1. - O chamado “film noir” é um género cinematográfico que nos últimos anos estacionou a nível de produção de qualidade, acabando por ser revisto em alta por dois homens de mesmo apelido: Coen. Joel seria o realizador e Ethan o produtor, sendo o argumento escrito por ambos.
"Sangue por Sangue" /
"Blood Simple"
“Blood Simple”/”Sangue por Sangue” é uma película cheia de referências e coberta pelo pó da memória do policial americano (quem se recorda de “O Arrependido”/”Out of the Past” de Jacques Tourneur?) dos anos 40/50. O próprio título “Blood Simple” é uma citação do grande Dashiell Hammett e os elementos utilizados são os que deram fama ao tema: o detective, a mulher, o amante e a noite. Rodando a história à volta deste quarteto, encontramo-nos cúmplices da paisagem coberta de néon, onde o detective tipicamente texano, o seu chapéu é um “ícon” perfeito, se transforma no assassínio.
Estamos, assim, perante a situação de dar as cartas com os trunfos trocados e mal marcados, onde a esposa foge com o amante, que é empregado do marido, enquanto este contrata um detective para terminar com o romance. A desconfiança mútua é uma constante e as situações criadas, por coincidência do destino, acabam por alterar todo o sentido do filme, inicialmente delineado.
As sequências iniciais (a viagem pela estrada fora, pela noite dentro) e finais (o duelo derradeiro e a morte do detective), obrigando-nos a não mexer um único músculo, tal é a tensão que invade o espectador revelam-se de antologia. Vinte e Cinco anos depois e em plena consagração do cinema dos irmãos Coen, foi reposta uma nova cópia da película, para os mais desatentos redescobrirem a película.
"Arizona Júnior" /
"Rising Arizona"
Após a estreia dos irmãos Coen na longa-metragem com “Blood Simple”, muitos ficaram admirados ao verem a sua obra seguinte intitulada “Arizona Júnior”/”Rising Arizona”, onde a câmara é, também ela, um dos actores da película. Surge desta forma a vertente das comédias negras na obra dos irmãos Coen, que irá ser explorada ao longo dos anos.
Nicolas Cage é um presidiário de delitos menores, que se apaixona pela mulher polícia que encontra na esquadra (Holly Hunter), terminando por se casarem mas a cegonha nunca mais chega e para “grandes males grandes remédios”, decidem raptar um bebé recém-nascido, que possui muitos mais irmãos da mesma idade, poderemos assim dizer abençoada “clonagem”, recomeçando desta forma a sua vida no crime. O assalto ao supermercado para roubarem fraldas para a criança é de antologia!
"História de Gangsters" /
"Miller's Crossing"
Ainda um pouco desorientados com o universo dos irmãos Coen, vimos nascer um dos seus mais belos filmes possuidor, mais uma vez, de uma sequência merecedora de fazer parte de uma Enciclopédia Mundial do Cinema. A película, como devem estar recordados, é “História de Gangsters”/”Miller’s Crossing” com um Gabriel Byrne no seu melhor desempenho de sempre e um Albert Finney inesquecível.
Estamos assim perante um cenário operático com referências directas a “O Padrinho” de Francis Ford Coppola e perante um então desconhecido John Turturro que, ao ser abatido no bosque (a tal cena antológica), não vimos o seu corpo a ser atingido, mas sim o seu chapéu a percorrer o bosque ao sabor do vento, tudo indicando que ele acabara de ser morto.
"Barton Fink"
E quando todos esperávamos por mais uma comédia negra, os irmãos Coen decidem oferecer a John Turturro a oportunidade de vestir a pele do dramaturgo de “Barton Fink” que, perante o seu sucesso no Teatro é de imediato convidado por Hollywood como argumentista, como sucedia nesses anos do Reino de Hollywodd, terminando o escritor por mergulhar no bloqueio criativo, ao mesmo tempo que a sua história parte para caminhos “subterrâneos”, no interior do quarto que lhe é destinado no hotel.
