quarta-feira, 18 de setembro de 2024

«Movie-Brats» - Uma Geração que Mudou Hollywood!


«Movie-Brats» - Uma Geração que Mudou Hollywood!

Em finais dos anos sessenta, inícios de setenta do século xx, uma nova geração de cineastas transformou o cinema norte-americano, retirando-o do poço sem fundo onde se instalara após o colapso do sistema dos Estúdios. A maioria destes cineastas vinha da televisão ou da crítica. Eram possuidores de cursos superiores (U.C.L.A) e tinham “background” cinematográfico, ou seja eram cinéfilos. Produziam os filmes uns dos outros e implantaram o estatuto de “família”. A renovação que efectuaram surpreendeu tudo e todos. Acabaram por ficar conhecidos como os “movie-brats”, transformando-se com o passar dos anos numa sólida Instituição Cinematográfica de Hollywood, terminando alguns por receber o estigma de “Mavericks” do Cinema Americano.

Paul Schrader / Martin Scorsese / Robert De Niro

Uma década depois do seu aparecimento, eram eles o que de melhor havia no cinema norte-americano. Stevn Spielberg criou o fenómeno “blockbuster” com “O Tubarão”/”Jaws” e outros como George Lucas ofereceram ao mundo a “space-opera” Star Wars, já a estética hitchcockiana de Brian De Palma utiliza o “remake” / citação” do Mestre do Suspense como referência, John Carpenter por sua vez assume-se como discípulo de Howard Hawks no “Assalto à 13ª Esquadra” / “Assault on Precinct 13” ou Philip Kaufman com “Os Vagabundos de Nova Iorque”” / “The Wanderers”, já Francis Ford Coppola sonhava com uma Zoetrope mítica vestindo a pele “The Last Tycoon”, enquanto John Landis, com “O Filme Mais Louco do Mundo” / “The Kentucky Fried Movie”, vai beber no “universo marxista”, o do Groucho Marx, na magia das suas comédias, oferecendo-nos uma certa anarquia e o “nonsense” necessários à loucura saudável. Por sua vez Peter Bogdanovich, o tal que tratava Alfred Hitchcock e John Ford na primeira pessoa oferece-nos a memória do cinema, mergulhando na comédia de alto nível, filiada no cinema de Howard Hawks. E depois há sempre esse cinéfilo apaixonado chamado Martin Scorsese e a sua trilogia inicial constituída por “Boxcar Bertha” / “Uma Mulher da Rua”, “Mean Streets” / “Os Cavaleiros do Asfalto” e “Taxi Driver”.

George Lucas / Francis Ford Coppola

Muitos deles receberam Óscars, como todos estamos recordados, enquanto outros ficaram presos ao “marketing” que criaram (George Lucas) ou foram triturados pelo sistema, porque sabiam demais (Peter Bogdanovich).

“Asfalto Quente”/”The Sugarland Express”de Steven Spielberg; “Chove no meu Coração”/”Rain People” de Francis Ford Coppola; “O Vendedor de Sonhos”/”Nickleodeon”” de Peter Bogdanovich, “THX 1138” de George Lucas, “Boxcar Bertha”/”Uma Mulher da Rua” de Martin Scorsese, são algumas obras que marcam os primeiros passos dos mais importantes nomes desta geração, que merecem ser redescobertos pelos cinéfilos. Este “quarteto fantástico” irá ter os seus discípulos em nomes como Lawrence Kasdan, Joe Dante e Robert Zemeckis, embora o verdadeiro pai de todos eles seja Roger Corman, o estudo da sua importância no interior do cinema norte-americano ainda está por fazer, já que foi ele que ofereceu aos futuros “movie-brats” os meios necessários para começarem a praticar a sétima arte, percorrendo todos os degraus do ofício cinematográfico.

Brian De Palma / John Travolta

Mas antes de terminar esta breve introdução acerca dos “movie-brats”, gostaria de referir três filmes da década de oitenta, nos quais Steven Spielberg esteve “envolvido” e que marcaram uma nova forma de olhar o cinema, através dessa figura tantas vezes marcante e conhecida pelo nome de produtor.

