Joe Gores
“Hammett”
Páginas: 296
A Regra do Jogo
Tal como Dashiell Hammett, também Joe Gores exerceu a actividade de detective em S. Francisco, antes de se dedicar à escrita, revelando-se bem cedo como um admirador desse célebre escritor norte-americano, que revolucionou o romance policial e desde cedo ficou na lista negra do temível J. Edgar Hoover.
Joe Gores escreveu “Hammett” em 1976 e, alguns anos mais tarde, o romance irá despertar o interesse de Wim Wenders que irá realizar o filme, tendo em Frederick Forrest um perfeito Dashiell Hammett. Mas infelizmente a película foi rodada no período mais conturbado da Zoetroppe Films de Coppola, que se encontrava a trabalhar em “One From The Heart” / “Do Fundo do Coração”, com Frederick Forrest a participar nos dois filmes como protagonista. Francis Ford Coppola não gostava do que via nas “rushes” da película de Wim Wenders e decidiu remontar o filme, terminando por nunca sabermos o que pertence a um e a outro, embora o resultado final seja bem positivo.
Já o livro de Joe Gores (que nos deixou em 2011, precisamente 50 anos depois de Hammett) oferece-nos uma viagem pelo interior do universo de Dashiell Hammett, desde a forma como abordava as suas short-stories e romances, passando pela sua actividade como detective, até ao seu relacionamento com as mulheres. “Hammett” é muito mais que um simples romance policial, porque por aqui passam afluentes literários que conduzem o romance ao grande oceano literário.
A admiração de Joe Gores por Dashiel Hammett irá conduzir a que venha a escrever em 2009 uma “prequela” do famoso “O Falcão de Malta” / “The Maltese Falcon”, intitulada “Spade & Archer”. Recorde-se que o Op de que fala Hammett, no excerto que reproduzimos, irá servir de modelo ao detective Sam Spade, que foi protagonizado no cinema por Humphrey Bogart.
Rui Luís Lima
Joe Gores
(1931 - 2011)
“Num gesto de impaciência, Dashiell Hammett atirou para o lado o Black Mask de Dezembro de 1927. Precisava de uma nova complicação, uma outra cena que mostrasse o Op a fazer aquecer aquilo em Poisonville, para que as quatro novelas publicadas pudessem funcionar como romance. E como o livro, intitulado Ceifa Vermelha, já estava programado para publicação, tinha de despachar-se a escrever as cenas suplementares.
Desatou a andar de um lado para o outro no pequeno living atulhado. E se…não, não ía dar. Mas…
Sim, claro. Talvez um combate de boxe. Boa. Para aí numa barraca de feira ou coisa assim, fora da cidade. Mas depois, como fazer do Op o catalisador da coisa…
Hammett parou para consultar o relógio de pulso. Ainda dava para ir à Steiner Street buscar uma entrada para o combate da noite no Winterland. Abrira há pouco tempo, ainda nem conhecia aquilo por dentro. Portanto, por que não? Era capaz de ficar com umas ideias com que pudesse trabalhar na Ceifa Vermelha na sessão de escrita dessa noite.”
Joe Gores
in “Hammett”
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