Num dos momentos marcantes deste filme assistimos ao confronto entre o argumentista e o podutor, tendo os célebre prazos e as conhecidas alterações no argumento como “leitmotiv”, terminando barton Fink por se cruzar com um outro argumentista, que não larga a sua garrafa de whisky, que nos faz recordar chamado William Faulkner, que um dia disse nos Estúdios que ia para casa escrever o argumento da película que lhe fora destinada e quando duas semanas depois o produtor o procurou no hotel, descobriu alarmado que ele não se referia ao seu quarto de hotel, mas sim à sua casa no Mississipi.
"O Grande Salto" /
"The Hudsucker Proxy"
Seguindo as regras do jogo instituídas por Joel e Ethan Coen na sua filmografia, a obra seguinte seria essa deliciosa comédia intitulada “The Hudsucker Proxy”/”O Grande Salto” com o Paul Newman e o Tim Robbins e que nos relata a história secreta da origem do “hulla-hop”, que surge como uma maravilhosa sátira ao capitalismo. E, mais uma vez (como não podia deixar de ser), os irmãos Coen alteram por completo o rumo previsto pela obra anterior, partindo para aquele que é o nosso filme favorito: “Fargo”!
"Fargo"
A acção da película situa-se no gelado Minnesota, com uma Frances McDormand fabulosa na interpretação da mulher-polícia grávida que investiga o rapto e posteriores crimes que surgem na pacata e tranquila região. Mas, acima de tudo, é o ambiente peculiar desta região e os habitantes das famosas “little town” que são retratados da forma mais genuína possível. Se o leitor seguir pela estrada fora, através dessa América profunda, irá certamente encontrar as personagens reais de “Fargo”.
E foi assim que Joel Coen e Ethan Coen chegaram à noite dos Óscares, conquistando o Oscar para o Melhor Argumento Original, assinado por ambos e como numa casa que se preze a esposa também é dona dos seus trunfos, Mrs Frances McDormand, esposa de Joel Coen, levou a estatueta para a Melhor Actriz Principal. “Fargo” é uma daquelas obras-primas que nunca nos cansamos de rever e simultaneamente um “cult-movie” para muitos!
"O Grande Lebowski" /
"The Big Lebowsky"
2. - Depois da grande consagração obtida nessa noite dos Oscars, nasceu “The Big Lebowski”/ ”O Grande Lebowski”, que aborda a questão de confusão de identidades, mas no interior desse género tão querido dos irmãos Coen: a comédia negra por excelência, possui um trunfo de ouros no protagonista escolhido ou seja esse espantoso actor chamado Jeff Bridges!
Jeff Lebowski é um desempregado, conhecido como “The Dude”, fanático jogador de “bowling”, que possui em walter Sobchak (John Goodman) o seu amigo do peito, sempre com uma solução perigosa para todos os desastres, mesmo quando não há volta a dar ao problema. The Dude (Jeff Bridges), como é conhecido entre os amigos, é confundido com o multimilionário Jeffrey Lebowski, a quem um bando pretende cobrar uma daquelas dívidas que só os Coen poderiam alguma vez imaginar.
Por outro lado iremos descobrir nesta película uma curiosa personagem interpretada por Julianne Moore, onde podemos descortinar uma crítica mordaz à nova geração de artistas que pulula por Los Angeles e por esse universo fora, com as suas obras de “Arte”.
"Irmão, Onde estás?" /
"O Brother, Where Are Thou?"
Se até aqui John Turturro era um dos elementos da “família” dos irmãos Coen, sendo o outro elemento Steve Buscemi, com a feitura de “Irmão, Onde Estás?”/ ”O Brother, Where Art Thou?”, George Clooney irá passar a ser um elemento preponderante na filmografia de Joel e Ethan Coen e aqui iremos encontrar uma soberba revisão de “A Odisseia”, transportada para o interior da famosa América dos gangsters, onde não falta o famigerado “Ku Klux Klan” e os recém-nascidos “blues”, numa perfeita simbiose, ao mesmo tempo que nos narra a loucura com uma simples canção transmitida pela rádio.
Os três homens em fuga da prisão são liderados pelo famoso e brilhante Everett (George Clooney), que até dorme com uma rede no cabelo, para manter o seu ar galã, nunca dispensando a sua brilhantina para ter um ar mais belo. Teremos ainda um tesouro escondido que se pretende recuperar, uma esposa para ser reconquistada (sem dúvida a Penélope de Ulisses), mais as suas crianças. Mas este “perigoso” trio de fugitivos de uma prisão do Mississipi irá ser perseguido ao longo do “movie” pela polícia até que, quando tudo parece perdido, um abençoado diluvio tudo lavará sem “pecado”, numa sequência inimaginável!
