John Le Carré
“O Fiel Jardineiro” / “The Constant Gardener”
Páginas: 405
Dom Quixote
A adaptação cinematográfica que Fernando Meirelles fez deste fabuloso romance de John Le Carré, intitulado “O Fiel Jardineiro” / “The Constant Gardener” e se as opções levadas a cabo pelo cineasta brasileiro, cinematograficamente falando, não contemplam o meu olhar cinéfilo, já a forma como foi elaborado o argumento da película, eliminando personagens nada secundárias e revelando demasiado cedo um dos segredos do livro leva-nos a dizer que se viu o filme e não leu o livro, o deverá fazer de imediato, pois estamos perante um dos mais brilhantes romances escritos por John Le Carré.
Desta feita o tema abordado pelo escritor britânico, sempre com enorme acutilância, como era seu hábito e tornando-se muitas vezes em alguém incómodo para o poder instituído por esse mundo fora, conduz-nos até ao Continente Africano e às célebres ONG, que por ali proliferam prestando serviços básicos às populações necessitadas, mas tendo por vezes interesses bem particulares por detrás delas e aqui John Le Carré invade esse território bem (des)conhecido dos grandes potentados da Industria Farmacêutica e dos seus poderosos laboratórios.
John Le Carré
(1931 - 2020)
Mas como não poderia deixar de ser, no final do livro, John Le Carré, para evitar os famosos processos, explica numa nota de autor que apenas terminámos de ler um romance e que se trata de ficção literária, não havendo qualquer similitude com pessoas ou empresas que trabalham em África em prole do bem-estar da humanidade deste Continente. Portanto o caso de se experimentar medicamentos nas populações para depois ver os resultados a fim de os aperfeiçoar e melhorar ou a tão falada oferta de medicamentos já fora de prazo, apenas corresponde à intriga deste romance de ficção.
Por outro lado, todos os acontecimentos que são relatados na Embaixada Britânica em Nairobi, no Quénia, são apenas produto da sua magnífica ficção, que ficaram largamente ausentes do filme de Fernando Meirelles, mas que oferecem um outro olhar ao leitor que viu o filme.
“The Constant Gardener”
Estamos assim perante um dos melhores romances contemporâneo desse genial escritor chamado John Le Carré, que nos vem confirmar a máxima de que para conhecermos um livro não basta ver o filme que foi feito a partir dele, é necessário descobrir cada palavra do escritor e assim percorrer os caminhos Africanos de Justin e de Tessa, conhecer o seu amor e o direito a essa verdade tão incómoda, que alguns pretenderam que ficasse esquecida nas margens do lago, deste extraordinário romance de John Le Carré!
Confesso que irei ter enorme saudade da escrita de John Le Carré agora que ele nos deixou, certamente irei reler todos os romances deste genial escritor que sempre nos fez um retrato acutilante do universo onde nos movemos.
Rui Luís Lima
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