Darwin Porter
"Brando Mas Pouco" / "Brando unziped"
Páginas: 768
Pedra da Lua
Esse género literário que é a biografia teve sempre, ao longo dos anos, os seus defensores e os seus detractores, e depois há sempre as biografias apadrinhadas ou autorizadas pelos próprios biografados, como também existem as biografias não autorizadas e por vezes proibidas após uma vitória em tribunal contra o autor do livro, que por vezes até se trata de um “Ghost Writer”, assim como esse outro subgénero intitulado biografias romanceadas, como fez com sucesso a escritora norte-americana Joyce Carol Oates, quando escreveu “Blondie”, sobre Marilyn Monroe e onde Marlon Brando surge sob o nome de Anjo Negro.
Darwin Porter escreve “Brando mas Pouco” sobre esse actor incontornável chamado Marlon Brando. Esta biografia pretende não só retratar a vida do conhecido actor do método, um dos eleitos de Elia Kazan, como muitos estão recordados, mas também oferecer ao leitor um retrato da Hollywood dos tempos áureos de Marlon Brando, essa mesma Hollywood que Darwin Porter afirma ter conhecido muito bem.
Como não podia deixar de ser fomos obrigados a comparar esta biografia da autoria de Darwin Porter com aquela que foi escrita pelo próprio Marlon Brando e o jornalista Robert Lindsey intitulada “Canções que a Minha Mãe me Ensinou” e à medida que liamos “Brando mas Pouco” a leitura do livro revelava-se não surpreendente mas sim bastante penosa e convém salientar que este livro só viu a luz do dia após a morte do actor.
Em “Brando mas Pouco” Darwin Porter pretende não só escrever sobre o actor mas também sobre o lado menos visível de Hollywood, esse lado nocturno muito pouco luminoso por onde nasciam as célebres festas privadas, onde os eleitos eram escolhidos a dedo. Pretendendo ser um conhecedor desse universo, o autor do livro confessa ter conversado com pessoas que conviveram directamente com Marlon Brando, desde colegas de profissão, até aos cineastas que o dirigiram, passando pelo círculo de amigos mas próximo.
Mas se compararmos “Brando mas Pouco” com o fabuloso livro de Otto Friedrich “City of Nets”, percebemos que este último retrata Hollywood de uma forma incisiva, bem documentada, com humor e tristeza, e até sangue, suor e lágrimas, ao contrário do registo optado por Darwin Porter, que falha redondamente ao optar por um tom por vezes escabroso, vulgarizando o calão como linguagem, elegendo como cruzada a divulgação das tendências sexuais do “Planeta Hollywood” desses anos de ouro, referindo nomes que muitas vezes deixam incrédulo o mais comum dos leitores.
Ao longo da leitura de “Brando mas Pouco”, Darwin Porter nunca fala do melhor amigo de Marlon Brando, o actor Jack Nicholson, o que deixa logo o leitor mais atento destas “coisas de Hollywood” bastante reticente, para além de apenas dedicar 15 linhas do livro para nos falar do trabalho do actor na película “Apocalipse Now” de Francis Ford Coppola (convém dizer que Eleonor Coppola, a esposa do cineasta, dedica mais linhas a Marlon Brando no seu livro “Notes on the Making of Apocalipse Now”), mas Porter depois informa-nos que possui material sobre Marlon Brando que dava para escrever mais dez livros.
Qualquer cinéfilo atento às vidas da capital do cinema sabe que por ali não moram propriamente “anjos” e que a vida familiar de Marlon Brando foi bastante conturbada e a sua carreira repleta de sobressaltos, mas ler este livro da autoria de Darwin Porter revelou-se uma leitura bastante penosa, deixando-me incrédulo muitas vezes com o que lia. Se o leitor destas linhas pretende ler uma biografia desse enorme actor de Hollywood, um dos melhores representantes dessa arte denominada “o método”, recomendamos vivamente o livro “Canções que a Minha Mãe me Ensinou”, escrito a duas mãos por Marlon Brando e Robert Lindsey e depois temos sempre esses filmes inesquecíveis que Marlon Brando nos deixou e onde nos revela todo o seu talento, sugiro que comecem pelo genial “Julio César”/ “Julius Caesar” de Joseph L. Mankiewicz.
Rui Luís Lima
Darwin Porter - (1937)
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