"O Barbeiro" /
"The Man Who Wasn't There"
Quando mais uma vez se pensava que Joel e Ethan Coen tinham abandonado o “film noir” para sempre, nasce “O Barbeiro”/”The Man Who Wasn’t There”, uma fabulosa película a preto e branco, como mandam as regras e com um Billy Bob Thorton único, ao compor uma personagem que praticamente não fala (os Coen chegaram a referir numa das muitas entrevistas dadas, aquando da produção, que ele era detentor dos diálogos mais curtos de uma personagem principal) e, na verdade, o “hum, hum” constante e aquele cigarro sempre na boca falam por si. Recorde-se como curiosidade que Billy Bob tinha deixado de fumar e os manos decidiram testar a sua vontade em deixar o vício do tabaco, ao longo da rodagem do filme.
Evocando as regras que regiam os filmes da época, em que o famoso código Hays ditava a lei, como se se tratasse de um Deus vigiando os sacrilégios da pecadora Hollywood, em que os culpados teriam que ser sempre castigados. O fatal destino do apagado barbeiro Ed Crane (Billy Bob Thorton) acabaria por surgir nesse verão de 1949, quando menos se esperava, acusado de um crime que não cometera.
Apesar de se tratar de uma verdadeira obra-prima, “O Barbeiro” permanece na filmografia dos irmãos Coen como o filme menos conhecido de todos os que realizaram e bem merece ser redescoberto, porque se trata de um verdadeiro diamante em bruto, que vai sendo trabalhado ao longo da película, até se tornar nessa jóia de estimação que se guarda para sempre no coração da cinefilia.
"Crueldade Intolerável" /
"Intolerable Cruelty"
Perante o carisma que cobria os Coen os Estúdios não hesitaram em entregar-lhes um argumento que andava perdido pelos gabinetes à longos anos, tratava-se de “Crueldade Intolerável”/”Intolerable Cruelty”, sendo o par protagonista constituído por dois nomes sonantes do firmamento de Hollywood: George Clooney e Catherine Zeta-Jones.
Ela é uma caça fortunas, que acusa o marido de adultério, para lhe ficar com o vil metal e ele o advogado da dita fortuna, mas quando todos se encontram com os respectivos advogados, para tratarem do divórcio, a tal faísca irá tomar conta do coração dele e apesar de ele sair vencedor no processo, ela passará a dar as cartas nesse jogo terrível do amor, usando a sua beleza para se vingar do belo advogado que lhe fez perder uma fortuna.
"O Quinteto da Morte" /
"The Ladykillers"
3. - Todos sabemos que Hollywood sempre foi uma apaixonada por “remakes” e o célebre “O Quinteto era de Cordas” possuía todos os ingredientes para entusiasmar Joel e Ethan Coen a fazerem uma nova versão do conhecido clássico britânico, nascendo assim “The Ladykillers”, tendo Tom Hawks no lugar que outrora pertenceu ao famoso Alec Guiness. Como muitos devem estar recordados a “velha senhora” que irá alojar a perigosa quadrilha, sabia muito mais do que parecia e eliminá-la vai tornar-se uma tarefa (im)possível?
"Paris, je t'aime"
(Segmento: "Tuileries")
Nos anos 60/70 do século passado (soa mesmo mal, século passado), o filme de “sketches” teve uma enorme divulgação, tendo por diversas vezes cineastas de enorme renome associado o seu nome ao género. Mas dos filmes que então foram realizados “Paris Vu Par” foi, de todos eles, o que maior reconhecimento foi tendo ao longo dos anos pela crítica e também pelo público cinéfilo e certamente por esta mesma razão, Joel e Ethan Coen decidiram associar-se ao projecto “Paris, Je T’aime” em que vinte cineastas, das mais diversas origens geográficas, decidiram homenagear a cidade de Paris, também conhecida como a cidade do amor.
