numa homenagem de Woody Allen ao Mestre Alfred Hitchcock.
Nesse mesmo ano (1993) a célebre Morticia da Família Addams regressaria ao grande écran para a sequela “Addams Family Vallues” / “A Família Addams 2”. Então já casada com o escultor Robert Graham com o qual viveu em Los Angeles, até ao seu falecimento em 2008. Anjelica Huston aceita ser protagonista do filme do actor / realizador Sean Penn, ao lado do seu ex-companheiro Jack Nicholson em “The Crossing Guard” / “Acerto Final” um filme que é urgente reavaliar.
"Buffalo '66"
Dividindo a sua vida entre os dois écrans, a actriz irá surpreender muitos, ao surgir no filme mais que independente de Vicent Gallo, “Buffalo 66”. Recordamos a eficácia sublime do trailer do filme, com apenas música (Yes) e imagens. Depois foi a surpresa perfeita de todos, perante a eficácia narrativa do filme, assim como a planificação adoptada pelo actor/realizador, sendo inesquecível a conversa à mesa de Vincent Gallo, Anjelica Huston e Ben Gazarra. Infelizmente o cineasta, no seu filme seguinte, “The Brown Bunny” deitou por terra as esperanças depositadas nele, preferindo seguir por outros caminhos.
"Os Tenenbaums"
Mas se Vincent Gallo tem o seu pequeno ninho de fans, já o cineasta Wes Anderson possui uma verdadeira legião de admiradores, como todos se devem recordar das críticas, quando surgiu no écran essa saga familiar intitulada “The Royal Tenenbaums”, com um elenco de luxo e uma direcção de actores admirável, sendo Etheline Tenenbaums a matriarca desta família disfuncional interpretada pela filha de John Huston.
"Um Peixe Fora de Água"
A sua presença na aventura seguinte de Wes Andersen, “The Life Aquatic With Steve Zissou” / “Um Peixe Fora de Água”, novamente com um elenco de peso e com imensas histórias a decorrer simultaneamente, transformam-na numa actriz de culto nas películas de Wes Andersen! Essa personagem da fauna marítima de seu nome Steve Zissou (Bill Murray) é um “verdadeiro oposto do comandante Costeau”, possuidor de um traço tão aventureiro que termina a rivalizar com o conhecido agente James Bond. Será sempre a sua mulher Eleanor Zissou (Anjelica Huston) a estabelecer o equilíbrio precário, que irá tornar possível a chegada do comandante Zissou a águas mais calmas depois de dobrar esse cabo das tormentas da sua aventura aquática.
Neste novo século, como não podia deixar de ser, segue o exemplo de inúmeras actrizes da sua geração e oferece o seu enorme talento nas séries de televisão em que participa e na verdade são inúmeras: “Huff”, “Medium”, “American Dad”, “Smash” e “Transparent”, entre outras. Ao mesmo tempo que a sua voz se torna bem conhecida em filmes de animação, ficando famosa como a voz da Rainha Clarion, nos filmes da Sininho.
Mas também não nos podemos esquecer da sua Madame Louise nesse “western” selvagem intitulado “Duelo de Assassinos” / “Seraphim Falls”, cujos outros protagonistas são Pierce Brosnan e Liam Neeson, assim como esse filme, realizado por Bernard Rose, “The Kreutzer Sonata”, que a junta ao irmão Danny Huston, num belo filme, baseado no famoso romance de Tolstoi, cuja descoberta recomendamos.
John Huston e Anjelica Huston
Anjelica Huston, ao longo da História do Cinema, revelou-se uma actriz que conhece bem o território que pisa sendo o seu talento reconhecido por todos e como diria certamente o aventureiro marítimo Steve Zissou: filha de peixe sabe nadar!
Rui Luís Lima
Anjelica Huston antes de ser actriz de cinema foi modelo, no entanto mal a viram no grande écran, muitos perceberam que a filha de John Huston era dona de um enorme talento e se percorrermos a sua vasta filmografia e formos ver os filmes é precisamente, talento que se respira nos fotogramas das diversas películas em que participou, por isso mesmo bem merece ser recordada numa época em que o esquecimento da memória do cinema atingiu infelizmente a sétima arte!
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