domingo, 12 de janeiro de 2025

Tay Garnett - "O Destino Bate à Porta" / "The Postman Always Rings Twice"


Tay Garnett
"O Destino Bate à Porta" / "The Postman Always Rings Twice"
(EUA – 1946) - (113 min. - P/B)
John Garfield, Lana Turner, Cecil Kellaway, Hume Cronyn.

Tay Garnett é um daqueles cineastas a quem os dicionários de cinema dedicam sempre muito poucas linhas. No entanto, ele irá em 1946 abanar as convenções do cinema norte-americano, ao adaptar a obra “The Postman Always Ring Twice”, que celebrizou o jornalista e escritor de policiais James Cain.


Recorde-se que, já em 1942, Luchino Visconti adaptara esta obra ao cinema, transpondo a acção para Itália, “escondendo” o nome do seu autor em virtude de não ter dinheiro para pagar os direitos do livro, criando com “Obsessão” / “Ossessione” uma das grandes películas do neo-realismo.


“The Postman Always Ring Twice” de Tay Garnett, tal como o romance, situa a acção em plena recessão e narra-nos o amor trágico e proibido de Frank Chambers (John Garfield) e Cora (Lana Turner em todo o seu esplendor, respirando sensualidade por todos os fotogramas).


Frank é um dos muitos desempregados que cruzam aquela estrada, socorrendo-se de boleias, para atingir o “El Dorado” da Califórnia, em busca de trabalho. Mas ao entrar naquele “Diner,” com a respectiva bomba de gasolina à beira da estrada, irá descobrir na bela esposa do proprietário um verdadeiro anjo sedutor, que o irá fazer cair na mais perigosa das tentações. O marido de Cora, muito mais velho que ela, é a ingenuidade feita homem e ao oferecer trabalho àquele desempregado desconhece que está a contratar o futuro amante da mulher.


O envolvimento amoroso entre Cora e Frank é imediato, nascendo no horizonte o desejo de fugirem daquele local perdido no tempo. No entanto irão optar por caminhos ainda mais perigosos, decidindo assassinar o marido incómodo. O plano irá ter sucesso, graças à colaboração de um esperto advogado que os irá ilibar, mas a vida a que aspiram teima em não nascer. E quando tudo parecia finalmente perfeito, um acidente de automóvel irá vitimar a bela Cora, sendo então Frank acusado da sua morte.


A forma como Tay Garnett nos oferece Lana Turner, uma verdadeira felina respirando inocência e sedução em simultâneo, causou um enorme escândalo na época e basta vermos a sua entrada no filme, com os célebres calções, nesse plano inesquecível que começa nas suas pernas e termina no seu rosto angélico, para obtermos de imediato a leitura desse pecado mortal que está para nascer.


Mais de trinta anos depois, em 1981, Bob Rafelson irá oferecer-nos um “remake” do filme, com Jessica Lange e Jack Nicholson nos protagonistas, mas será sempre a película de Tay Garnett a mais perfeita e sedutora adaptação do genial romance de James Cain, “O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes”.


Nota: John Garfield, que aqui nos oferece uma das melhores interpretações de toda a sua carreira cinematográfica, irá ser, poucos anos depois da feitura deste filme, uma das vítimas do Senador McCarty, terminando o actor por se suicidar.

Rui Luís Lima

1 comentário:

  1. Tay Garnett - (1894 - 1977)
    Classificação: 5 estrelas (*****)
    Estreia em Portugal: 20 de Julho de 1947.

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