Mike Figgis, Christopher Doyle, Michel Gondry, Sally Potter, Walter Sales, Olivier Assayas, entre outros, irão oferecer-nos histórias passadas nos diversos bairros de Paris, tendo os irmãos Coen optado pelo 1º arrondissement e como gostam de sabotar as regras do jogo, decidiram fazer o seu pequeno filme não à superfície, mas situando-a no interior de uma estação do metropolitano. Iremos assim descobrir Paris com o inevitável turista americano, meio perdido a assistir a uma bela discussão entre dois namorados, no interior de uma estação do Metropolitano Parisiense que, ao repararem nele no outro lado da plataforma, decidem usá-lo na contenda, para mal dos seus pecados.
"Este País Não É Para Velhos" /
"No Country For Old Men"
Se a Academia de Hollywood já tinha reconhecido o valor de Joel Coen e Ethan Coen no universo cinematográfico, seria no entanto com a passagem ao cinema do livro de Cormac McCarthy, “No Country for Old Men” / “Este País Não é Para Velhos”, que pela primeira vez eles sairiam do famoso Auditório como os grandes vencedores da noite, ao recebem quatro Oscars, depois de estarem nomeados para oito: melhor filme, melhor realização, melhor argumento adaptado e melhor actor secundário: Javier Bardem, que na película é muito mais que secundário, sendo um verdadeiro protagonista ou se desejarem o assassino nato. “Este País Não é Para Velhos” / “No Country for Old Men” é uma verdadeira pedrada no charco, surgindo como um verdadeiro e realista “western” contemporâneo.
Tudo começa com uma mal sucedida transferência entre traficantes numa zona perdida e inóspita do Oeste americano, que resulta na morte de todos os seus intervenientes, deixando ao abandono o produto, a célebre heroína e uma mala contendo apenas dois milhões de dollars, que irão ser encontrados por mero acaso por Llewelyn Moss (Josh Brolin), que tudo fará para ficar com o dinheiro. Mas com quem ele não contava era com o assassino profissional Anton (Javier Bardem), que não olha a meios para atingir os fins, utilizando métodos muito pouco ortodoxos. Esta carnificina irá despertar a atenção do velho xerife da região, o conhecido Ed, que irá seguir não o cheiro do dinheiro, mas sim o rasto do sangue deixado pelas mortes que se vão sucedendo ao longo da películ, todas elas exibindo uma violência extrema.
“No Country for Old Men” surge assim como a película do conjunto da obra dos irmãos Coen onde a violência é protagonista, deixando o espectador perfeitamente em transe, ao mesmo tempo que a interpretação de Javier Bardem é memorável.
"Cada Um o Seu Cinema"
(Segmento: "World Cinema")
Para comemorar os seus 60 anos, o Festival de Cinema de Cannes, o mais importante realizado na Europa, decidiu através dos seu director Gilles Jacob, convidar 33 cineastas para cada um apresentar uma sequência de três minutos, dando as diversas curtas-metragens origem a uma película de longa-duração, devendo cada uma delas ter uma referência a esse local de magia conhecido como sala de cinema. Como não podia deixar de ser Joel Coen e Ethan Coen foram uns dos eleitos, tendo apresentado o segmento “World Cinema”, bem divertido e que tem um inesquecível Josh Brolin como protagonista.
"Destruir Depois de Ler" /
"Burning After Reading"
4. - Após o memorável “No Country for Old Men” / “Este País Não é Para Velhos”, Joel e Ethan Coen decidiram regressar ao seu tão característico território da comédia ao assinarem a película “Destruir Depois de Ler” / “Burning After Reading”, convidando mais uma vez o bem conhecido George Clooney para protagonista. E segundo eles este filme concluiu a “trilogia idiota com Clooney”. Recorde-se que os outros dois filmes são “Irmão Onde Estás?” / “O Brother Where Art Thou” e “Crueldade Intolerável” / “Intolerance Cruelty”.
Quando alguém nos fala em filmes sobre a CIA, de imediato a nossa memória nos envia para essa obra-prima de Sydney Pollack intitulada “Os Três Dias do Condor” ou o filme de Tony Scott, “Jogo de Espiões”. Mas os irmãos Coen decidiram oferecer-nos um olhar mordaz sobre a famosa Agência de Informação, através do inenarrável “Destruir Depois de Ler” / “Burning After Reading”, onde iremos acompanhar o destino trágico de um espião que é convidado a abandonar a famosa Agência de Espionagem e que, como não podia deixar de ser, decide vingar-se dela, mas pelo caminho irá descobrir que tal como a Agência também a sua mulher o decide trair e pedir o divórcio, para ajudar ao seu destino trágico e final, as suas revelações gravadas num cd irão viajar para outras mãos, que pretendem tirar o habitual usufruto monetário do mesmo.
