sexta-feira, 18 de outubro de 2024

André Malraux - “A Esperança” / “L’Espoir”


André Malraux
“A Esperança” / “L’Espoir”
Páginas: 518
Colecção: Dois Mundos
Livros do Brasil

“A Esperança” de André Malraux é um dos mais dramáticos testemunhos da Guerra Civil de Espanha, convidando-nos a descobrir a forma como Franco chegou ao poder no país vizinho, derrubando o legítimo Governo Republicano, com o apoio militar de Hitler (que testou a seu “Blitzkrieg” sobre Guernica e não só), Mussolini (com os seus caças Fiat e tropas regulares no terreno ambicionando anexar Gibraltar) e Salazar, que lhe deu apoio e deixou os bombardeiros alemães com pilotos e mecânicos estacionarem na fronteira, perto de Badajoz.

A leitura deste romance de André Malraux, que combateu ao lado das tropas da República, sendo um dos comandantes das Esquadrilhas Aéreas com os seus aviões repletos de remendos e os seus tripulantes a lançarem as bombas à mão, oferece-nos um relato desta guerra desigual, à qual a Europa fechou os olhos, para só os abrir quando Hitler invadiu a Polónia.

“A Esperança” de André Malraux ombreia ao lado de obras como “Por Quem os Sinos Dobram” de Ernest Hemingway, “Homenagem à Catalunha” de George Orwell ou o recente e pungente testemunho de memórias que é o inesquecível livro de Lydie Salvayre, “Pas Pleurer”, vencedor do Prémio Goncourt, que já foi publicado em Portugal com o título “Nada de Lágrimas”.

Uma última referência para o excelente trabalho de tradução levado a cabo por Judith Cortesão, que nos oferece um imenso conjunto de notas, que nos ajudam a situar e a identificar na história recente os protagonistas deste romance incontornável, sobre um dos conflitos mais mortais do século xx e que muitos decidiram apagar da memória da História.

Rui Luís Lima

André Malraux
(1901 - 1976)

“Diante das vitrinas sombras agitavam-se na neblina e ouvia-se o ruído que faziam ao carregarem e descarregarem pedras da calçada. Na Gran Via, os empregados serviam, com uma estupefacção melancólica, três clientes perdidos na imensa sala, e que pensavam que seriam os últimos clientes da República. Mas na sala de entrada do hotel, os soldados do 5º regimento, um a um, retiravam punhados de balas de grandes sacos, e formavam, por companhias no passeio. Estavam fortemente armados. Em Tetán, em Cuatro-Caminos, as mulheres levavam para o último andar das casas toda a gasolina que tinham podido juntar; nesses bairros operários, render-se, ir-se embora, eram coisas inimagináveis. De camião e a pé, os homens do 5º regimento desciam para Carabanchel, Parque do Oeste e Cidade Universitária. Pela primeira vez, Scali sentia-se perante as energias coordenadas de quinhentos mil homens.”

André Malraux
“A Esperança”
Livros do Brasil

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