segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Philippe Sollers - "A Estrela dos Amantes"


Philippe Sollers
"A Estrela dos Amantes"
Páginas: 150
Teorema

Na net é possível encontrar diversos inquéritos ou questionários, se preferirem, sobre a relação dos leitores com os livros e um dia encontrei uma questão que passo a reproduzir: "Considerando que o primeiro livro da tua estante é a letra “A”, o segundo a letra “B” e por aí adiante, tira o livro correspondente à primeira letra do teu nome, depois abre na página correspondente à soma do mês e dia em que nasceste. Qual é o quarto parágrafo?"

Ao ler esta pergunta sou obrigado a encará-la como uma espécie de equação "matemática" que, de imediato, ao contrário do que se julga, pratica a exclusão. E digo isto porque seguindo os dados indicados para a escolha do livro ou melhor os passos em volta da minha biblioteca, retirei o livro correspondente. E convém dizer que por razões de espaço ou a falta dele os meus livros espalham-se pelos móveis sem ordem definida, mas por tamanho, de forma a utilizar o máximo de espaço possível.

Ao retirar o livro em questão descobri que se tratava de "Paradis", de um autor muito querido, Philippe Sollers, e a resposta à questão “literária” tornou-se impraticável, pois o genial "Paradis" não possui parágrafos, aliás não tem qualquer sinal de pontuação, é para se ler devagar, utilizando o leitor a sua respiração para fazer a respectiva pontuação ou seja sentir esse prazer do texto de que Roland Barthes falou/escreveu.

"Paradis" foi publicado inicialmente em formato de folhetim, ao longo de quatro anos na revista "L'Infini", da qual Philippe Sollers é o principal "animador". Recorde-se que "L'infini" sucedeu à famosa revista "Tel quel", que agitou e de que maneira as águas francesas da literatura e não só, ao navegar por outros oceanos. Mas se desejar conhecer este romance de Philippe Sollers, leia primeiro "Sollers écrivain" de Roland Barthes, recentemente reeditado pela Points.

Voltando à equação desta pergunta, percebi que tinha obtido um resultado, o escritor chama-se Philippe Sollers e é um nome incontornável da literatura. Sendo assim, decidi ir buscar um dos poucos livros editados em Portugal de Philippe Sollers intitulado "A Estrela dos Amantes" (*) e confesso que apenas conheço três, já a minha pequena biblioteca conta com mais de 30 e a culpa do meu "encontro" com ele foi um quadro de Pablo Picasso que surge na edição de bolso (o famoso formato, tão desprezado em Portugal) de "Femmes". Aqui vos deixo um pouco da escrita desse genial escritor que é urgente (re)descobrir e editar no nosso país.

(*) - Este livro foi descoberto na estação de comboios do Rossio ao preço de 1 (um) euro e consegui tirar o autocolante com o preço da capa sem a danificar, o exemplar estava mais que novo!

Rui Luís Lima

Philippe Sollers
(1936 - 2023)

«Para atingir a compreensão, dizem os textos antigos, é preciso olhar a estrela do Norte virando-se para sul. Olha, é fácil e ocorre-nos por intuição. O mundo é um teatro, podemos vê-lo de todo o lado, numa sucessão. Não é por eu estar aqui que não estou lá em baixo. O passado muito antigo está pertíssimo. Eu sou ondulante, diverso, possuo mais recordações de que se tivesse seis mil anos. Assim habitei a pequena rua dos Alquimistas em Praga. O meu amigo K. e eu íamos aos bordéis da cidade, mas não fiquei por muito tempo, tinha de regressar a Paris.»

Philippe Sollers
in “A Instrução dos Amantes”

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