A forma como nos é oferecido o modo de funcionamento dos diversos serviços secretos em contenda, porque nestas coisas como nos ensinou John Le Carré nos seus livros, a partir do momento em que confiamos em alguém, estamos irremediavelmente perdidos!
"Um Homem Sério" /
"A Serious Man"
Mas se se pensa que Joel Coen e Ethan Coen já exploraram todos os cenários ao longo da sua inesquecível filmografia, está muito bem enganado porque, ao realizarem esse filme intitulado “Um Homem Sério” / “A Serious Man”, uma dessas comédias bem negras em que os primeiros minutos do filme não têm legendas (na versão portuguesa ao contrário da versão francesa) sendo a língua utilizada o célebre ídiche (judaico), para mais tarde irmos acompanhar a vida atribulada do judeu Larry Gopnick (Michael Sterhlberg), um professor de física, que nos faz lembrar muitas vezes alguns personagens dos filmes de Woody Allen, e para quem a verdade é a palavra absoluta.
O pobre professor Gopnick irá ver a sua mulher trocá-lo pelo seu melhor amigo, que lhe irá apresentar de forma “filosófica” as razões para tal lhe ter sucedido; um aluno tenta suborná-lo; a filha rouba-lhe dinheiro para fazer uma operação ao nariz, a fim de eliminar esse célebre sinal fisionómico que caracteriza a maioria dos judeus (recorde-se que Joel e Ethan Coen são judeus); o filho tem por passatempo escutar as canções de “sex, drugs and revolution” dos Jefferson Airplane na Escola Judaica; o seu vizinho é um elemento da extrema-direita que, como não podia deixar de ser, prega o extermínio; um Clube de Discos telefona incessantemente para sua casa a pedir o pagamento de prestações em atraso que ele desconhece e por fim começam a ser enviadas cartas para o seu local de trabalho (a Escola) a difamarem-no.
Para tentar perceber a razão por que é perseguido de forma tão injusta por Deus, procura uma explicação junto do Rabino, mas a complexidade que por vezes assalta as religiões irá estar mais uma vez bem patente para desespero deste tranquilo homem sério, que nunca prejudicou ninguém e ama profundamente a humanidade. Com “Um Homem Sério” / “A Serious Man” Joel e Ethan Coen assinam uma das suas melhores obras cinematográficas de toda a sua filmografia.
"Indomável" /
"True Grit"
5. - Ao chegarmos a 2010 Joel e Ethan Coen decidem abordar um género bem clássico do cinema e cada vez mais esquecido pela Indústria de Hollywood, o famoso “western” que tantas emoções ofereceu aos espectadores do século passado e nada melhor do que fazer um “remake” de um filme protagonizado pelo mais célebre cow-boy de todos os tempos, estamos a falar desse actor chamado John Wayne que melhor do que ninguém protagonizou inúmeras personagens do velho Oeste, sendo a película escolhida o conhecido “True Grit” / “A Velha Raposa”, realizado por Henry Hathaway.
O “remake” de Joel e Ethan Coen irá optar pelo mesmo título do “western” homenageado, ou seja “True Grit”, embora a distribuição portuguesa tenha decidido alterar o título da película de “A Velha Raposa” para “Indomável”, embora nada de mal venha ao mundo por isso, também não custava nada manterem “A Velha Raposa”, já que os irmãos Coen seguem à risca o filme original, sendo a personagem do célebre Marshal Rooster Cogburn, anteriormente interpretado por John Wayne, entregue de forma perfeita a esse magnifico actor chamado Jeff Bridges, que está insuperável na interpretação que nos oferece, o mesmo sucedendo a Matt Damon e Josh Brolin.
