domingo, 13 de outubro de 2024

Salas de Cinema - Cinema Condes!


Salas de Cinema - Cinema Condes!

No final da Avenida da Liberdade e inicio da Praça dos Restauradores, fazendo esquina com a Rua do Condes, nasceu um Teatro que mais tarde se irá transformar em sala de Cinema, nesses anos loucos do Animatógrafo e será durante os anos de 1950/52 que os seus proprietários, a Distribuidora Filmes Castello Lopes, decidem encarregar o Arquitecto Raul Tojal de construir uma grande sala de Cinema, a tal que eu muitos anos depois, tal como muitos de vós irá conhecer e frequentar, vivendo momentos de enorme prazer nesse belo convívio com a Sétima Arte.

“Laurel e Hardy em Marrocos”

A primeira vez que entrei no cinema Condes, segundo as minhas memórias, foi ainda com a idade de um digito, para ver uma película dos então célebres Bucha e Estica ou se preferirem Laurel and Hardy, intitulada “Beau Hunks” / “Laurel e Hardy em Marrocos”, que era um gozo ao célebre “Beau Geste”, nessa sessão havia ainda outros filmes desta célebre dupla, mas foi o fascínio do deserto e da legião estrangeira que me ficaram na memória.

“Júlio César”
Joseph L. Mankiewicz

Tenho de confessar que em criança fiquei de imediato fascinado por aquela sala de cinema e depois tinha mesmo o autocarro à porta para regressar a casa e será precisamente no cinema Condes que irei ver pela primeira vez um dos filmes mais amados aqui de casa: “Júlio César” / “Julius Caesar”, do genial Joseph L. Mankiewicz.

Os bilhetes eram gratuitos para os alunos das escolas, sendo apenas necessário apresentar o cartão de estudante e confesso que a confusão era enorme, mas a minha querida avó lá conseguiu os bilhetes e nesse dia, ainda a frequentar o Ciclo Preparatório, descobri como os políticos romanos conseguiam com as suas belas palavras manipular as massas populares ou se preferirem o povo romano e quando neste século XXI vejo o telejornal, por vezes, até penso que estou em Roma a escutar os Senadores Romanos.

“E Tudo o Vento Levou”
Victor Fleming / David O Selznick

Joseph L. Mankiewicz através deste filme e depois da sua fabulosa filmografia tornou-se um dos meus cineastas de eleição, mas naquele tempo ainda não fixava o nome dos realizadores, apenas conhecia o Marlon Brando e o James Mason de filmes que via na televisão.

Mas antes de continuar esta crónica quero deixar um agradecimento muito especial à senhora que, no final da década de sessenta, trabalhava no bengaleiro do cinema Condes, situado junto da entrada para a plateia, passemos então aos acontecimentos desse dia em que me cruzei com a Vivien Leigh!

Como referi anteriormente foi no Cinema Eden, ainda com um digito que fui sozinho pela primeira vez ao Cinema, mas será no Condes que irei ver “E Tudo o Vento Levou” / “Gone With the Wind” e quando vejo a bela Scarlett O’Hara, a actriz Vivien Leigh, a dizer que irá lutar e vencer, pensei que estava no final do filme e nisto “cai-me em cima” o célebre “Intermission”, olhei aflito para o relógio e calculei o tempo que faltava e percebi que a noite vinha a caminho, mas eu queria acabar de ver o filme e então pedi à senhora do bengaleiro se podia ligar para casa, depois de lhe ter contado o meu problema, eram quase 19 horas e o filme iria terminar por volta das 21 horas e ela amavelmente deixou-me ligar para a minha avó, que me recomendou para, quando terminasse o filme, apanhar logo o autocarro 39 para casa e assim consegui conhecer a tragédia de Scarlett O’Hara, que amou o homem errado durante a vida toda e depois era tarde para emendar o erro.

“A Guerra das Estrelas”
George Lucas

Foi no cinema Condes, já adolescente, que vi com o meu amigo João P., colega de liceu e companheiro destas lides cinéfilas, nesses anos, o fabuloso “Star Wars” / “A Guerra das Estrelas”, depois de termos comprado os bilhetes para o 2º balcão na “candonga”, a um cavalheiro de aspecto muito pouco recomendável, mas nós queríamos tanto ver o filme, que foi a única solução encontrada para tornear a lotação esgotada, habitual nesses anos, e ainda hoje me recordo da emoção com que vimos o filme de George Lucas.

”O Soldado Azul”
Ralph Nelson

Outro filme da mesma época que me ficou na memória, como uma enorme pedrada no charco do “western”, foi ”O Soldado Azul” / “Soldier Blue”, realizado pelo cineasta Ralph Nelson, com o Peter Strauss e a bela Candice Bergen nos protagonistas.

“Aquele Inverno em Veneza”
Nicholas Roeg

O magnifico Cinema Condes estava também equipado com écran para 70 mm e ao longo dos anos foi-se modernizando, lembro-me bem de como me ri, quando mudaram as cadeiras no primeiro balcão e o espectador ao sentar-se a cadeira descia lentamente e foram inúmeros os espectadores dessa sessão que davam um salto e ficavam de pé a olhar para a cadeira, já o filme dessa sessão foi “Aquele Inverno em Veneza” / “Don’t Look Now” do Nicholas Roeg, baseado no livro da Daphne Du Maurier (a escritora do célebre “Rebecca”), com o Donald Sutherland e a Julie Christie nos protagonistas e aqui tenho de confessar que com a idade de um digito me tinha “apaixonado” pela Julie Christie quando a descobri no filme “Longe da Multidão” / “Far From the Madding Crowd”, e era ela a minha razão de ter ido ver o filme e depois…(*)

“Desesperadamente Procurando Susana”
Susan Seidelman

Para terminar e como a Madonna decidiu vir viver para Lisboa, nunca é demais referir que foi na Sala do Cinema Condes que vi a pelicula “Desesperadamente Procurando Susana” / “Desperately Seeking Susan” realizado pela Susan Seidelman, na época uma cineasta do denominado cinema independente que tinha dado nas vistas ao realizar a película “Estilhaços” / “ Smithereens”.


O Cinema Condes encerrou as suas portas em 1997 e esteve quase a ser demolido, tendo sido salvo “in extremis”, ao contrário de outros Templos do Cinema, sendo posteriormente transformado num “Hard Rock Café” e conseguindo conservar a famosa fachada.

Sempre que passo na Praça dos Restauradores é inevitável recordar algumas boas memórias passadas no interior desta bela e inesquecível Sala de Cinema!

(*) - Quem viu o filme percebe o sucedido.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. O cinema Condes foi um dos maiores templos do Cinema em Lisboa, com as sessões esgotadas e vendedores de bilhetes no meio da rua a pedir valor superior ao marcado nos bilhetes, confesso que comprei para ver o Star Wars, numa sala a "rebentar pelas costuras" de público!

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