John Carpenter / Jamie Lee Curtis

No mesmo ano em que realizava “E.T.”, Steven Spielberg produzia “Poltergeist” de Tobe Hooper. E aqui colocou-se a questão da autoria: a assinatura pertence a Tobe Hooper ou a Steven Spielberg? As repostas são diversas, mas a marca de Spielberg é bem evidente, embora as imagens da escrita fílmica de Hooper permaneçam por lá. Sendo esta, possivelmente, uma das razões do “confronto” que opôs os dois cineastas, durante a feitura da película. “Poltergeist” é o regresso ao terror no seu sentido mais puro, utilizando o pequeno écran da televisão como meio instaurador do medo, contendo como sempre a família e as crianças como catalisador de toda a acção.

John Landis / Eddie Murphy

O “remake” foi e é, cada vez mais, uma das fontes de alimentação do cinema contemporâneo, chegando neste século xxi a revelar-se, infelizmente, mais como um fraco expediente, do que essa homenagem a que estávamos habituados, no passado, e também todos sabemos a influência que a televisão teve nos “movie-brats”, isto para não falar naqueles episódios da série “Colombo” realizados pelo estreante Steven Spielberg, que foi buscar Peter Falk (esse magnifico actor pertencente à “família” de John Cassavetes) para interpretar o detective, usando adereços que marcaram o género: desde a beata na ponta dos dedos até à famosa gabardina “imprópria para consumo”.

Peter Bogdanovich / Barbara Streisand

Foi este mesmo Steven Spielberg que, com John Landis, decidiu homenagear uma série de culto da televisão, intitulada “Twilight Zone”/”Quinta Dimensão”. Ora aqui não é do “remake” que se trata, excepção feita no episódio de Spielberg, mas sim de olhar para trás, via” caixa que mudou o mundo”, para descobrirmos no espelho o olhar do encantamento da memória. Recorde-se que por esta série de culto, aquando da sua estreia televisiva, passaram muitos dos grandes nomes da série-B, revalorizados pela crítica cinematográfica muitos anos depois. De referir que Joe Dante e o australiano George Miller são os responsáveis pelos restantes episódios.

Sven Nykvist / Philip Kaufman

Para terminar esta breve viagem pela memória dos “movie-brats”, temos que referir esse fenómeno que se chamou “Gremlins” e que é simplesmente a fusão do maravilhoso com o terror, onde a série-B, mais uma vez, se conjuga com o universo de Walt Disney. “Gremlins”/”O Pequeno Monstro” é a história de dois jovens adolescentes e da sua sossegada cidade, Kingston Falls, em vésperas de Natal, mas também a aventura de “Mogway”, longe do seu lar paterno. E o sossego da “little town” irá acabar por se transformar em aventura, terminando num autêntico pesadelo. Depois seguiu-se a “sequela”, mas isso já é outro fenómeno cinematográfico, fruto da época em que vivemos, em que os resultados de bilheteira decidem ou não a exploração do fenómeno.

Steven Spielberg / Joe Dante

Os “Movie Brats” foram os “Vendedores de Sonhos”, desse tempo em que o cinema se confundia com magia, entrava-se nele pela porta grande do templo cinematográfico e viajava-se com o Douglas Fairbanks, no tapete voador, por essas Arábias onde ainda era possível olhar Aladino e a sua lâmpada mágica!

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. Os "movie-brats" são a geração de cineastas surgida nos anos setenta do século passado, que virão a mudar o panorama do cinema norte-americano e mundial, quase todos eles iniciaram a sua actividade com o produtor Roger Corman e todos eles eram cinéfilos e tendo frequentado a UCLA amavam e conheciam o cinema como poucos. Os seus nomes ficaram para sempre ligados à sétima arte tal como os seus filmes que revelaram verdadeiros autores, segundo a célebre política de autor defendida por uma certa crítica de cinema.

    ResponderEliminar