Ao mergulharem o seu cinema de autor no universo do “western” Joel e Ethan Coen escolheram uma película com todos esses atributos que caracterizaram o “western clássico”, a sede de justiça, neste caso de uma adolescente que pretende vingar a morte do pai, perante a ineficácia da justiça dos homens. Em “True Grit” / “Indomável” vamos, mais uma vez, encontrar todos os ingredientes que caracterizam a célebre marca de autor do cinema dos irmãos Coen, seja qual for o género abordado, eles deixam sempre a sua marca de água nas películas que nos oferecem.
"A Propósito de Llewyn Davis" /
"Inside Llewyn Davis"
Três anos passaram desde a feitura de “True Grit” e o nascimento de “A Propósito de Llewyn Davis” / “Inside Llewyn Davis” revela-se uma surpresa gratificante ao narrar-nos a história de um cantor folk no início da década de 60, nessa época em que este género musical começava a despertar as atenções dos produtores musicais, fruto da aceitação por parte de toda uma jovem geração, que via nestes músicos munidos de uma simples guitarra e excelentes poemas, quase sempre da sua própria autoria, a abrirem as portas para novos universos em que se falava do amor, mas também da sociedade em que se vivia e nunca é demais referir que um dos principais centros foi Greenwich Village, sendo precisamente aqui que iremos acompanhar a vida de Llewyn Davis, que tem o desejo de se tornar músico profissional, mas que irá perceber como por vezes é árdua a tarefa de realizar um sonho, até chegar a oportunidade de ter uma audição em Chicago, com o célebre produtor Bud Grossman.
A forma como Joel Coen e Ethan Coen nos oferecem esses tempos é inesquecível, assim como a serena interpretação de Oscar Issac, baseando-se o argumento da película na vida do cantor folk, Dave von Ronk.
"Salve César!" /
"Hail, Caesar!"
E mais três anos se irão passar para termos um novo filme de Joel Coen e Ethan Coen, mas a espera valeu a pena, porque se por um lado tivemos a passagem a série de televisão de “Fargo” possivelmente o mais famoso filme dos irmãos Coen, por outro com este “Salvé, César!” / “Hail, Caesar!” em que mergulhamos de novo no interior da Indústria cinematográfica de Hollywood, e dizemos de novo, porque já lá estivemos, com “Barton Fink”, para acompanharmos a rodagem de uma película que nos narra a vida de Cristo, segundo a visão de um legionário romano, na idade de ouro da Hollywood das grandes produções e em que os grandes Estúdios eram verdadeiros Estados, revelando-se muitas vezes os seus Presidentes uns perfeitos ditadores, como sucede no caso concreto de Eddie Manney (Josh Brolin) e onde não faltam todos os elementos que na época povoavam esse território.
Iremos assim ter o realizador, os actores e as suas questiúnculas, as “gossip girls” ou se preferirem as jornalistas sensacionalistas, e até os argumentistas comunistas que decidem raptar a vedeta da película, o famoso Baird Whitlock (George Clooney), que durante o seu sequestro irá ter umas lições de “marxismo” de um humor negro em que o próprio capitalismo fica feito em farrapos e em paralelo iremos ter uma bela homenagem ao musical, porque Hollywood não pára, assim como o poderoso Eddie Mannix (Josh Brolin) que tem de recuperar a estrela, fugir da Imprensa dos mexericos e regressar ao lar, após mais um dia de trabalho na Cidade dos Sonhos!
Joel Coen e Ethan Coen
Com “Salvé, César” / “Hail, Caesar”, Joel Coen e Ethan Coen, essa dupla perfeita da História do Cinema, não pára de nos surpreender. Viajar pelo Cinema dos irmãos Coen é uma maravilhosa e inesquecível aventura, que nos leva a navegar pelo interior desse género que ficou conhecido como “a política dos autores”, que durante décadas alimentou de forma maravilhosa a cinefilia e que se encontra tão esquecida.
Rui Luís Lima
Classificação: 5 estrelas (*****)
ResponderEliminarO cinema dos irmãos Coen é sempre genial revelando ao mesmo tempo que estamos perante um cinema de autor, bem inserido no interior daquilo a que a crítica cinematográfica chamou o "cinema de autor". Esta dupla maravilha tem sempre Joel Coen na realização e Ethan Coen na produção, já os argumentos são escritos a duas mãos por ambos e ainda muitas vezes temos Frances McDormand como intérprete, recorde-se que ela é casada com Joel Coen.
ResponderEliminar