“O Solteirão e a Pequena” / “The Bachelor and The Bobby-Soxer”
(EUA – 1947) – (95 min. - P/B)
Cary Grant, Myrna Loy, Shirley Temple, Ray Collins, Rudy Vallee.
Irving Reis iniciou a sua actividade no cinema como director de fotografia, passando mais tarde para a escrita de argumentos, ao mesmo tempo que durante as décadas de 20/30 do século passado dava os primeiros passos na arte da realização. Embora apenas tenha assinado dois filmes em vinte anos, ao entrar nesses saudosos anos quarenta irá dirigir 15 longas-metragens, desenvolvendo uma actividade onde assinou o mais diverso género de filmes, no entanto a morte virá travar a sua ascensão, ceifando-lhe a vida aos quarenta e sete anos de idade.
“O Solteirão e a Pequena”, título dado em Portugal a “The Bachelor and the Bobby-Soxer”, traduz-se numa irresistível comédia, onde mais uma vez Cary Grant revela todo o seu talento na denominada ”screwball comedy”, na pele de um pintor solteirão, que atrai sarilhos nos locais onde se encontra, embora sempre contra sua vontade. E, quando menos espera, irá conhecer a temível Juíza Margaret Turner (Myrna Loy), que avisada antecipadamente dos feitos do acusado pretende aplicar-lhe uma pesada pena de prisão, devido a desacatos ocorridos num clube nocturno. No entanto, o cativante Richard Nugent (Cary Grant) irá conseguir sair em liberdade depois de ter exposto a sua versão dos acontecimentos embora, como lhe diga a Juíza, é a última vez em que consegue sair ileso num tribunal presidido por ela.
Nesse mesmo dia, o célebre pintor irá dar uma conferência numa escola secundária, cativando de imediato a audiência de jovens, que esperavam encontrar um velhote e se deparam com um verdadeiro sedutor bem-falante. A adolescente Susan Turner (Shirley Temple), irmã da Juíza, fica de imediato apaixonada pelo pintor e, após a conferência, decide entrevistá-lo para o jornal da escola. Richard Nugent (Cary Grant) aceita contrariado dar a entrevista, desconhecendo a identidade da jovem, que não esconde a paixão que sente por ele, informando nessa noite a irmã que pretende ser modelo, iniciando-se assim uma série de peripécias que levarão de novo Richard Nugent a prestar contas com a justiça, depois de a jovem ser encontrada a dormir no seu apartamento.
Como é que ela conseguiu isso? É simples caro leitor, a bela Susan descobriu a morada de Richard, fazendo-se passar por modelo, vestindo uma indumentária de acordo, que lhe dava um ar mais velho, introduzindo-se no apartamento graças à ajuda do porteiro, que estava habituado a acompanhar os modelos até ao apartamento, quando o pintor estava ausente. Como ele não havia maneira de chegar, Susan termina por adormecer no sofá e quando Richard Nugent regressa a casa não a vê, só a descobrindo quando o apartamento é invadido pela temível Juíza, o Procurador e a polícia.
Colocado atrás das grades e acusado de desvio de uma menor, o galante pintor encontra-se em maus lençóis e será o psiquiatra do tribunal que, após conversar com ele, percebe que tudo não passa de um terrível equívoco, mas temendo a reacção intempestiva da jovem, que por acaso até é sua sobrinha, decide oferecer-lhe uma proposta que ele terá que aceitar: começar a acompanhar a jovem como se fosse seu namorado, até ela perder o interesse nele. Contrariado, Richard Nugent (Cary Grant) aceita o jogo e tudo fará para a desapontar. A Juíza Margareth Turner, ao conviver com ele, sempre de olho na irmã, começa a sentir uma certa afeição por aquele cavaleiro andante, chegando a vê-lo em sonhos, tal como a irmã, a envergar uma resplandecente armadura.
Irving Reis irá construir sequências verdadeiramente hilariantes, principalmente durante o piquenique, onde iremos ver o pintor a competir com o Procurador, nas diversas provas, perdendo-as todas, até chegar à derradeira e mais importante, que será ganha finalmente por ele, após a jovem Susan (Shirley Temple) ter pago aos outros concorrentes, seus colegas da escola, incluindo o seu ex-namorado (Rudy Vallee), para eles falsearem o resultado da prova.
A pouco e pouco a Juíza começa a sentir o seu coração a pender para o desafortunado Richard, que tudo aceita para não regressar à prisão. E será o seu tio, o psiquiatra, que irá convocar a psicanálise para o écran, muito em moda nesses anos, desvendando a solução para aquele terrível imbróglio.
Cary Grant, mais uma vez, está como peixe na água, enquanto Myrna Loy cumpre com o papel que lhe foi oferecido, já Shirley Temple encontrava-se nessa temível fronteira em que deixara de ser a menina-prodígio da América, pois chegara à adolescência e como todos sabemos foram inúmeras as estrelas que brilharam em crianças e chegadas à fase adulta perderam o fascínio, o que foi o caso dela, porque na verdade nem todas se podiam chamar Elizabeth Taylor.
“O Solteirão e a Pequena” / “The Bachelor and the Bobby-Soxer” revela-se assim uma irresistível comédia, que bem merece ser descoberta pelos cinéfilos, tendo ganho o Oscar do Melhor Argumento, tal é a forma sofisticada como foi elaborado.
Rui Luís Lima
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