sexta-feira, 18 de outubro de 2024

A Memória do Cinema Independente!


A Memória do Cinema Independente!

O cinema Quarteto em Lisboa foi uma sala pioneira na oferta de um novo olhar sobre a Sétima Arte e por ali passaram diversas gerações de cinéfilos, ao longo das tardes e noites, consumindo bom cinema: havia o cinema europeu e as novas vagas, os clássicos e esse "estranho objecto de desejo" chamado cinema independente.

"Estilhaços" /
“Smithereens”

O hoje em dia tão badalado cinema "indie", já possuidor de um Festival Internacional muito bem cotado, o "Sundance", cujo responsável máximo é o actor Robert Redford, bem como uma imprensa que navega nas suas águas, divulgando as suas produções, assim como diversos “sites” na net, tornam o denominado cinema independente bem mais visível. Mas, naquele tempo, tudo era diferente e dava-se então a descoberta de novos cineastas e actores.

"Desesperadamente Procurando Susana" /
 “Desperately Seeking Susan”

"Estilhaços" / “Smithereens” de Susan Seidelman era uma surpresa, aquilo a que hoje se chama "um filme simpático" da produção “indie”, diríamos até que a personagem principal seria a irmã gémea de "A Coleccionadora" / “”La collecttionneuse” de Eric Rohmer. Susan Seidelman, de seguida, faria o célebre "Desesperadamente Procurando Susana" / “Desperately Seeking Susan”, rampa de lançamento de Madonna na Sétima Arte, mas que terminou também por nos dar a conhecer uma actriz chamada Rossana Arquette.

"Para Além do Paraíso" /
"Strange Than Paradise"

Depois era aquela película do então desconhecido Jim Jarmusch, "Strange Than Paradise" / “Para Além do Paraíso”, com o John Lurie como protagonista, toda filmada em planos fixos e a preto e branco. Estávamos perante o cinema minimal, na sua fórmula mais bela, numa película cheia de equívocos e onde quase nada acontecia, para além da excelente banda sonora da responsabilidade do próprio John Lurie e executada por um Quarteto de Cordas.(1)

"As Profissionais do Sonho" /
"Working Girls"

Nesta nossa viagem da memória, verdadeira caixa de Pandora, encontramos duas outras películas bem interessantes dessa época: "Working Girls" / “As Profissionais do Sonho” de Lizzie Borden e "Subway Riders" / “Os Viajantes da Noite” de Amos Poe. A acção da primeira película passava-se, quase na totalidade, no interior da casa onde as "ladys" recebiam os "gentlemen"; depois de as conhecermos, acabamos por seguir o percurso de uma delas e descobrir o tipo de relações estabelecidas. Curiosamente não tremos encontrar um estudo sociológico sobre essa actividade, hoje denominada de “acompanhantes”, mas sim um olhar sincero e sem preconceitos sobre uma certa sociedade, por vezes tão cínica e hipócrita.

"Os Viajantes da Noite" /
"Subway Riders"

Por fim chegamos ao mais amado de todos os filmes independestes surgidos nessa época no circuito comercial, "Subway Riders" / “Os Viajantes da Noite”, de Amos Poe, memória perfeita e mágica do “film noir”, onde as citações são um verdadeiro jogo para o cinéfilo, além da espantosa fotografia e da música de Robert Fripp e da sua guitarra Fripptronics, retirada do famoso álbum "Let The Power Fall", sendo os actores principais o próprio realizador e o inevitável John Lurie, que na película será confundido com o saxofonista assassino.

(1) - Existe em cd uma interpretação genial do Balanescu Quartet da banda sonora do filme "Stranger Than Paradise"

Rui Luís Lima

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